Embora muito se fale de outras moedas mais presentes nas negociações pelo mundo afora, existe uma que é pouco comentada, mas que vale a pena você conhecer o que o país em questão e o Banco Central associado a ele tem feito com essa moeda. Estamos falando aqui do franco suíço.
Os Bancos Centrais tomaram medidas que foram além do comum durante o ano de 2020 do ponto de vista quantitativo, e isso afetou as moedas de diferentes formas, dependendo de qual você estiver se referindo.
O franco suíço tem se tornado uma moeda exemplo do ponto de vista jurídico, em termos de estabilidade, segurança e confiança, tornando-se assim um excelente ativo de proteção nos tempos atuais.
Entre as moedas consideradas de reserva, o franco suíço foi o que mais tempo esteve vinculado ao ouro. Essa relação durou até o ano de 1999. Apesar disso, no ano de 2008, em meio a grande Crise do Subprime, muita coisa aconteceu acontecendo com o franco suíço daí em diante.
Grande quantidade de dinheiro de diversos investidores passaram a sair de seus países de origem para ir em direção ao franco suíço, que passou a ser apreciado fortemente por estrangeiros que procuravam um refúgio da crise e um modo de proteger seu capital.
O Banco Nacional da Suíça então entrou em ação, na busca por impedir essa enorme entrada de dinheiro no país de uma única vez, adotando medidas como intervenção no câmbio.
Além disso, um fator decisivo dessa intervenção do Banco Nacional da Suíça sobre a moeda de seu país e dessa relação com investimentos estrangeiros foi o fato de ter adotado os juros negativos a partir de então, tentando impedir essa entrada volumosa de dinheiro de outros países.
Franco suíço ganhando força ao longo dos anos
Segundo informações vindas do próprio banco da Suíça, o balanço do Banco Nacional da Suíça chegou a ultrapassar em cerca de 140% o PIB de seu país, enquanto que as reservas do mesmo atingiram a marca de aproximadamente US$1 trilhão.
Embora essa política bastante intervencionista do banco governamental da Suíça, o franco ganhou destaque como uma das moedas mais fortes do mundo atualmente, principalmente em meio a pandemia, que acabou aumentando os fatores a favor da moeda.
A questão é que no sistema financeiro atual, se vive a todo momento uma competição de moedas que vão se desvalorizando como ativo ao longo do tempo, não à toa que ativos que foram criados para ir contra a inflação, como o bitcoin, ganharam muito destaque ao longo dos últimos anos.
O que temos aqui, na verdade, é o caso de uma moeda que se destacou como a “menor pior” dentre as que estão em vigência e que tem destaque no cenário internacional. Por consequência, a crise pandêmica acabou trazendo ainda mais força para o franco suíço do que já estava previsto que teria para o momento.
Veja o desempenho do franco suíço frente ao dólar os últimos tempos:
A jornada do franco suíço pós Bretton Woods
O franco começou a ganhar ainda mais força frente ao dólar a partir do ano de 1971, com o fim do sistema de Bretton Woods. Até esse período, estavam vigentes os acordos de Bretton Woods que foram estabelecidos em 1944, com delegações de 44 países.
A conferência que levou a esses sistema ocorreu nos Estados Unidos na cidade de Bretton Woods, no qual ocorreria a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, onde se discutiam mudanças que afetariam o comércio internacional e a ordem monetária internacional.
Na ocasião, ocorreu a decisão de formação de um conjunto de acordos entre os países mundo agora que resultou no sistema Bretton Woods, onde o dólar ficaria atrelado ao valor do ouro e as outras moedas ao dólar norte-americano.
Com o passar do tempo, o franco foi ganhando cada vez mais força no cenário internacional, sendo procurado, inclusive, por investidores que buscavam ativos de proteção. O franco chegou não só parear de 1:1 com o dólar, como acabou ganhando ainda presença nessa relação.
Hoje, 1 dólar consegue comprar apenas 0,92 francos suíços aproximadamente, como podemos ver na cotação atualizada disponível no TradingView.
As medidas radicais do banco central da Suíça
Primeiramente, a Suíça tem uma dívida pequena em comparação ao seu PIB, o que leva o franco suíço a atrair atenção de investidores pelo menor risco de calote do país. Quanto menos riscos fiscais um país tem ou então maior possibilidade de sempre cumprir seus compromissos, mais interessante ele se torna para deixar o dinheiro protegido.
Após o ano de 1995, a Suíça passou a ter sua inflação variando abaixo dos 2%, até chegar o ano de 2010, quando começou a se ver um período de deflação no país. Como podemos ver no gráfico a seguir:
Desse modo, após o ano de 2010, o índice inflacionário da Suíça começou a atuar em patamares negativos, estando atualmente na casa dos 0,5% negativos. O fato é que a estabilidade presente no país trouxe ainda mais um repertório para que o franco ganhasse cada vez mais força a partir de 2008.
No ano de 2008 o Banco Central Americano começou a realizar a emissão de moeda de maneira bastante acelerada em meio a crise que se instaurou pelo mundo e na economia norte americana. Foi a partir daí que muitos correram para realizar investimentos no franco suíço.
Associado a isso, tivemos um grande endividamento dos países da Europa no ano de 2011, o que fez com que muitos investidores simplesmente fugissem e tirassem seus investimentos do Euro e procurassem por outras alternativas mais interessantes.
Com a desconfiança no Euro e Dólar por conta do histórico recente daquele período, o franco suíço acabou sendo bastante visado como uma excelente alternativa de proteção daquele momento em diante.
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Mas foi em setembro de 2011 que a Suíça, através do seu banco central, decidiu adotar uma taxa de câmbio mínima com o Euro. Mas aí você deve estar se perguntando: Por que a Suíça tomou uma medida como essa? Se valorizar frente a elas não é algo bom
Afinal, valorizar a sua moeda frente a outras não é algo bom? Do ponto de vista de investidores até pode ser, mas a questão é que a variação brusca do câmbio, principalmente com o Euro, cuja relação comercial com a Suíça se dava de forma bastante intensa, é prejudicial para a normalidade dos preços, principalmente para a exportação de produtos.
A Suíça, como forte país exportador, não poderia deixar que sua moeda ficasse tão forte perante os países que compram seus produtos da maneira que foi, já que isso poderia afastar países com o encarecimento da moeda e consequentemente para que o país continuasse realizando exportações como antes.
Foi por conta disso que o país resolveu colocar a taxa de câmbio no mínimo possível e não deixar que se perdesse seu mercado consumidor estrangeiro. Então sim, a Suíça, por conta própria, decidiu enfraquecer sua própria moeda, de tão forte que ela acabou ficando à frente dos seus exportadores.
A tentativa, segundo informou o próprio Banco Central da Suíça, estava em torno de controlar os riscos econômicos em volta da deflação que o país estava tendo. O banco ainda afirmou na época que continuaria tomando medidas parecidas, inclusive comprando ao máximo as moedas estrangeiras.
A emissão de moeda na Suíça acabou se acelerando fortemente e a compra de moedas estrangeiras continuou a ser contínua e recorrente, como havia prometido o banco suíço na ocasião.
A decisão da Suíça acabou acontecendo de uma forma inédita ao que se via normalmente nas economias de países, que normalmente atuam em busca de tomar medidas visando o pareamento com moedas mais fortes que a sua, e não mais fracas.
Conclusão
O franco suíço e a intervenção do Estado voltaram com tudo durante o ano de 2020, com a ascensão da pandemia do coronavírus. Nesse período, a Suíça e o Vietnã foram classificados pelos EUA como manipuladores de moedas.
Um relatório do Departamento do Tesouro acusou os países em questão de interferirem de forma excessiva nos mercados de câmbio de seus países. O Banco Nacional Suíço negou isso, mas o caso ganhou grande repercussão.
No final das contas, o franco suíço acabou sendo uma vítima do seu sucesso como moeda forte, obtendo forte estabilidade e capacidade de adquirir confiança como um ativo de proteção aos investidores de todo o mundo.
A segurança que passou o franco suíço ao longo dos anos fez com que a moeda ganhasse tanta força frente às outras que se viu obrigada a “investir” contra a sua própria moeda, embora as medidas de taxa cambial mínima com o Euro acabou não durando mais após 2015 e com a pandemia, a ascensão do franco se deu de forma mais ainda mais visível.