DI Futuro – Saiba o que é e como funciona

 

A variação da taxa básica de juros da economia (Selic) é um dos movimentos mais constantes no mercado financeiro. A cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central, se reúne para decidir o futuro da taxa de acordo com a situação econômica do país. Essa decisão é baseada em diferentes fatores, tais como as expectativas e resultados do PIB, inflação, taxa de desemprego, dívida pública, etc. 

Ou seja, em um contexto onde a inflação esteja alta, a Selic também tende a subir para frear o consumo da população. 

Em síntese, a taxa Selic serve como instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação. Além disso, ela é capaz de influenciar todas as outras taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras. Bem como, outras variáveis que também são influenciadas através dos juros, como o Dólar (câmbio), política fiscal interna, commodities, etc. 

O que talvez você não saiba, caro leitor, é que a variação da Selic impacta também o funcionamento de todo o mercado financeiro. E por conta disso, muitos investidores passaram a aplicar seu dinheiro em ativos que buscam blindar as oscilações do mercado, São os chamados contratos de juros futuros. 

Veja também: Selic a 2% e fim do forward guidance. Mas o que isso significa?

DI Futuro

Os contratos de juros futuros, mais conhecidos como DI Futuro, são acordos de compra ou venda sobre a expectativa da taxa de juros, entre o dia da negociação e uma data futura, baseada na data de vencimento do contrato. 

A taxa tem origem no CDI (Certificado de Depósito Interbancário) que representa os juros médios praticados nos empréstimos entre bancos. A DI está geralmente próxima à Selic, servindo como principal índice de referência do mercado de renda fixa. Assim sendo, o DI futuro mostra a expectativa do mercado sobre a taxa de juros para os próximos meses ou anos.

O contrato futuro de DI baseia-se nas taxas médias calculadas pela Cetip (Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos), que espelham o custo médio praticado nas operações de troca de disponibilidade de recursos entre instituições financeiras para curtíssimo prazo. 

Podemos dizer que o Depósito Interfinanceiro (DI) representa uma operação de empréstimo entre bancos e que a taxa média DI da Cetip representa a taxa referencial básica do custo das operações interbancárias.

Ou seja, esses contratos consideram que, embora no presente, a taxa de juros seja x, as interpretações de cada investidor, podem levar a crer que em determinada data ela será y. Com isso, o investidor busca negociar contratos futuros de DI para lucrar o máximo possível, acreditando na alta ou queda dos juros por meio dos contratos.

Utilizando o exemplo da inflação, no cenário em que esta se encontra alta, irá gerar déficit para a economia brasileira e consequentemente, haverá um possível aumento na SELIC. De forma oposta, uma queda no DI futuro, significa uma expectativa de melhora da economia, onde ocorrerá uma redução da taxa de juros. Dessa forma, muitos investidores passam a apostar na estimativa da Selic no futuro e tentam lucrar caso estejam corretos. 

Como funcionam o DI Futuro?

O DI Futuro demonstra a expectativa do mercado para a taxa de juros efetiva que será acumulada entre a data atual e a data final do contrato, que sempre ocorre no último dia útil do mês.

O Contrato Futuro de DI é negociado pela B3, com lote padrão de 5 contratos, seu código de negociação é formado pelo radical DI1, acrescido da letra referente ao mês de vencimento do contrato e de dois números referentes ao ano de vencimento do mesmo.

letras - FUTURO DI

Seu Preço unitário (PU) é multiplicado pelo valor em reais de cada ponto, sendo cada ponto equivalente a R$1,00 (um real). O contrato vale 100.000 pontos no vencimento, mais a aplicação da taxa pré-fixada, ajustada ao número efetivo de dias entre o vencimento e a negociação. Portanto, com o valor de R$ 100.000,00 por contrato, cada operação de DI Futuro negociada no mercado vai sendo corrigida diariamente pela taxa DI de cada dia até o seu vencimento, tendo como base 252 dias úteis.

Para negociar a taxa de juros no mercado futuro, o investidor precisa ter depositado na conta margem da corretora um percentual do valor total dos contratos negociados. As corretoras também costumam aceitar títulos públicos (tesouro direto), certificados de depósitos bancários (CDB), ou ações de empresas como margem de garantia. 

Além disso, o Mercado BM&F permite a venda à descoberto de DI Futuro, ou seja, o investidor não precisa ter uma posição comprada em aberto neste contrato para vendê-lo.

Para que serve o DI Futuro?

Entendemos que a oscilação na taxa de juros possui efeito volátil e dinâmico para grande parte do mercado, seja para as empresas que terão de pagar juros maiores ou menores em seus empréstimos, quanto para os bancos que terão de cobrar mais ou menos juros. 

Logo, os Contratos futuros de DI provêm maior estabilidade e proteção aos investidores, fixando os valores da Selic para diferentes prazos no futuro, funcionando como instrumentos de proteção e gerenciamento de risco para o mercado. Tendo em vista que, uma vez que a taxa para uma data futura já foi definida, o investidor não precisará se preocupar com sua variação até lá.

Ou seja, os investidores realizam operações com Contratos futuros de DI com a finalidade de fazer hedge (proteção) contra oscilações na taxa de juros de algum contrato financeiro. Fazendo com que, por meio de sua flexibilidade, os Contratos futuros de DI sejam os instrumentos mais atrativos para administrar portfólios de renda fixa.

Tipos de Contratos futuros de DI

Há dois tipos de hedge que podem ser feitos nos contratos futuros de DI, Contratos futuros prefixados e Contratos futuros pós-fixados.

Contrato futuro prefixado

Neste tipo de contrato há uma dívida com juros pós-fixados (variável) e a estimativa é de juros maiores no futuro. Portanto, o investidor vende um contrato futuro prefixado, com a taxa atual, se protegendo contra a alta.

Contrato futuro pós-fixado

Neste tipo de contrato há uma dívida com juros prefixados (determinado antecipadamente) e a estimativa é de juros menores no futuro. Dessa forma, o investidor compra um contrato futuro pós-fixado, com a taxa do dia do vencimento, pagando assim juros mais baixos.

Liquidação 

O DI Futuro vence no primeiro dia útil do mês de vencimento do contrato. No entanto, o investidor pode liquidar sua posição antes do dia de vencimento do contrato, basta apenas negociar o mesmo contrato assumindo uma posição oposta à posição em aberto. A liquidação financeira termina com a apuração final dos ajustes diários.

Exemplificando DI Futuro

Um banco XXX, emite um título de DI com taxa de juros de 6% ao ano, em 1º de outubro de 2020, com vencimento em 1º de março de 2021.

Sabendo que o valor no vencimento é de R$ 100.000, calcularemos o valor presente pela seguinte fórmula:

Valor atual = 100.000 / (1 + Taxa Pré equivalente ao DI Futuro % a.a.) ^ (dias úteis/252)

Nesse caso,

Valor atual = 100.000/ (1+ 6%) ^ (110/252) = 97.494,39

Nesse exemplo, contrato de DI teria um valor atual de R$ 97.494,39.

Ganhando dinheiro operando DI Futuro

Entendido que o valor dos contratos é ajustado diariamente em função da variação na taxa DI praticada. O investidor que decide manter a sua posição até o vencimento, recebe ou faz pagamentos de acordo com essa variação diária.

Assim, quando se opera Contrato futuro de DI, o investidor busca o ganho com a possível diferença na taxa DI entre o dia da aquisição e o dia do vencimento do contrato.

Assim, usando o exemplo anterior, imagine que a taxa DI tenha variado, durante aquele período, de 6% para 6,5%. Nesse caso, no vencimento, o investidor receberia 100.208,38 ao invés dos 100.000, pois:

97.494,39 x (1,06) ^(110/252) = 100.208,38.

Quando o mercado tem a expectativa de redução da taxa Selic no longo prazo, os Contratos futuros de DI são negociados a taxas mais baixas. Se, ao contrário, o mercado passa a trabalhar com a expectativa de elevação da taxa Selic no longo prazo, os Contratos futuros de DI passam a ser negociados a taxas mais altas.

Além disso, quando ocorre uma crise ou instabilidade política, os juros futuros tendem a subir. Isso ocorre porque a percepção de risco dos investidores aumenta.

Nesta manhã, por exemplo, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subia a 3,44%, de 3,39% no ajuste de sexta-feira. Já o DI para janeiro de 2023 marcava 5,20%, enquanto o vencimento para janeiro de 2027 caía para mínima de 7,40%, de 7,50% no ajuste anterior.

2022Fonte: TradingView – Gráfico Futuro DI – Janeiro de 2022

Essa alteração ocorre devido ao nervosismo do mercado, em meio a pressão política para o impeachment do presidente Jair Bolsonaro, além do temor sobre o desequilíbrio fiscal brasileiro. 

Custos de negociação 

Além da margem de garantia para comprar ou vender DI Futuro, o investidor deverá arcar com a taxa de corretagem cobrada pela corretora pela intermediação da operação.

A taxa de corretagem é variável e baseia-se, normalmente, na Tabela TOB (Taxa Operacional Básica) sugerida pela B3, 3,00% sobre o volume financeiro total envolvido na transação. No caso de operações Day Trade, a taxa de corretagem sobre a compra ou venda de DI Futuro é de 1,50%.

Vantagens 

Em primeiro lugar devemos destacar seu elevado grau de liquidez, que garante a formação de preços em ambiente competitivo e com total transparência. Além disso, trata-se de um contrato futuro referenciado em uma taxa amplamente divulgada e conhecida pelo mercado.

Além disso, o DI Futuro é uma excelente ferramenta para a gestão de risco de taxa de juros, possibilitando a troca de ativo/passivo referenciado em taxa DI em taxa prefixada.

Imagine que você possua uma dívida onde juros são corrigidos pela taxa DI, sua maior preocupação é que haja um  aumento da taxa DI no futuro, que consequentemente elevará suas despesas com juros. Pensando nisso, você negocia DI Futuro, como forma de travar os juros que irá pagar em sua dívida. 

Se no cenário 1, onde a taxa DI estiver subindo, você ganhará dinheiro nos contratos e perderá dinheiro na dívida. No cenário 2, onde a taxa DI estiver caindo, você perderá dinheiro nos contratos, mas reduzirá seu gasto com a dívida. Portanto, você conseguirá saber de antemão a taxa final que pagará de juros.

Conclusão 

Apesar dos Contratos futuros de DI ainda não serem acessíveis ao investidor pessoa física, conforme dados levantados na B3, por conta do seu valor nominal, observa-se que o DI Futuro possui uma grande demanda pelos players institucionais, na composição de fundos e carteiras. 

FUTURO DI Fonte: B3

Essa escolha é justificada devido ao fato de proporcionar maior proteção contra o risco de volatilidade sobre a taxa de juros do mercado. Com a solidez do mercado de derivativos no Brasil espera-se que haja a criação de mini Contratos de Futuro de DI, onde o investidor pessoa física será capaz de operar, estabelecendo ainda mais os Contratos de Futuro de DI. 

Veja também: O dilema do Banco Central Brasileiro: manter ou subir a Selic?

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