No cenário atual, com a contagem de infecções superando a marca de 55 milhões, diversos países estão retomando o “lockdown”, para retardar a disseminação do vírus, com isso a demanda por combustíveis encontra-se em queda em todo o mundo.
Toda essa queda, gerou discussões sobre o futuro do setor petrolífero, trazendo grandes preocupações em criar uma matriz energética com menos emissão de gases do efeito estufa e com mais penetração das energias renováveis, todavia essa transição não é tarefa fácil.
Para que possamos ter uma ideia, o primeiro barril de petróleo descoberto na Pensilvânia em 1859, se tornou a principal fonte de energia global, substituindo o carvão, somente em 1960, 100 anos depois.
Ou seja, modificar os setores da economia que dependem de combustíveis fósseis não é uma tarefa rápida, muito menos barata, principalmente se pensarmos em um cenário de redução brusca do PIB e aumento de gastos públicos em diversos países.
O isolamento social e a contenção da produção industrial desaceleraram a economia a nível mundial, contendo a demanda por petróleo e despencando o seu preço. Podemos observar essa mudança na demanda mensal de petróleo no ano de 2020 em relação ao de 2019, conforme o gráfico apresentado pela Agência Internacional da Energia (AIE).
Perspectivas
Segundo o World Economic Outlook (WEO), ainda é muito cedo para prever um rápido declínio na demanda por petróleo. Ainda assim, estima-se que a era de crescimento da demanda global por petróleo atingirá seu pico em dez anos, mas a forma como se dará a recuperação econômica amplia a incerteza na previsão.
Dentro do contexto atual, o petróleo desabou durante o primeiro semestre do ano, saindo de 60 dólares o barril para algo próximo a 25 dólares em meados de abril. Atualmente o preço do barril de petróleo está sendo negociado a 44 dólares, dificultando a rentabilidade das operações, comprimida para muitas empresas.
Mesmo que haja uma vacina para o Covid-19, dificilmente o consumo irá aumentar significativamente até o próximo ano. Muitas das principais empresas do setor reduziram o valor de seus investimentos, futuras operações foram adiadas e sua retomada ainda não são claras.
O investidor ainda se encontra cético, dada as preocupações com o desempenho financeiro e a compatibilidade das estratégias das empresas com os objetivos ambientais. A menos que esses fundamentos mudem, a tarefa de reequilibrar o mercado irá progredir lentamente.
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Efeitos
Quanto mais for o período de isolamento, maiores serão as mudanças que irão afetar o consumo de petróleo, o trabalho home office já é uma realidade, muitas empresas, principalmente as de tecnologia, já aderiram ao “novo normal”.
As viagens aéreas, principalmente às utilizadas no ambiente corporativo, foram substituídas por plataformas de vídeo chamada.
Essas incertezas sobre a duração da pandemia, seus impactos econômicos, sociais e as respostas políticas abrem uma ampla gama de possibilidades para o futuro do setor petrolífero.
No Brasil, anteriormente a pandemia, o orçamento de 2020 tinha expectativa de um barril de Brent a US$ 58,96. Com redução significativa desse valor as consequências são diversas, desde o impacto nas receitas tributárias, com a diminuição dos impostos e suspensão dos leilões de campos de hidrocarbonetos, como também pelos royalties que os estados produtores deixarão de receber, começando pelo Rio de Janeiro.
Petrobrás
Como já observamos, a redução da demanda global por petróleo levou a queda nos preços do barril, impactando diversas empresas petrolíferas mundo afora, inclusive uma das maiores companhias do Brasil, a Petrobrás.
Com a pandemia, as ações da Petrobras chegaram a cair quase 50% este ano, conforme gráfico abaixo:
Apesar das expectativas ruins para a Petrobras, a empresa conseguiu manter sua rentabilidade operacional, em função da redução de custos e despesas. No 3T20, o EBITDA Ajustado ficou 33,8% acima do mesmo período do ano passado, beneficiado pela recuperação das vendas e por menores custos e despesas operacionais.
Para os próximos trimestres é esperado que haja recuperação dos volumes de vendas com o reaquecimento da economia, principalmente referente às exportações de petróleo bruto para a China.
Na última terça-feira (17), a empresa informou ao mercado a venda da totalidade de suas participações nas concessões de Albacora e Albacora Leste, localizadas na Bacia de Campos. Com isso, a estatal espera melhorar sua alocação do capital, concentrando recursos em ativos mais resilientes, em virtude das oscilações do preço do petróleo, diminuindo assim seu risco e proporcionando maior retorno. Até então, as ações da Petrobras (PETR4) acumulam alta de 2,64% na bolsa de valores nos últimos 7 dias e queda de 17,58% nos últimos 12 meses.
Petrorio
A PetroRio S.A, empresa especializada na gestão de reservatórios de petróleo e no redesenvolvimento de campos maduros, como o Campo de Polvo e Campo de Frade, ambos no litoral do Rio de Janeiro, também foi afetada pela forte queda na cotação do petróleo tipo Brent.
A empresa foi obrigada a postergar seus investimentos relacionados à Revitalização do campo de Frade, buscando manutenção da liquidez e da saúde financeira durante as incertezas do COVID-19. Segundo a empresa, os investimentos serão retomados assim que se observar maior estabilidade nos mercados globais.
Além disso, com intuito de buscar condições melhores de desconto do óleo, a empresa decidiu postergar suas vendas, resultando em estoques de óleo estimado em R$ 550 milhões no final de setembro, o que representa 1,9 milhões de barris em estoque.
Assim como seus pares, o desempenho financeiro de Petrorio não foi dos melhores, a desvalorização do real gerou um impacto negativo em seu último resultado, tendo em vista que 50% dos custos são em moeda local. Todavia, é importante destacar, que a PetroRio detém 96% de suas receitas denominadas em Dólar, o que favoreceu sua geração de caixa livre. Com isso, a PetroRio apresentou um prejuízo líquido de R$ 110,6 milhões no 3t20, uma alta de 9,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
Como reflexo da maior geração de caixa livre, a PetroRio apresentou queda no índice de Net Debt / Ebitda, que passou de 2,1x no 2T20 para 1,9x no terceiro trimestre de 2020, considerando o Ebitda Ajustado ex-IFRS 16.
Conforme a empresa mesmo relatou, seu modelo de negócio foi posto à prova nesta crise, tendo em vista que suportou o petróleo tipo Brent abaixo de US$ 30, entre março e maio, se firmando entre as mais resilientes do setor. Observamos esse efeito no preço dos seus ativos:
Os papéis de PRIO3 foram o grande destaque desta manhã, onde podemos observar suas ações subindo mais de 20%, logo após a assinatura do contrato com a BP Energy do Brasil para a aquisição das participações de 35,7% no Bloco BM-C-30 no Campo de Wahoo e de 60% no Bloco BM-C-32 no Campo de Itaipu, no pré-sal, por US$ 100 milhões. A aquisição irá trazer ganhos de eficiência, a compra representa um aumento na produção, de 40.000 barris por dia para 52.000 barris por dia.
Estimando as chances
A Pfizer e a BioNTech anunciaram, no início deste mês, que sua vacina contra o coronavírus é 90% eficiente na última etapa dos testes. A notícia sobre a possível vacina deram aos investidores esperanças de que a pandemia possa ser controlada no ano que vem, o que ajudaria a retomada da demanda pelos derivados de petróleo (gasolina, diesel e combustível de aviação). Ao que pudemos observar no resultado de ambas as empresas, elas parecem ter feito a lição de casa.
Nos deparamos com um longo caminho pela frente, a perspectiva da melhora no preço do petróleo depende crucialmente da duração da Covid-19 e da recuperação econômica. Todavia mesmo que o cenário já esteja ruins, vale lembrar que ainda pode piorar, caso haja uma segunda onda de Covid-19, restringindo ainda mais as atividade e consequentemente a demanda por petróleo.
Conclusão
Para aqueles que têm um apetite maior ao risco, a ações petrolíferas podem ser ótimas alternativas de investimento. Afinal o “ouro negro” é o combustível que move o planeta, no entando ainda há muitos riscos que podem ameaçar sua recuperação.
Devemos nos ater que mudanças permanentes podem ocorrer, como políticas governamentais mais rígidas e comportamento dos consumidores em relação a utilização de matrizes de energia mais sustentáveis. No entanto, vale lembrar que o mercado petrolífero é caracterizado por ser intenso, o setor não é estranho às condições desfavoráveis do mercado, as crises do petróleo de 1973 e 1979, os embargos da OPEP no início dos anos 1980, a crise financeira global de 2008 e os recentes conflitos entre a Rússia e a Arábia Saudita provam esse argumento.
Encerro este artigo com as palavras do presidente da Petrobrás Roberto Castello Branco, “Podemos ter ganhado apenas uma batalha, mas ainda há muitos desafios difíceis à frente”.