A inflação se refere ao aumento persistente e generalizado dos preços por conta do aumento da oferta monetária. Na prática costumamos ver esse fenômenos através do encarecimento de produtos e serviços que compramos e pagamos diariamente nas necessidades do nosso dia-a-dia.
Historicamente, o Brasil viveu a reincidência da inflação diversas vezes, e por anos acabamos passando novamente a ter uma economia que vivia em diversos círculos inflacionários.
Ao longo do tempo, o Brasil passou a ser palco de diversos testes econômicos, assim como sua população, que foi alvo de seus governantes nesse sentido. O número que vamos mostrar a seguir parece assustador, mas é real. O Brasil já viveu um período de mais de 20,7 trilhões de pontos percentuais acumulados durante 15 anos de sua história na inflação.
Nunca houve uma justificativa racional que fosse a altura desse abismo numérico da inflação no Brasil. Já se teve aqui diversas moedas diferentes. No início era o Pau Brasil, depois a cana de açúcar, o cacau, tecido, enfim, até chegarmos ao período do império, quando passamos a adotar o Real, que na época se falava “Réis”, no plural.
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Depois disso veio o Cruzeiro, o Cruzeiro Novo, Cruzeiros novamente, Cruzados, Cruzados novos, voltou a ser Cruzeiros e depois foi Cruzeiro Real e finalmente o Real. Após o período de Getúlio Vargas, Segunda Guerra Mundial e também a industrialização, o Brasil passou a conhecer o Cruzeiro, moeda que voltou a se repetir no Brasil por mais de uma vez.
Foi com a repetição do Cruzeiro como moeda oficial no Brasil durante 3 vezes, que o país passaria essa incessante história de aumento nos índices inflacionários de forma até mesmo assustadora como vimos na totalidade dos números.
O primeiro período do Cruzeiro
Durante o período do Regime Militar no Brasil, viveu-se momentos em que algumas medidas governamentais de indexação e correção monetária permitiam que uma parcela da população pudesse conviver de forma saudável mesmo com os índices altíssimos da inflação.
De 1942 a 1967 foi a época do Cruzeiro e a inflação no Brasil se desenvolvia da seguinte forma no período (em pontos percentuais):
Foi um período bastante instável, vivido pelas diversas guerras que o mundo passava e a ideia de industrialização e desenvolvimento a qualquer custo, no qual não importava muito para o Brasil o que acontecia com os índices inflacionários.
Foi só a partir da década de 60 que se começou a ter uma preocupação maior com a inflação e também com o crescimento do PIB, de modo que as instabilidades políticas vividas no Brasil eram as que mais atrapalhavam o país naquele momento.
O governo tinha a ideia de imprimir cada vez mais dinheiro para financiar os gastos públicos em obras e necessidades para o país, mesmo que isso custasse a redução incrível do poder de compra da moeda em relação aos brasileiros no dia-a-dia.
Em 1964, quando os militares tomaram o poder, criou-se o PAEG, que era o Programa de Ação Econômica do Governo, de modo que o objetivo era justamente o crescimento do PIB e a redução da inflação.
A inflação até chegou a ser controlada, como vimos no gráfico anterior, porém o PIB acabou não tendo o mesmo sucesso, o que acabou colaborando para o aumento da dívida externa e por consequência a desvalorização da nossa moeda que era o Cruzeiro.
A era do Cruzeiro Novo no Brasil
Foi por conta disso que o Brasil tentou criar uma nova moeda, que foi o Cruzado Novo em 1967, que seria utilizada por algum tempo antes que se voltasse a usar novamente o Cruzeiro, em uma estratégia que compôs o Programa Estratégico de Desenvolvimento, conhecido pela sigla PED. A inflação acabou se reduzindo como podemos ver no gráfico a seguir:
Com o sucesso do plano, resolveram voltar com o Cruzeiro em 1970, que era justamente a intenção do governo, deixar o Cruzado Novo apenas por um período para que se controlasse a inflação. Esse novo período da moeda brasileira ficou vigente até 1986.
O segundo período do Cruzeiro no Brasil
Dos anos 1972 até 1974 foram anos extremamente importantes para o crescimento econômico do Brasil. O 1º Plano Nacional do Desenvolvimento trouxe ao Brasil, a princípio, um momento de inflação controlada e um alto crescimento econômico do país.
Logo veio tudo abaixo quando ocorreu o primeiro choque do petróleo, que acabou arrastando a inflação para cima novamente. O período coincidiu com a tentativa por parte do governo brasileiro de inserir o 2º Plano Nacional do Desenvolvimento, mas diferente do 1º, esse acabou não sendo suficiente para o momento.
A situação piorou quando o segundo choque do petróleo aconteceu, e os anos se sucederam com o aumento dos juros nos EUA e o aumento da dívida externa brasileira, o que desacelerou o crescimento econômico, já que com a alta dívida, o governo tinha recursos menores para investir no Brasil.
Foi então que ocorreu o episódio da Moratória do México, que resultou na suspensão dos pagamentos de dívidas de agosto de 1982 a janeiro de 1983. Esse episódio deixou os investidores mais cautelosos em relação aos países emergentes, o que dificultou que o Brasil conseguisse novos empréstimos para pagar sua alta dívida. Foi após todos esses episódios que a inflação brasileira disparou de vez, como podemos ver no próximo gráfico.
O mandato de Sarney no Brasil e a explosão da inflação
No período do Plano Cruzado, presidido por Sarney, ocorreu congelamento de preços e reajuste dos salários de acordo com inflação, que era altíssima. Foi aí que as pessoas tinham que sair correndo para não perder os preços mais baixos nos produtos, que pouquíssimo tempo depois já aumentavam. Foi nesse período que começou-se a estocar comida no Brasil e se comprar o máximo que podia.
A inflação até recuou, mas o Brasil teve um grande problema de reposição de produtos. As prateleiras de lojas ficaram simplesmente vazias. Obviamente que a permanência dos preços no mesmo patamar e os salários aumentando, trouxeram para a população um sentimento de desconfiança de que isso não duraria muito e que precisariam aproveitar para comprar o máximo que conseguissem nesse período.
Após vencer as eleições, o presidente José Sarney resolveu iniciar o programa Cruzado II, na tentativa de amenizar os problemas de reabastecimento de produtos nas lojas e supermercados.
Nesse período ocorreu um desequilíbrio das contas públicas, uma vez que o pagamento dos títulos públicos do governo retornavam para as pessoas corrigidos pela inflação altíssima com um acréscimo de bônus. A dívida do governo com as pessoas começou a ficar altíssima e se viu a necessidade de aumentar os impostos.
Isso resultou em uma série de protestos violentos ocorridos no ano de 1986 e após isso, o presidente José Sarney decretou a Moratória no Brasil, em 1987, que seria a suspensão dos pagamentos de sua dívida. Esse período de instabilidade gerou novamente o aumento da inflação, como vemos a seguir.
Viu-se então a necessidade de criação do Plano Bresser, no qual ocorreu novamente o congelamento dos preços no Brasil e o surgimento da Unidade de Referência de Preço (URP). Mas a falta de confiabilidade gerada no governo e a crise da bolsa de Nova York que veio logo em seguida, acabou colocando tudo a perder novamente e o Plano Bresser não vingou.
Em 1989 começou o novo plano que viria na criação de uma nova moeda, o Cruzado Novo e a continuidade no congelamento dos preços dos produtos no Brasil. O resultado, que dispensa comentários, está no aumento da inflação a um nível nunca antes visto, que você pode ver no gráfico a seguir.
A chegada de Collor na presidência
Foi com essa inflação que rompeu os 6000% ao ano que o Brasil recebeu o novo mandato do então presidente eleito Fernando Collor de Mello. O país estava passando sérias dificuldades nas finanças.
Collor percebeu que o problema da inflação tinha, em partes, uma relação com a grande emissão de moeda que foi realizada durante os anos anteriores. Para diminuir a quantidade de moeda emitida e que estivesse em circulação no Brasil, Collor adotou o Plano Collor I.
O Plano Collor I foi uma série de medidas tomadas pelo governo Collor já no início de seu governo e causaram grande repercussão nacional e no mercado financeiro. Foi quando aconteceu o congelamento da poupança dos brasileiros que tinham mais de 50 mil cruzados novos guardados.
O conhecido “confisco” da poupança foi um dos acontecimentos mais conhecidos do governo de Collor e é relembrado até os dias de hoje por muitos brasileiros que viveram nessa época, que perderam muitas economias que haviam feito durante muito tempo de sua vida.
Além disso, Collor criou nesse período o IOF, que é o Imposto sobre Operações Financeiras. Esse imposto é utilizado até os dias de hoje, e é cobrado quando se realiza alguns tipos de operações de crédito, entre eles: Câmbio, títulos imobiliários, seguros e também empréstimos.
Uma série medidas que Collor também tomou nesse período foram: Determinar o fim de subsídios estatais, nisso incluía demissão de funcionários públicos e fechamento de ministérios; Privatização e fins de empresas estatais; abertura do mercado brasileiro para o exterior; tabelamento e controle das taxas de câmbio e dos preços.
Todas essas medidas criaram um pânico no mercado financeiro, que apresentou uma das suas piores quedas na bolsa de valores brasileira de sua história. No dia 19 de março de 1990, ocorreu o acontecimento do “confisco” das poupanças e os correntistas não conseguiram sacar mais de 50 mil cruzados novos.
O temor instaurado, causou a maior queda da bolsa de valores brasileira na história. No dia 20 de março de 1990, a bolsa despencou 20,97% e no dia seguinte, 21 de março, teve sua maior queda de 22,27%. O pessimismo tomou conta do mercado naquele ano de 1990, que acumulou baixa na bolsa de 74,11% durante o ano, um ano marcante na história do Ibovespa. Apesar disso, a inflação acabou se reduzindo:
A inflação caiu para a mínima do período de 337,8%, mas com preços e salários controlados de forma artificial, com a insatisfação intensa da população com Collor, mesmo com a tentativa do Plano Collor II, que veio para tentar amenizar os estragos feitos no Plano Collor I. Isso acabou não evitando o impeachment do Collor em 1992.
O mandato de FHC e o Plano Real
Antes do plano Real chegar ao Brasil em março de 1994, a inflação chegou a romper novamente os 5000%. Mas com a mudança da moeda e do novo plano econômico, tudo mudou no Brasil e a inflação foi finalmente controlada.
A partir desse momento utilizou-se um índice de referência chamado Unidade Real de Valor (URV), indexando toda a economia a ele. Depois disso, reajustaram essa economia ao câmbio e colocaram o valor do Real igual ao dólar em 1:1 (um pra um). A economia foi de certa forma “dolarizada” a partir de então, o câmbio se manteve praticamente fixo.
Após o ano de 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso acabou “liberando” o câmbio e então a inflação voltou a subir um pouco, mas desta vez, tinha-se a criação meta da inflação para o ano, que vinha junto com a ideia do Tripé Econômico que tinha como base: Câmbio flutuante, metas fiscais e metas de inflação.
A inflação acabou perdendo um pouco o controle apenas com a chegada de Lula na presidência. Isso trouxe uma certa desconfiança ao mercado financeiro, alta do dólar e consequentemente o aumento da inflação. Apesar disso, Lula acabou sabendo contornar a situação e colocou um ministro da economia que pudesse recuperar novamente a confiança do mercado, de modo que a inflação se controlasse novamente e chegássemos à história da inflação que temos até hoje.
Conclusão
A inflação, sem dúvidas, foi um vilão que o Brasil sempre precisou combater no cenário nacional. Diferentes planos econômicos, novas moedas criadas e diversas medidas de intervenção do Estado na economia marcaram o cenário da história da inflação no Brasil.
O que chama a atenção, é que até que se criasse um plano que realmente pudesse controlar a inflação, o Brasil virou praticamente uma espécie de “laboratório de testes” dos políticos que governavam o país, de modo que se tomava medidas que não levariam a resultados sustentáveis a longo prazo.
Em meio a isso, a população brasileira passou períodos complicados e de sofrimento, através de uma grande instabilidade não só na economia do país, como também na política, com o qual tivemos sempre que conviver em nossa história com todas essas incertezas.
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