Sem dúvidas há diversos pregões históricos na bolsa de valores do Brasil ao longo de todos os tempos. Alguns de momentos bons, com altas incríveis realizadas, outros com quedas intensas durante algum período, às vezes até mesmo durante um único dia.
O mais recente desses acontecimentos foi justamente no ano de 2020, que ficou conhecido como Corona Day. Do dia 26 de setembro em diante acabou sendo para muitos um período bastante complicado, principalmente para operadores de curto prazo. Em alguns dias, muitos investidores acabaram vendo seu patrimônio acumulado cair de forma incrível.
O Corona Day marcou não só uma queda extremamente acentuada na bolsa de valores brasileira, mas também desencadeou sucessivas quedas intensas durante vários dias, tornando o cenário extremamente negativo para o mercado financeiro até então.
Ao mesmo tempo, esse período teve bastante controvérsia a respeito disso, uma vez que uma parte dos investidores acabou aproveitando a queda para colocar mais dinheiro nas ações em “promoção”, obtendo muito lucro após a recuperação dos preços.
Além disso, para quem estava de fora da bolsa de valores até o dia do Corona Day, acabou se interessando em investir, frente aos preços baixíssimos que as ações tiveram, o que fez com que os ativos de renda variável tivessem cada vez mais adeptos durante este ano.
Apesar das inúmeras vertentes positivas e negativas de sentimento que o dia do Corona Day trouxe a diversos investidores, é inegável dizer que foi um dos grandes pregões históricos dentro da bolsa brasileira e ficará marcado principalmente para quem acabou perdendo fortunas nesse dia ou também ganhando durante esse tempo.
Contexto da queda da bolsa
O coronavírus começou a se espalhar muito rapidamente para fora da China. Os governantes, ainda não sabendo exatamente com o que se estavam lidando, acabaram tomando algumas medidas pontuais de cautela, mas obviamente de forma ineficiente frente a taxa altíssima de contágio do vírus.
Assim que os relatórios a respeito do vírus em diferentes países da Ásia e também da Europa começaram a trazer enorme preocupação às principais economias do mundo, o mercado financeiro logo começou a ficar muito mais cauteloso e alerta do que estava por vir.
Obviamente que jamais se esperou um período tão forte de recessão econômica e de atividade comercial como ocorreu. Desse modo, o Corona Day acabou sendo um período surpreendente para diversos investidores, principalmente aos mais novos, que pelo pânico venderam as ações que tinham a preço de banana, levando grandes prejuízos.
Quando a Covid-19 ainda era conhecida como apenas uma epidemia, os sinais de alerta já começaram a se ligar, o que trouxe uma grande volatilidade no mercado de ações durante os períodos pré-quarentena. Muitas pessoas começaram a ficar com medo do que poderia acontecer, e assim, as operações de venda começaram a ficar cada vez maiores naquele momento.
Essa volatilidade intensa no mercado de ações acabou sendo vista principalmente a partir do dia 24 de fevereiro, dias antes das intensas quedas que marcaram o Corona Day. O presidente Donald Trump acabou proibindo que pessoas de diversos países europeus e asiáticos entrassem nos EUA, o que acabou aumentando ainda mais o temor do mercado.
Corona Day ou Corona Month?
Em termos de costume usado no mercado financeiro, muitos analistas ou investidores gostam muito de frisar acontecimentos marcantes da bolsa brasileira em um único dia, como ficou conhecido o Joesley Day ou o fatídico dia da quebra do banco Lehman Brothers em 2008.
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Embora se goste muito de destacar um dia em específico, a crise da bolsa de valores causada pela pandemia do coronavírus acabou não tendo apenas um dia específico de queda intensa, embora possamos destacar alguns dias em que as quedas foram ainda maiores.
Sendo assim, desde a queda do dia 26 de fevereiro, ao qual o medo realmente se instaurou no mercado financeiro, a bolsa brasileira acabou passando sucessivas quedas, com dias realmente complicados, como foi o dia 9 de março por exemplo e o dia 12 de março também.
O fato é que foi praticamente um mês de quedas intensas que durou do final de fevereiro até mais ou menos o final de março de 2020. Levando em conta todo este período de 1 mês aproximadamente, muitos viram seu dinheiro investido praticamente derreter na maioria dos ativos que possuía, exceto alguns casos de covariância negativa, como o dólar e o ouro.
A covariância negativa refere-se a ativos que acabam se comportamento de forma contrária a bolsa na maioria dos casos. Geralmente são os ativos de proteção do mercado financeiro. Sendo assim, quando há uma queda extremamente acentuada em ativos como ações, por exemplo, os ativos de proteção tendem a ganhar força.
Foi isso que aconteceu basicamente com o dólar e ouro neste ano de 2020. Enquanto a bolsa foi aos poucos derretendo durante os meses de fevereiro e março, o dólar e o ouro iniciaram um período de ascensão no mercado financeiro.
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Corona day: Dias de terror na bolsa de valores
A China foi primeira a ver seus índices derretendo desde o início do ano. Por conta de ter sido o país de origem, este começou a ver uma queda muito antes dos demais países, ligando o sinal de alerta internacional.
No dia 22 de fevereiro, a cidade de Wuhan foi isolada, onde foi o surgimento dos casos do aparecimento do coronavírus pela primeira vez, segundo as informações oficiais. No pregão do dia 23 a China viu seu índice ter uma queda de aproximadamente 2,85%.
A partir do dia 24 de fevereiro, a China não teve pregão durante 10 dias seguidos por conta do ano novo chinês. Na volta do dia 03 de março, a China viu a sua maior queda em 5 anos, de aproximadamente 7,7% só no índice de Xangai. O motivo foi justamente a epidemia, como era considerada até aquele momento, do coronavírus e de temor do mercado financeiro de como isso abalaria a economia.
Nesse mesmo ritmo os mercados mundiais também caíram com a notícia, como podemos avaliar no gráfico a seguir do dia 24 de fevereiro. No Brasil, o mercado acionário não funcionou devido ao carnaval, onde só voltaria no dia 26.
A China passava a informação de um certo controle dos casos de Covid-19 dentro do seu país, o que fez com que muitos países acabassem subestimando a pandemia. Entretanto, por volta do final de semana do dia 22 de fevereiro, as informações e relatórios de casos nos demais países, principalmente na Coreia do Sul, Itália e o Irã, aumentava o medo e a volatilidade do mercado de renda variável.
No dia 25, os mercados continuaram em queda, de aproximadamente 2%. Em Tóquio, esse número ultrapassou os 3%, como podemos ver em outro gráfico:
A partir do dia 26 de fevereiro, o Brasil voltava do carnaval e iniciava o pregão às 13h. Além disso, o governo federal anunciou o primeiro caso de infecção do coronavírus no país, fazendo com que o Brasil tivesse uma das maiores quedas do mercado mundial nesse dia, já que não tinha vivenciado ainda a queda das demais bolsas de valores internacionais.
Foi nesse dia de quarta-feira de cinzas que o índice Ibovespa fechou em queda de 7%. Os demais índices acionários seguiram em direções distintas, mas com a maioria também caindo, principalmente no mercado asiático. A partir desse dia, acabou acontecendo quedas consecutivas no mercado financeiro global, só que agora tinha o Brasil também participando disso.
Foi um dos dias que ficou conhecido na ocasião como o Corona Day no Brasil, com uma queda que não se via desde o dia que todos conhecem como Joesley Day. Mas ainda viriam com o passar dos dias novas quedas ainda maiores, embora esse dia foi o pontapé inicial para o pânico no Ibovespa.
Quanto às ações que mais tiveram queda, o destaque desse dia ficou com as companhias aéreas que viram suas ações despencar mais de 10%. Os 5 destaques negativos desse dia foram:
Ação da empresa | Queda do dia 26/02/2020 |
Gol Linhas Aéreas (GOLL4) | 14,31% |
Azul Linhas Aéreas (AZUL4) | 13,3% |
Metalúrgica Gerdau(GOAU4) | 11,89% |
CVC Brasil (CVCB3) | 11,33% |
Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3) | 10,89% |
No dia 27 o Ibovespa seguiu a linha de tendência de queda, caindo mais 2,59%, enquanto o S&P 500 caía 4,42%. O dólar nesse período, já subia pelo 7º dia seguido e atingiu seu recorde histórico, que na época era de R$ 4,475.
No dia 05 de março, voltou-se a ver uma nova queda forte no índice brasileiro, por conta das baixas negativas no mercado financeiro internacional. O Ibovespa fechou em queda de 4,65% com o dólar em novo recorde de R$ 4,651. As companhias aéreas sofreram quedas até superiores ao pregão do dia 26, como podemos ver na tabela de maiores baixas do dia:
Ação da empresa | Queda do dia 05/03/2020 |
Gol Linhas Aéreas (GOLL4) | 16,77% |
IRBR Brasil RE (IRBR3) | 16,17% |
Azul Linhas Aéreas (AZUL4) | 14,53% |
CVC Brasil (CVCB3) | 9,83% |
MRV (MRV3) | 9,3% |
A título de curiosidade, coincidente foi nesse dia 05 de março, com sucessivas quedas e um momento bastante ruim das companhias aéreas, que que o presidente da CVC Brasil acabou renunciando ao cargo.
No dia 06 de março, nova queda no Brasil de 4,14% no Ibovespa, mas com um viés de alta nas tão prejudicadas companhias aéreas, principalmente para a CVC Brasil, que viu seu papel CVC3 subir 14,4%. Enquanto isso, a VVAR3 caia cerca de 17,19%, liderando a maior baixa do dia.
Depois disso chegou o final de semana e as tensões dos casos de Covid-19 pelo mundo só aumentavam. Até que chegou a segunda-feira, dia 09 de março. Em mais um dia considerado como Corona Day na época, as bolsas derreteram mundo afora, com direito a ativação do circuit breaker, que é um mecanismo de defesa dos investidores quando a bolsa cai mais de 10% no índice brasileiro e cerca de 7% nos EUA.
Nesse dia, o Ibovespa fechou em queda de 12,17%. O S&P 500 fechou em queda de 7,60%, no qual também ativou o circuit Breaker, e o dólar atingiu novo recorde de R$ 4,726. O dia não foi nada fácil para a gigante do petróleo brasileira, a Petrobrás, que foi a que teve a maior baixa em seus papéis. Os destaques negativos desse dia foram:
Ação da empresa | Queda do dia 09/03/2020 |
Petrobrás (PETR4) | 29,70% |
Petrobrás (PETR3) | 29,68% |
Companhia siderúrgica Nacional (CSNA3) | 25,29% |
Marfrig (MRFG3 | 23,89% |
BTG Pactual (BPAC11) | 18,07% |
No dia 10 de março, os investidores aproveitaram para comprar as ações em queda, o que fez com que Ibovespa subisse 7,14%. Porém no dia seguinte, novo circuit breaker ativado, com queda de 10,11% no índice brasileiro, que acabou fechando o dia com baixa de 7,64%.
No dia 12, com dólar rompendo os R$ 5, o Ibovespa aciona o circuit breaker pela terceira vez na semana, caindo mais de 10% e na volta do pregão, acionou o mecanismo pela segunda vez em um único dia, após queda de 15%.
Esse foi um dos dias mais assustadores para quem estava olhando o home broker ao vivo. Nos EUA, a Bolsa de Nova York também acionou o circuit breaker e fechou em queda de 9,51%. O Ibovespa fechou o dia com uma variação impressionante de -14,78%, o pior até então no ano. As maiores baixas desse dia foram quase das mesmas empresas dos pregões de quedas intensas anteriores.
Ação da empresa | Queda do dia 12/03/2020 |
Gol Linhas Aéreas (GOLL4) | 36,29% |
Azul Linhas Aéreas (AZUL4) | 32,89% |
CVC Brasil (CVCB3) | 29,11% |
IRBR Brasil RE (IRBR3) | 27,95% |
BTG Pactual (BPAC11) | 26,86% |
No dia 13, com os leilões de ações, os índices foram impulsionados para cima, com números de módulo parecido aos do dia 12, porém positivos. O Ibovespa e o S&P 500, fecharam o dia em alta histórica de 13,91% e 9,29%, respectivamente.
Até que no dia 16, outra segunda-feira, novo circuit breaker acionado, por conta de uma queda da bolsa brasileira de 12,53% e com fechamento de 13,92%. Nesse dia, a Azul Linhas Aéreas, liderou a queda do dia com -36,87%. O S&P 500, fechava numa baixa de 11,98% também. Assim também aconteceu no dia 18, com queda de 10,35% no Ibovespa e 5,18% no índice americano.
Após isso, as quedas acentuadas deram uma trégua, e se repetiram apenas no dia 23 de março, ao qual o Ibovespa caiu 5,22%, com aproximadamente 63,57 mil pontos em seu menor patamar desde 2017 e a mínima do ano até agora, considerando o mês de novembro de 2020. Até esse momento, o Ibovespa acumulou quase 79% de perdas, desde o pregão da sexta-feira do dia 21 de fevereiro, antes do carnaval e que antecipou o pregão do dia 26, que deu o pontapé inicial a todas quedas vistas e extrema variação nos preços dos ativos.
Após isso, a bolsa brasileira passou por uma gradual recuperação, ficando novamente acima dos 100 mil pontos em 10 de julho de 2020, recuperando cerca de 57% da mínima do dia 23 de março.
A trajetória de todas essas quedas e altas que aconteceram no ano de 2020, com a histórica pandemia do coronavírus, pode ser descrita pelo gráfico a seguir do principal índice da bolsa brasileira, Ibovespa:
Destacamos bastante aqui o cenário brasileiro durante todo esse período. Porém todos os demais índices acionários conhecidos mundialmente, também sofreram com todo esse período. Sendo assim, não foi diferente com o mercado asiático, embora estes acabaram tendo uma queda menos acentuada do que os demais índices.
Aqui há uma comparação entre o índice SSEC de Shangai (azul) e o S&P 500 (laranja), principal índice acionário dos EUA. Os americanos acabaram sofrendo muito com a pandemia, o que fez com que a economia tivesse uma queda acentuada.
A China, por sua vez, acabou lidando de uma melhor forma, possivelmente por conta da preparação um pouco melhor que conseguiram aplicar, conforme os casos iniciais da doença ocorreram, de modo que, como foi o primeiro lugar em que a doença se espalhou, eles já estavam mais cientes do potencial do vírus.
Na Europa, um dos continentes mais afetados pela pandemia, a bolsa de valores despencou de forma muito parecida entre os principais índices, entre eles, o da França (CAC 40 – laranja ), da Alemanha (DAX – azul) e do Reino Unido (FTSE 100 – verde/azul):
Como podemos perceber, embora o comportamento dos preços tenham se dado de forma parecida nos diferentes países, a Alemanha se destacou em sua recuperação, conseguindo subir novamente com mais facilidade do que o Reino Unido e a França.
Conclusão
Os dias de queda históricos da bolsa com certeza ficarão marcados na mente de todos os investidores que participaram desse momento. Há muitas controvérsias a respeito desse período, já que muitos aproveitaram os momentos de intensa baixa nos preços das ações para colocar grandes volumes de dinheiro nesses ativos.
Até por isso, citamos não só as grandes quedas, mas também as grandes altas entre elas ocorridas. Sendo assim, ao passo que muitos investidores, por conta do pânico e por não saberem o que fazer nesses momentos, acabaram perdendo fortunas.
Enquanto isso, muitas pessoas aproveitaram a oportunidade de suas vidas, operando altos volumes de dinheiro durante os pregões de extrema volatilidade e que em algumas oportunidades tinham também altas históricas.
Isso aconteceu nos dias 10 e 13 de março, por exemplo, criando talvez essa relação de amor e ódio na questão financeira desse período, embora a questão de saúde e isolamento social não foi nada favorável para as famílias brasileiras, que sofreram muito com o desemprego em ascensão e o pânico do momento.
Você pode perceber também, que diferente de outros pregões históricos, dessa vez não destacamos apenas um dia considerado o Corona Day, já que as quedas intensas nos sugerem um mês todo de quedas históricas, embora a maior delas tenha ocorrido no dia 12 de março, o que acabou sendo discutível para muitos investidores sobre a definição de um dia ao qual se pudesse especificar como Corona Day, ou como este ficaria lembrado.
Não se sabe exatamente o que ainda se pode esperar mais a frente com respeito a essa pandemia, mas sem dúvida, seja de forma positiva ou negativa, o ano de 2020 ficará na memória da população, assim como também na mente dos investidores que terão grandes histórias para contar.