Uma das perguntas mais frequentes no universo do mercado financeiro faz referência aos proventos, a melhor opção seria reinvestir os dividendos recebidos ou apenas gastá-los?
Com toda certeza você certamente já deve ter pensando em utilizar parte da renda extra com dividendos em qualquer outra coisa, seja para novos investimentos, despesas mensais ou até mesmo consumo de bens pessoais.
No entanto, muitos desconhecem ou se esquecem da estratégia de reinvestimentos e como ela pode lhe trazer benefícios com o passar do tempo.
Na verdade, muitos brasileiros ainda possuem uma visão sobre poupar dinheiro ainda muito atrelada ao passado, quando o dinheiro era aplicado na Poupança e rendia 1%, 2% ao mês.
Isso não existe mais e não voltará a existir. Atualmente, deixando seu dinheiro na Poupança, você chega ao final do ano com menos dinheiro que aplicou.
Fundamentos do reinvestimento em dividendos
O resultado exponencial referente ao reinvestimento acontece basicamente pelo seguinte motivo, cada vez que reinvestimos os dividendos, possuímos mais ações e, quanto mais ações tivermos em nosso portfólio, mais pagamentos receberemos nas distribuições subsequentes.
Trata-se de um efeito bola de neve, que pode se traduzir em rentabilidade adicional, além da própria valorização das ações. No entanto, cabe frisar que a estratégia não é nada fácil, mas pode ser bem interessante para o seu futuro como investidor.
Como dito por Warren Buffett, o mercado é um instrumento de transferência de dinheiro dos impacientes para os pacientes.
Foco no longo prazo
Os efeitos do reinvestimento de dividendos recebidos podem gerar ganhos mais expressivos, no entanto, é necessário mencionar um ponto bem relevante, onde grande parte dos benefícios do reinvestimento somente será observado na frente, ou seja, no longo prazo.
Digo isso, pois no curto prazo, pode parecer imperceptível o resultado entre fazê-lo ou não. Por essa razão, grande parte dos investidores ficam desanimados e deixam de lado essa importante estratégia.
Tendo em vista o que foi explicitado, não é de se surpreender que muitos investidores iniciantes acreditam que a lógica de investir em dividendo não faz sentido, pois, ao receber os valores, a cotação da ação é ajustada para baixo. Para aqueles que não conhecem muito sobre o assunto, o resultado é que nada mudou e seus investimentos ficaram no “zero a zero”.
Para que possamos visualizar melhor essa estratégia, podemos comparar a forma entre não reinvestir e reinvestir os dividendos, representada na forma em que observamos a diferença de efeito de Juros Simples versus Juros Compostos ao longo do tempo.
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Como resultado, no curto prazo, observamos que as curvas ficam bem próximas às outras, no entanto, quando há uma diferença mais notável ao longo do tempo, podemos notar o deslocamento dessas curvas, ou como é chamada no mercado financeiro, a famosa “boca do jacaré”, conforme apresentado no gráfico abaixo.
Dessa forma, é importante que o investidor não crie expectativas e nem gere ansiedade para obter retorno no curto prazo com essa estratégia. Lembre-se que independente da sua escolha de investimento, a pressa e o desespero são os principais inimigos da sua carteira de investimento.
O que realmente ajuda qualquer investidor é ter a disciplina de realizar aportes periódicos, estudo profundo sobre as empresas do portfólio e foco no longo prazo.
Com o reinvestimento em dividendos funciona na prática
Para que possamos entender essa estratégia, consideraremos a distribuição de proventos por ação fictícia, em reais, dos últimos 5 anos.
Note que há uma certa constância do pagamento de proventos da Empresa, envolvendo tanto dividendos quanto Juros sobre capital próprio (JCP). Contudo, ressalto que nem sempre as Companhias são tão previsíveis, podendo variar o seu cronograma de distribuição.
Isso posto, proponho um breve raciocínio adotando as seguintes premissas:
- Investimento de 100 mil reais no ativo mencionado, pagando o valor de 9,95 reais por ação em 30/12/2015, o que representa um total de 10.055 ações adquiridas;
- O único aporte é o reinvestimento total dos proventos a cada nova distribuição.
Como resultado, é possível ver o número de ações crescendo da seguinte maneira:
Observe que tudo isso se traduz em um aumento de posição financeira sem considerar dinheiro novo. Ou seja, é o dividendo recebido se transformando em novas ações.
Agora, para que fique mais claro, observe a diferença de retorno entre o investidor que reinvestiu versus o investidor que não reinvestiu ao longo do mesmo período.
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Desse modo, teremos um resultado de um ganho total de 322% ao longo de cinco anos para aquele que reaplicou os dividendos, equivale a uma rentabilidade de 33% ao ano.
Caso o reinvestimento não fosse realizado, o resultado seria de 237% no período, ou seja, 27% ao ano).
Obviamente, a base de comparação é a mesma nas duas situações, porém o primeiro resultado que mencionei considera o reinvestimento dos proventos em novas ações, assim como a valorização dessas ao longo do tempo.
Já o segundo considera apenas a valorização das ações, dado que o número de ações permaneceu constante ao longo do tempo. Nele, o capital recebido com a distribuição foi usado para qualquer outra finalidade.
Creio que nesse momento a diferença tenha ficado clara, mas caso não, vejamos outro exemplo, dessa vez com uma empresa real, a Taesa, do setor elétrico.
Veja que, no auge da pandemia, em março de 2020, o valor da ação caiu, mas prontamente se recuperou. Com isso, seu histórico de longo prazo apresenta um crescimento constante.
Além disso, a Taesa é uma das empresas que pagam dividendos regularmente aos seus acionistas, como o gráfico abaixo mostra:
Em novembro de 2020, a Taesa (TAEE11) anunciou pagamento de dividendos e JCP para seus acionistas, totalizando R$ 1,36 centavos por ação.
Se você tivesse 10 ações da Taesa (TAEE11), teria recebido R$ 13,60.
Suponha que você tenha investido R$ 30 mil em TAEE11 no início de novembro de 2020, com preço médio de R$ 28,94.
Depois do pagamento e das valorizações na Bolsa, alçando R $32,52 no último pregão do mês, seus 30.000 reais iniciais valeriam R$ 35.118,69 uma valorização de mais de 15% sobre seu investimento.
É dinheiro que entra na sua conta sem você fazer nada.
Dividendos: O grande campeão
Utilizei um exemplo com uma janela de 5 anos, todavia o efeito pode se tornar cada vez maior ao longo do tempo. Pode até parecer pouca a diferença entre reinvestir, na média que mencionei, de 27% ao ano sem reinvestimentos e 33% ao com reinvestimentos, mas lhe garanto que não é bem assim.
Conclusão
Dessa forma, creio que a resposta para nossa pergunta inicial foi realizada, onde faz sentido reinvestir os dividendos e obtendo rentabilidade constante ao longo do tempo.
Fica evidenciado a atratividade existente na estratégia apresentada, mas cabe somente ao investidor decidir se é a melhor decisão para o seu perfil de investimentos. O começo pode parecer complexo, às vezes até inatingível, mas lá na frente é possível colher o fruto de suas boas escolhas.
Muito além de ficar olhando uma tela de computador 24 horas por dia, pare para pensar que uma disciplina mantida ao longo muitos anos, pode ajudá-lo com despesas correntes em um momento que sua renda diminuirá ou até mesmo em um cenário onde você não terá mais renda.
Nesse sentido, quanto mais aportes você fizer, mais dinheiro você receberá no futuro, sem a necessidade de trabalhar mais, gastar mais tempo, aprender conceitos complicados e correr riscos desnecessários.
Não será do dia para a noite, mas você pode dar o primeiro passo nessa direção agora.