Com toda certeza você já deve ter ouvido falar sobre marcação a mercado, mas ainda não compreende muito bem o que ela significa e para que ela funciona. Pensando nisso, fiz esse artigo para pontuar os conceitos importantes.
Imagine que você tenha que vender todos os seus títulos ou quotas em fundos de investimento impreterivelmente hoje. Como seria possível calcular quanto você ganha caso vendesse o seu título?
Graças a marcação a mercado é possível encontrar a resposta para essa questão.
O que é marcação a mercado?
A marcação a mercado representa a variação de preços de um ativo disponível para compra ou venda. Ou seja, ela descreve a atualização constante do preço de um ativo que está disponível para negociação.
Seu principal objetivo é atualizar, diariamente, os preços de quotas de fundos de investimentos e títulos de renda fixa. Dessa forma, o investidor saberá o valor ganho caso escolha liquidar suas aplicações naquele momento.
A marcação a mercado é impulsionada por um movimento comum da economia conhecido como lei da oferta e demanda.
Em resumo, isso significa que quanto maior for a procura por um produto ou serviço, maior será o seu preço de mercado. Em contrapartida, quanto menor for a demanda, menor também será o preço.
Mas se engana quem imagina que apenas os conceitos simples de microeconomia que norteiam à marcação a mercado. A macroeconomia também encontra-se presente para a oscilação dos preços. Vejamos como ela atua a seguir.
Exemplificando
Com a pandemia do coronavírus, ocorreu uma extensa instabilidade política e social, fazendo com que o mercado sofresse com a desvalorização dos seus ativos.
Esse efeito acontece devido a muitos fatores, dentre eles o comportamento dos investidores no que podemos definir como “efeito manada”, onde é uma grande onda de desconfiança sobre a rentabilidade futura, e quando decidi fazer algo, todo uma legião segue o mesmo comportamento, muitas vezes liquidando os ativos e resgatando parte do capital investido.
Caso tenha interesse, você poderá entre no site do Tesouro Direto em dias distintos e perceber que a taxa de remuneração (“Rentabilidade anual”) de um título como o Tesouro IPCA+ 2035 oscilaram quase todo dia e, consequentemente, o preço de aquisição deste título (coluna “Preço Unitário”) também oscilaram.
Supondo que você tenha esse ativo em sua carteira, desde que você não o venda, essa oscilação diária de preços não terá impacto financeiro no seu bolso, mas pode ter impacto nas suas emoções.
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Quem realiza a marcação a mercado?
Geralmente, a marcação a mercado é de responsabilidade da entidade emissora. No caso específico dos fundos, ela é feita pelo administrador, que vai precificar as quotas a partir da cotação dos ativos sob custódia.
Para a renda fixa, o mesmo ponto vale, os títulos do Tesouro Direto, por exemplo, tem sua precificação atualizada diariamente pelo órgão emissor, que nesse caso é o Tesouro Nacional.
Função da marcação a mercado
A marcação a mercado visa principal, legitimar a tomada de decisão do investidor frente a oscilação dos ativos. Desse modo, com a marcação a mercado é possível analisar informações e projetar valorizações ou desvalorizações a partir do desempenho do ativo no presente.
Os investidores mais experientes conseguem realizar a análise de desempenho dos ativos, fazendo que tenham o interesse de compra e venda, no mercado primário e secundário. Dessa forma, para aqueles que conseguem entender a importância da marcação a mercado, adquirem mais segurança quando forem liquidar de seus ativos, aguardando um resgate quando os resultados forem mais interessantes.
Além disso, nos fundos de investimento a marcação a mercado atua no sentido de impedir a transferência inapropriada de riqueza entre cotistas, garantindo mais transparência para o grupo.
Marcação a mercado x marcação na curva
Embora pareçam ser similares, é necessário distinguir os dois.
A marcação na curva, ou marcação a juros, descreve a variação de preços, realizada de acordo com as taxas de juros do dia anterior. Ou seja, ela não considera a variação do preço daquele ativo no mercado, ao invés disso utiliza juros para corrigir o valor.
Desse modo, o conceito de marcação na curva é oposto à marcação a mercado, tendo em vista que o preço do título em determinado momento, em alguns casos, não representa o seu valor real. Como resultado, o resgate antecipado de aplicações com esse modelo de marcação pode acabar gerando prejuízos, pois obriga o gestor a vender os títulos com variação dos juros daquele momento.
Além disso, na marcação pela curva é permitida a transferência de riquezas entre cotistas de fundos de investimento, o que pode ser perigoso.
Exemplificando
Imagine que há um título do Tesouro que pague 15% ao ano, caso os títulos que estão disponíveis hoje paguem 8% a.a, será inegável dizer que o título é melhor do mercado. Por conta disso, todos os investidores irão à procura do título fazendo com que todo o mercado queira o mesmo, tornando-se mais valorizado, e permitindo a venda com lucro.
Por outro lado, se há no mercado, títulos de 20% a.a., ninguém irá se interessar pelo título mencionado acima, tendo em vista que há oportunidade melhor, o que nos limita, pois, caso haja interesse em se desfazer do título, com toda certeza teríamos prejuízo na venda, e é aí que entra a marcação a mercado.
Do contrário, se levarmos até o vencimento o título de 15% a.a, a taxa do mercado não será influenciada, tendo em vista esse foi o valor acordado no momento da transação, neste caso teremos a marcação na curva de juros.
O perigo da marcação na curva é a distorção do valor de mercado dos títulos, considerando a volatilidade das taxas de juros.
Além disso, há uma possibilidade de calote, fazendo com que todo o cálculo realizado não tenha validade, pois a outra parte não irá honrar com o compromisso. Pensando nisso, em 2002, o Banco Central do Brasil decidiu banir esse modelo de marcação, tornando a marcação a mercado o caminho oficialmente recomendado no país.
Hoje, as gestoras que desejam operar com marcação pela curva precisam anteriormente obter uma autorização especial do Bacen e comprovar a sua capacidade de manter o preço dos títulos até o vencimento do contrato.
Interferências na marcação a mercado
A oscilação dos preços pode ser justificada por diversos fatores que se encontram no mercado financeiro.
O primeiro deles diz respeito à própria rentabilidade do ativo em questão. No caso dos títulos de renda fixa pós-fixados, por exemplo, o rendimento é calculado a partir da taxa de referência, que pode ser a Selic, o CDI ou o IPCA.
Dessa forma, mesmo que o ganho seja menor diante de uma queda na taxa de juros, o investidor terá um bom retorno, considerando que a taxa de juros permanecerá positiva.
No caso dos títulos prefixados, que tendem a ser vinculados à taxa de juros, existe uma relação direta entre a situação econômica do país no momento da compra e o potencial de ganhos daquele ativo.
Nesses casos, quando o mercado espera uma alta nos juros, a rentabilidade final do título deve subir, enquanto o preço atual dele tende a diminuir. Se a expectativa for de baixa nos juros, a rentabilidade diminui e o preço sobe.
Outro fator que não podemos esquecer é a liquidez, a marcação a mercado acontece com uma frequência diferente para ativos como maior liquidez, como títulos públicos, e com menor liquidez, como, por exemplo, debêntures e fundos de investimento.
Nos investimentos de maior liquidez, a marcação a mercado é mais rápida e se baseia no fechamento dos preços ao fim do dia. O próprio Tesouro Direto divulga esses valores diariamente por meio do programa de compra de títulos do Tesouro Nacional.
Em contrapartida, os investimentos de menor liquidez têm os seus valores marcados de acordo com a estimativa de preço justo para a sua negociação.
Como calcular a marcação a mercado?
O cálculo para marcação a mercado tem algumas variações de acordo com o título em questão. Para calcular a variação para o Tesouro Direto, por exemplo, partimos da seguinte fórmula:
Temos VN, que representa o valor nominal (no caso dos títulos pré-fixados sempre será R$ 1.000), a taxa de juros do período e DU (dias úteis de duração do investimento).
O número 252 da conta representa a quantidade padrão de dias úteis por ano adotado pelo Bacen desde a década de 1980. Assim, o resultado de DU dividido por 252 é a taxa percentual da duração do investimento em relação ao ano fiscal.
O preço se dá, então, pela divisão de VN pelo resultado de 1 + taxa de juros, elevado ao resultado de DU/252.
Para seguir com o cálculo, consideraremos um hipotético título do Tesouro Direto:
Título: Tesouro Prefixado;
Data de vencimento: 02/11/2023;
Data de compra: 04/11/2020;
Dias úteis: 755;
Quantidade adquirida: 1 título;
Preço do título na data da compra: R$ 733,86.
Nesse caso, ao aplicarmos a fórmula, descobriremos que a taxa anual do investimento é de 10,88%.
Vantagens e desvantagens da marcação a mercado
A marcação a mercado é utilizada como padrão de cálculo da atualização de preços em papéis desde 2002, tendo em vista sua segurança e transparência ao investidor.
Com isso, ela garante aos cotistas de um fundo, que tenham lucros ou prejuízos proporcionais, evitando a transferência de riquezas que a marcação de curva permite, sem distorcer o valor dos títulos nas negociações e no portfólio do investidor.
No entanto, nem tudo são flores, havendo também algumas desvantagens.
A marcação a mercado só funciona de maneira ideal se o mercado estiver operando com normalidade e eficiência. Ou seja, quando o investidor se assusta vendo seu dinheiro diminuindo na carteira, tomando decisões inesperadas.
Em grande escala, uma desvalorização dos ativos pode levar os investidores a agirem conforme o “efeito manada” que descrevemos acima.
Como a marcação a mercado afeta os investimentos?
A marcação a mercado no preço dos ativos afeta diretamente o desempenho dos investimentos. Primeiro porque o método serve como um termômetro para o investidor avaliar a rentabilidade de sua carteira, sendo útil para desenvolver projeções de resultados futuros.
Marcação a mercado em renda fixa
O investidor pode escolher títulos públicos e privados de renda fixa que têm seu índice de rentabilidade definido no momento da compra, tais como: CDBs, CRIs, CRAs, Tesouro Direto, LCIs e LCAs.
Esses títulos se dividem ainda em pós-fixados, que são aqueles que pagam uma variação da taxa de juros, e prefixados, que tem seu percentual de retorno pré-determinado no momento do investimento.
No caso dos ativos pós-fixados, o valor é atualizado diariamente e o investidor não tem grandes surpresas caso faça o resgate antecipado do valor.
Marcação a mercado dos fundos de investimento
No caso dos fundos de investimento, a marcação é o que garante que as cotas serão sempre negociadas pelo seu valor de mercado. Isso porque o preço de negociação de cada parte do fundo é definido pela conta proporcional, que busca refletir o valor de todos os ativos que compõem o patrimônio do grupo.
Em outras palavras, caso o investidor queira vender suas cotas, ele receberá o valor por cota referente ao que foi marcado a mercado no último dia de cotização daquele resgate.
Conclusão
Oficializada pelo Banco Central como método oficial de precificação para aplicações, ele descreve a atualização constante do valor de um investimento.
A marcação a mercado auxilia na tomada de decisão quanto à liquidação antecipada, além de garantir mais transparência para os investidores e segurança financeira para o mercado, permitindo que todos ganhem a rentabilidade negociada proporcionalmente ao que lhe é de direito.