Entenda a ata do Copom e a postura Dovish do Banco central

A Ata do Copom divulgada ontem (11) pela autoridade monetária, deixou evidente sua postura “Dovish”’, ou seja, o Banco Central deve manter uma política monetária de estímulos, trabalhando com juros mais baixos, ainda que isso, na prática, não signifique não aumentar juros.

Em outras palavras, significa aumentar gradualmente em um ciclo mais curto do que o esperado pelo mercado, o que já fora apresentado no comunicado após reunião. O fato, não é nenhuma surpresa, todavia, na avaliação de especialistas, não será necessária uma elevação da taxa para o nível neutro tão logo, visando com isto, manter a inflação de 2022 no centro da meta.

Com essa percepção, o mercado reagiu, em seguida, houve quedas nas taxas de juros futuras, principalmente nas de curto e médio prazo.

Essa demonstração mais “suave” do Copom, apesar da indicação de mais um aumento para reunião de junho na ordem de 0,75%, decepcionou boa parte do mercado, por não indicar um forte ciclo de aumentos, gerando uma quebra de braço com parte do mercado.

 Veja também: Com alta da inflação, mercado prevê Selic em 5% até o final de 2021

Percepção do mercado 

A percepção é que há mais espaço para uma inflação mais persistente ao longo do próximo ano, a ata chama atenção para o termo “Normalização parcial”, que em outras palavras, seria responder de imediato a essa crescente pressão inflacionária, sem ampliar o ciclo de altas.

Podemos dizer ser compreensível o posicionamento do Banco Central nesse sentido, que tenta desta forma, equilibrar a crescente expectativa de inflação junto ao desemprego elevado. Além disso, a ata também deixa claro alguns fatores que podem impactar esse posicionamento no curto prazo, como a depreciação cambial, o descontrole das contas públicas e um eventual adiamento da agenda de reformas.

 Veja também: As consequências da alta dos juros no mundo

A postura Dovish do Banco Central 

Embora esse tom “Dovish” do Copom tenha sido confirmado com a divulgação da ata, o mercado segue preocupado com a inflação, até a divulgação do resultado para abril, há um acumulado de 6,76% nos últimos 12 meses do IPCA, com destaque para que 8 dos 9 grupos que compõe o índice, tiveram variação positiva em seus preços.

Há uma preocupação de que essa pressão inflacionária persista, visto que o câmbio ainda continua bastante depreciado e o mundo vivencia um ciclo importante de alta nos preços das commodities, fatores que devem continuar pressionando ainda mais o índice (IPCA) nos próximos meses.

Outro fator alarmante foram os dados divulgados sobre a inflação americana que vieram acima do esperado (4,2%) contrariando a expectativa de (3,6%) e que deve impactar o mercado como um todo, devido ao temor de que o FED freie os estímulos e volte a normalizar a condução da política monetária por lá.

O que muda caso a inflação saia do controle

Com a pressão inflacionária batendo na porta, a tendência é de que o Banco Central mude sua postura e realize novas altas de juros de forma mais acelerada do que inicialmente colocado.

Como resultado, isso afeta todos os investimentos, como explicado aqui neste outro artigo

Todavia, além dos motivos elencados anteriormente, pode haver uma implicação muito forte no consumo, visto que o controle da taxa Selic é a principal forma que a autoridade monetária tem, para tentar colocar a inflação sob controle.

Desse modo, quando se há aumento na taxa de juros, existe um estímulo maior para o consumidor guardar, poupar e, além disso, o crédito se torna mais caro, desestimulando financiamentos e investimentos em geral.

Como consequência, há a criação de um impacto negativo no ambiente econômico, provocando uma queda na circulação de bens e serviços. No entanto, na posição que o país se encontra, com uma alta taxa de desemprego (14,4%) e uma forte demanda reprimida, graças aos desdobramentos da pandemia, o Banco Central  deve avaliar cautelosamente esse cenário.

Neste caso, desestimular a economia em um cenário de crise econômica pode se tornar uma ação bastante perigosa, afinal, o remédio nunca deve ser mais prejudicial que a doença.

Desalinhamento do Banco Central é perceptível

Podemos afirmar que o Mercado não foi pego de surpresa, todavia essa resistência em corrigir o diferencial de juro com a inflação, elevando a taxa para o nível neutro, não 2ra tão aguardada.

Além disso, essa briga de braço com o mercado que vem negociando contrato futuro de juros acima das expectativas do Banco Central, por volta de 6,5% desde março deste ano, demonstra que não há um alinhamento entre as casas e autoridade monetária nesse sentido.

A partir dessa afirmação, é de extrema importância que o investidor se mantenha atento às novas sinalizações do Banco central para com seus movimentos na taxa Selic, tendo em vista que o fantasma da inflação permanece a solta, e os demais fatores de risco também, como a agenda fiscal e o eventual descontrole de gastos.

Importante frisar também, que além do cenário economia que discutimos ao longo deste artigo, não podemos esquecer do cenário político, afinal o país está entrando em clima de eleição, logo em breve. 

 Veja também: Bolsonaro nomeia presidente e sete diretores do Banco Central

Conclusão

Em suma, a entrada de um possível governo mais empenhado na criação de grandes projetos, vem consigo, além da popularidade, grandes gastos. Sendo assim, é importante que o investidor se mantenha atento aos impactos desse ciclo de aumento na apreciação da moeda. 

Até lá, nos resta questionar se a postura “Dovish” do Banco Central se manterá firme com tantas incertezas pela frente. Tomando as suas decisões com base nas informações sobre o passado, a vivência do presente e os palpites sobre riscos e recompensas que vão se materializar apenas no futuro.

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