Clube-empresa irá salvar os times do futebol brasileiro?

Recentemente, o governo executivo sancionou lei que permite clubes de futebol a passarem a adotar o modelo de clube-empresa. Essa questão já é debatida em território nacional há alguns anos.

O motivo é que acaba sendo um trunfo para que os clubes possam captar novas formas de receita. Com mais receitas, esses conseguem sanar as imensas dívidas adquiridas, fruto de gestões temerárias ao longo dos anos.

Embora essa discussão seja recente no Brasil, no exterior, já existem diversos clubes-empresas em atividade. Inclusive, há alguns que são listados até mesmo na bolsa de valores. Entre eles, alguns gigantes do futebol mundial, como o Manchester United, Real Madrid, Barcelona, Arsenal.

Com isso, nesse artigo iremos debater os benefícios de um clube se tornar empresa. A ideia é mostrar a perspectiva de clube, investidores e do próprio futebol.

Existem diversos críticos que são contra a modalidade. Estes têm medo de o futebol se tornar somente negócios. Mas a verdade é que negócios e futebol nunca andaram separados. 

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Contextualizando o problema

Clube

Atualmente, os clubes de futebol brasileiros atuam como instituições sem fins lucrativos. Um dos grandes problemas desse modelo é que a direção do clube é eleita por um grupo de sócios. Estes assumem cargos não remunerados e não necessariamente possuem as competências necessárias para assumir determinada função.

Com isso, estes gestores estão mais preocupados com os resultados dentro de campo. Para montar times competitivos você precisa de um orçamento adequado para o objetivo a ser almejado. Na prática, a maioria dos clubes não possui receita adequada e adquirem dívidas para a manutenção da equipe. 

Sendo assim, a consequência disso é que, em algum momento, a dívida se torna uma bola de neve, não havendo receita suficiente para pagamento. Com isso, diminui a capacidade de investimento para montar equipes competitivas.

Por exemplo, existem diversos clubes brasileiros que sofreram com essa situação. Entre as principais, podemos citar o caso do Cruzeiro, Vasco da Gama e Botafogo, gigantes do futebol brasileiro que sofreram na mão de gestões temerárias por longos períodos.

O objetivo da Lei de Clube-empresa

O projeto de Lei 5516/2019, possibilita a criação das Sociedades Anônimas de Futebol. A ideia é possibilitar a maior atração de investidores, promover a transparência na gestão dos clubes. Também busca o melhor gerenciamento das dívidas, principalmente as dívidas trabalhistas.

Nesse sentido, em relação às dívidas, um dos pontos que os clubes enxergam como trunfo é a possibilidade de utilização do mecanismo de recuperação judicial. Segundo especialistas, este caminho não é muito diferente do que acontece com empresas do mercado.

Contudo, a simples implementação da Lei e tornar um clube em clube-empresa não resolverá por si só os problemas. A profissionalização de um clube requer muito trabalho, a proposta de lei facilita o caminho a ser tomado.

Inclusive, tornar a gestão do clube mais profissional independente do projeto de clube-empresa. Palmeiras, Flamengo e Grêmio são bons exemplos de clubes que não precisaram do projeto de lei para profissionalizar sua gestão.

Há investidores interessados?

A resposta é sim! Pegue como exemplo os clubes-empresas ao redor do mundo. Do total, 35% deles são geridos por capital estrangeiro. Entre eles, podemos citar PSG, Chelsea e Manchester City. Todos eles estão tendo excelentes resultados esportivos e financeiros nos últimos anos. No Brasil, não seria difícil atrair investidores.

Nesse sentido, o Brasil é conhecido como país do futebol, com legiões de torcedores que consomem muito conteúdo dos clubes. Do outro lado, na questão financeira, a dívida dos clubes e seu valor de mercado está em nossa depreciada moeda, o real. Com isso, passa a ser fácil investir em um clube brasileiro.

Contudo, certamente são investimentos de risco. Basta levar em consideração a forma de gestão que estes clubes têm levado nos últimos anos. Estes investidores irão procurar certamente aqueles clubes que já possuem a “casa arrumada” para mitigar riscos e ter retorno rapidamente.

Por exemplo, o Red Bull realizou a compra do Bragantino em 2019. O clube vinha há anos tentando operacionalizar a transformação em um clube-empresa. Ou seja, já havia um movimento nesse sentido.

No ano passado, o clube já obteve bons resultados em campo e, esse ano, já teve um bom retorno ao vender o meio-campo Claudinho para o Zenit, da Rússia.

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Como funciona na Europa

Como dissemos anteriormente, o modelo de clube-empresa na Europa já é bastante difundido. Contudo, a sua aplicação difere entre os países do bloco econômico. Por exemplo, na Alemanha, os clubes possuem grande função social. Com isso, é proibido transferir seu controle para terceiros. Ou seja, o clube deve ser proprietário de 50% das ações mais 1%.

Nesse sentido, é comum os clubes alemães serem vinculados a alguma empresa. Por exemplo, o Bayer Leverkusen foi fundado pela farmacêutica Bayer, e ela é a dona do clube. O mesmo acontece com o Wolfsburg, onde a Volkwagen é dona.

Por outro lado, na Inglaterra, a definição de clube-empresa já vem desde o século passado. Por exemplo, o Manchester United, um dos clubes com maior valor de mercado é pertencente à família Glazer. Contudo, os fãs não estão satisfeitos com a gestão, visto que resultados financeiros são priorizados em detrimento dos resultados desportivos.

Em síntese, na Europa, 92% dos clubes atuantes nas ligas nacionais são clubes-empresas. Nesse sentido, 35% dos clubes-empresas são geridos por agentes estrangeiros e, entre estes agentes, 44% são americanos ou chineses.

Conclusão

O que os clubes precisam entender é que tornar um clube em uma sociedade anônima não é uma solução. Existe uma certa ilusão que basta tornar o clube em empresa e todos os problemas estarão resolvidos. Mas as coisas não funcionam dessa forma. Transformar um clube em clube-empresa é um mecanismo que certamente pode facilitar o caminho.

Contudo, para que isso realmente valha a pena, é necessário um trabalho árduo. E isso começa através da profissionalização da gestão desses clubes, ainda que estejam atuando como uma associação sem fins lucrativos. O trabalho deve começar agora, os clubes que estiverem melhor organizados certamente serão mais atrativos para investidores.

Sendo assim, o fato de não ser obrigatório tornar um clube-empresa acaba sendo benéfico. Essa decisão deve caber a gestão do clube e seu quadro societário.

Existem pontos negativos em se tornar clube-empresa, uma delas é a alta incidência de impostos. E, como já falamos anteriormente, ter uma gestão profissional não está atrelada a ser uma sociedade anônima.

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