A mineração de Bitcoin pode ser sustentável?

Comentamos recentemente que o Bitcoin vem, cada vez mais, atingindo patamares ainda mais altos. Grandes investidores institucionais voltaram em suas opiniões e hoje se permitem dizer que a criptomoeda pode ser sim, utilizada como reserva de valor.

Elon Musk, CEO da Tesla e fundador da SpaceX, Ray Dalio, criador do maior fundo de hedge do mundo, Marcelo Lopez, gerente de fundos de hedge, Fraser-Jenkins chefe de estratégia de investimentos da Bernstein Research, e Stanley Druckenmiller, grande gestor de fundos hedge bilionários, são alguns dos nomes que se manifestaram positivamente sobre a criptomoeda, após duvidarem do seu potencial.

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Fonte: Tradingview

No entanto, o aumento do uso da criptomoeda vem levantando questões relacionadas ao meio ambiente. Isso porque ao se processar a moedas virtual e suas transações, é consumida uma grande quantidade de energia, muitas das vezes até mais do que países inteiros.

Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge, todo o processo de mineração consome cerca de 121,36 terawatt-horas (TWh) por ano, uma quantidade que conforme o estudo, não tende a cair, a não ser que o valor da criptomoeda despenque.

Desse modo, quanto mais sobe o preço do Bitcoin, maior é o seu consumo energético, explica Michel Rauchs, pesquisador no Centro de Finanças Alternativas de Cambridge (CCAF).

O estudo demonstrou que, a partir de estimativas de consumo energético dos países, o consumo de energia provocado pelo Bitcoin é acima do que na Argentina (121 TWh), da Holanda (108,8 TWh) e dos Emirados Árabes Unidos (113,2 TWh). No Brasil o  consumo é de 509,1 TWh.

Minerando Bitcoin 

Para que o Bitcoin possa ser minerado há um esforço computacional enorme, conectado à rede da criptomoeda 24 horas por dia. A partir deles é possível verificar as transações feitas por pessoas que mandaram ou receberam Bitcoin.

A mineração de Bitcoin funciona através de um protocolo SHA-256 de tipo Proof-of-Work (PoW), em tradução prova de trabalho.

Em resumo, o Proof of Work exige que um minerador utilize seus próprios recursos computacionais para gerar hash dos dados do bloco, até que seja encontrada uma solução para o quebra-cabeça.

Para gerar um hash de bloco, o processo de Hashing submete os dados do bloco a uma função de hashing. Esse hash de bloco funciona como uma “impressão digital”, ou seja, uma identidade dos dados de entrada, que é exclusiva para cada bloco.

Esse processo oferece mais proteção contra fraudes no registro das transações. No entanto, mesmo que pareça fácil teoricamente, é importante ressaltar que o computador precisa executar milhões de hashes por segundo para encontrar o número certo, que fornecerá a sequência necessária. Desse modo, além de ser caro, é demorado executar para um bloco.

Funcionamento: PoW

Como recompensa, os mineradores costumam receber pequenas quantias de Bitcoin. No entanto, como a resolução desse enigma é totalmente aleatória, os mineradores basicamente fazem trilhões e trilhões de tentativas.

Todo o processo descrito, como é possível perceber, utiliza bastante eletricidade, uma vez que os computadores trabalham quase constantemente para resolver esses enigmas. Com recursos renováveis limitados é praticamente inviável manter um Blockchain cada vez mais custoso.

Acordo de Criptografia sobre o Clima 

Sem dúvida, as criptomoedas vieram para ficar. No entanto, existe uma preocupação generalizada em relação ao uso intensivo de energia e às altas emissões.

Para que você possa ter uma noção, de acordo com um estudo publicado recentemente na revista Nature, a China é responsável por processar cerca de 80% de todas as transações de bitcoin no mundo, enquanto 40% de suas usinas são alimentadas com carvão.

Esse dado não é uma coincidência, na China o custo de energia é mais baixo na maior parte do país, por conta da matriz energética predominantemente fóssil e extremamente poluente. Dessa maneira, o Blockchain do Bitcoin, consome mais energia poluente e consequentemente gera emissões de carbono.

Como resultado, a poluição climática está crescendo constantemente, mesmo com pesquisas de cientistas alertando que as emissões globais precisam ser reduzidas quase na metade nesta década, de modo a evitar os piores efeitos da mudança climática.

Para muitos, o consumo de energia elétrica das criptomoedas pode se tornar tão alto que a demanda de eletricidade não consiga atender às necessidades da tecnologia. Dessa forma, as empresas poderiam recorrer a combustíveis fósseis da natureza, prejudicando ainda mais o meio ambiente.

Veja também: Bitcoin atinge novo recorde em dificuldade de mineração

Dados esses fatores, o “Acordo de Criptografia sobre o Clima” foi criado por empresas do setor privado, sem envolvimento com governos.

O acordo possui como objetivo eliminar as emissões de uma fonte de carga elétrica de rápido crescimento, fazendo com que todas as cidades possam mudar do modelo de energia atual para energia renovável até 2030, de modo a zerar a  poluição climática, tornando a indústria mais sustentável. O acordo espera ainda, criar um software que possa verificar quanta energia renovável um Blockchain utiliza para movimentar as moedas digitais.

Além disso, existem três objetivos provisórios a serem finalizados, como:

  • Permissão de que todos os blockchains do mundo sejam alimentados por fontes 100% renováveis ​​até a Conferência UNFCCC COP de 2025;

  • Desenvolvimento de um padrão de contabilidade de código aberto para medir as emissões da indústria de criptomoedas;

  • Atingir emissões líquidas de zero para toda a indústria de criptografia, incluindo todas as operações de negócios além de blockchains e emissões retroativas, até 2040.

O acordo tem o apoio de alguns nomes influentes na ação climática e na indústria de criptografia, incluindo a empresa de criptomoedas Ripple, o conglomerado de tecnologia blockchain Consensys, o milionário do clima Tom Steyer e os “campeões do clima” indicados pelas Nações Unidas.

Em uma entrevista recente, Jesse Morris, diretor comercial da ONG Energy Web Foundation, organização global que agrega grandes players de energia e vem trabalhando para acelerar a virada energética no mundo, usando todo o potencial de Blockchains, afirma que a ideia é tornar as criptomoedas um recurso mais sustentável e verde.

“Eu tenho conversado com pessoas do ecossistema Bitcoin, e é um argumento muito simples: se pudermos torná-lo mais verde, será muito mais fácil e menor o risco para outras organizações comprarem mais bitcoin”.

Opiniões divergentes

No entanto, diversas pessoas possuem opiniões contrárias à de Morris. Para o economista Alex de Vries, o Acordo de Criptografia do Clima pode causar mais problemas do que ajudar.

Segundo Vries, embora os custos com energia renovável tenham caído drasticamente, atrair mineradores de bitcoin para lugares com energia renovável abundante provavelmente exigiria pesados ​​subsídios para impedi-los de buscar fontes de combustível mais baratas e sujas.

Para ele o Bitcoin é propositalmente ineficiente e as energias renováveis ​​não podem resolver.

O Bitcoin é alimentado por dezenas de máquinas que mineram as transações financeiras. Cada uma dessas máquinas consome quantidades expressivas de energia para resolver soluções matemáticas que ficam cada vez mais difíceis com o passar do tempo. Dessa forma, não é possível aplicar conceitos de energia renovável às criptomoedas, pois não tem o que reaproveitar.

“Por que você iria querer subsidiar uma indústria que usa energia apenas porque foi criada para desperdiçar recursos? Algumas coisas simplesmente não podem ser consertadas”, complementa.

Bitcoin pode ser sustentável?

Mesmo com todas as barreiras pela frente, os fundadores do projeto acreditam que o futuro do bitcoin possa ser sustentável.

A direção da criptomoeda através da energia solar, eólica ou de gás natural pode ser possível, no entanto, se trata ainda de um pequeno nicho de mercado. O projeto espera uma pressão global, para que haja o desenvolvimento de operações de mineração de Bitcoins sustentáveis ​​em todo o mundo.

Conclusão

Os principais problemas deste projeto ambiental são às duas maiores criptomoedas do mercado, o bitcoin (BTC) e o ether (ETH). Às duas são as principais responsáveis pelas emissões de carbono.

O projeto como um todo busca unificar um setor para achar as soluções do problema. Para ele, os objetivos do plano devem ser definidos por completo até novembro, em tempo para a conferência climática da ONU.

Independente das críticas, os fundadores acreditam que pode ser feito com as criptomoedas, o mesmo do que é realizado nos data centers das gigantes da tecnologia Microsoft e Google, com esquemas de certificação de energia renovável, que estão ativos em mercados em todo o mundo, monitorando a geração de energia renovável . Desse maneira, seria utilizada uma abordagem semelhante para medir o consumo de energia renovável vinculado às atividades de mineração de criptografia.

Para aqueles que acreditam no projeto, é esperado que, conforme as grandes empresas de energia enxergarem os benefícios econômicos da mineração de criptomoedas como Bitcoin, isso poderá levar a uma reestruturação do capital e das operações, com medidas mais sustentáveis sendo colocadas em questão.

Veja também: Vai faltar bitcoin? Estudo aponta menor nível nas exchanges em 3 anos

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