Muitas pessoas conheceram o Bitcoin em 2017, quando ele emendou uma sequência de altas impressionantes, subindo de US$ 500 para US$ 19,000 no ano inteiro. Naquela ocasião, o ativo valorizou mais de 1700%. Depois disso, os investidores entraram em uma fase difícil, com o preço caindo mês após mês, e terminando em US$ 3,200 em dezembro daquele ano.
O ano de 2017 para criptomoedas foi algo nunca antes visto e que dificilmente acontecerá, ao menos na mesma proporção. Ali, havia sinais claros de histeria e bolha em um ecossistema que ainda não estava nem um pouco preparado para receber tanta demanda. O que acontecia era apenas pessoas comprando criptomoedas para ficar ricas, sem ter uma visão clara do que estavam realmente fazendo.
Leia também:
Quando se percebeu que a maioria das criptomoedas não tinham caso de uso que valesse aquele preço, o mercado desabou. Muitas pessoas não viram valor na proposta do Bitcoin, que na época era entendida como uma moeda digital para pagamentos. As taxas subiram muito e a rede congestionou, muitas pessoas ficaram frustradas e venderam na primeira queda.
Apenas em 2019 que o mercado se recuperou e entrou em tendência de alta, com o Bitcoin voltando para os US$ 13,700 e depois entrando em tendência de baixa novamente. Os dois anos depois da bolha foram extremamente produtivos para criar uma infraestrutura melhor, definir as regras do jogo e criar uma nova narrativa para o Bitcoin.
Histórico do preço do Bitcoin
A infraestrutura de mercado
Nos últimos dois anos, o Bitcoin se financeirizou, principalmente através de derivativos com as bolsas de futuros reguladas como CME e Bakkt. Outra empresa, a Grayscale, também tem sido um canal muito importante para que investidores mais sofisticados possam investir em Bitcoin com mais segurança.
Leia também:
Também foram criadas e melhoradas métricas para entender melhor o valor justo do Bitcoin. Os indicadores fundamentalistas e de rede como HODL Waves, Stock-to-flow, NVT-S, Depósitos em corretoras e endereços ativos também ajudaram a modelar melhor o preço do Bitcoin.
O cenário macro global também ajudou o Bitcoin em 2020. O ativo passou pela sua primeira grande crise. Num primeiro momento, o preço desabou junto com tudo o que é negociado no mercado financeiro, mas logo no mesmo dia, o mercado foi inundado de compradores e o ativo se recuperou mais rapidamente que o mercado de ações (S&P500, NASDAQ e Ibovespa).
Performance de Bitcoin (Azul) vs S&P 500 (Vermelho) em 2020
Investidores mais informados lideram o movimento
Neste ano, é possível ver um ciclo de alta sendo liderado por investidores mais informados. Paul Tudor, um gestor de hedge fund, ainda em maio disse que estava comprando Bitcoin para se proteger da inflação. Mais recentemente, seguindo o mesmo raciocínio uma empresa listada na Nasdaq, a MicroStrategy, comprou mais US$ 250 milhões.
Desta vez, há uma tese de investimento clara e fácil de compreender: os bancos centrais estão induzindo juros negativos nas principais economias e emitindo muita moeda para salvar a economia no pós-pandemia. O dólar está enfraquecendo frente a moedas fortes e ativos escassos como terra, Ouro, Prata e Bitcoin.
Com juros negativos, o grande investidor está destinando parte de seu dinheiro justamente para estes ativos como uma forma de fazer reserva de valor. A exemplo disso, o Ouro está na máxima histórica, Prata também teve grande valorização em 2020 e o Bitcoin vem se beneficiando do movimento, com 67,7% de alta no ano. E ainda não estamos nem perto de uma bolha.
Também é possível ver um grande crescimento de volume e de interesse em bolsas reguladas como Bakkt e CME. O investidor mais informado está montando suas posições nesse mercado. E parece que estamos diante de um tipo de investidor que vai demorar mais para vender suas moedas.
Volume e posições em aberto na CME
Sem sinais claros de bolha
Especialmente a partir de Setembro, o Bitcoin virou mania. Era muito frequente ver canais de TV e sites de longo alcance falando sobre pessoas que ficaram ricas com a valorização, ou sobre o próprio ativo em si. O tráfego de sites e corretoras relacionadas a isso também estava nas máximas. O interesse por Bitcoin também estava em seu ponto alto no Google.
Interesse por Bitcoin em todo o mundo
Indicadores do próprio mercado futuro, que se tornaram importantes de 2 anos para cá, também indicam que ainda tem chão para que este movimento de alta continue por um bom tempo até que o ciclo mude para tendência de baixa novamente.
Um destes indicadores é o Funding Fee, que de certa forma reflete a demanda de empréstimos de Bitcoin para usar como alavancagem. Em ciclos de alta, o Funding explode e se torna muito mais caro abrir posições alavancadas em contratos futuros para apostar na alta de Bitcoin. Hoje, esta taxa não está nem próxima do que ela já esteve 2019.
Bitcoin vem subindo devagar e com consistência, e ainda nem atraiu os investidores de varejo. Hoje, o investimento da moda está na bolsa. Nem mesmo a grande retração no mercado de ações conseguiu espantar os novos investidores. Nos Estados Unidos, aplicativos como CashApp e Robinhood viraram fenômenos de popularidade entre jovens.
Leia também:
Enquanto os grandes investidores desfaziam suas posições, a geração “Robinhood” entrava comprando mais ações, principalmente de tecnologia. Por outro lado, Bitcoin continua temporariamente “escondido”, até que os “garotos da Robinhood” o encontrem, aí claramente o Bitcoin estará caminhando para entrar em uma nova bolha.
Mas enquanto isso não acontece, investidores mais informados vão aos poucos montando suas posições. Ainda tem um longo caminho pela frente, e o sentimento de todo mercado é que Bitcoin tem grande chance de superar ainda em 2020 os US$ 20,000.