Juros de 0,0000148% atraiu forte demanda por uma oferta de títulos no Japão, à medida que os investidores clamavam por um refúgio segura em meio à pandemia, mesmo que o título lhes pagasse quase nada.
A Organização de Serviços para Estudantes do Japão precificou 30 bilhões de ienes (US$ 278 milhões) em títulos públicos de dois anos de maturação na sexta-feira com um cupom de 0,001% e um preço de 100,002 ienes, o que equivale ao rendimento quase zero. Os pedidos totalizaram cerca de 2,5 vezes a quantidade vendida, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
O Japão tem sido o lar de exemplos impressionantes que mostram como investidores vão correr atrás de qualquer rendimento que puderem encontrar em títulos mais seguros, uma tendência que se tornou global e intensificada pelo alívio monetário para amortecer as economias dos danos econômicos causados pela pandemia de Covid-19.
Os títulos da Jasso, uma agência administrativa independente que oferece empréstimos para estudantes, são classificados como AA + pela Rating & Investment Information.
Os títulos de Jasso atraíram forte demanda de investidores que estão aumentando sua participação em ativos ambientais, sociais e de governança. Os compradores variavam de fundos de pensão, bancos e investidores estrangeiros, de acordo com pessoas conhecidas, que pediram para não serem identificadas porque os detalhes são privados.
A organização tem um histórico de acordos de dívida notáveis. A empresa precificou o primeiro título de agência de menor rendimento do Japão no ano passado, quando vendeu uma nota com um cupom de 0,001% e um preço de 100,003 ienes, atingindo um rendimento de cerca de 0,0005%.
Juros zero está virando tendência
Imagine que você seja um investidor procurando um local para guardar seu dinheiro. Naturalmente, você não quer arriscá-lo no mercado de ações. Afinal, o objetivo é só guardá-lo sem se importar muito com a rentabilidade. No Brasil, o caminho natural para isso é a poupança e os títulos de renda fixa.
O problema, é que as economias mais desenvolvidas não possuem taxas de juros tão elevadas como o Brasil. Isso acontece porque o risco destas economias é baixo e, por isso, não há necessidade de elevar juros para atrair investidores estrangeiros. Um exemplo disso é comparar as taxas de juros de países em desenvolvimento com os juros de EUA, Japão e alguns países da Europa.
Taxas de juros dos EUA, Inglaterra, Europa e Japão
Em alguns casos, as poupanças e os títulos de renda fixa, também conhecidos como (bonds), rendem juros negativos. Ou seja, você precisa pagar para emprestar dinheiro, ao invés de receber por tê-lo emprestado. Isso é bem contra-intuitivo, embora seja a realidade em muitos países desenvolvidos.
Para não perder dinheiro, alguns investidores compram Ouro, tradicional ativo de reserva de valor, ou investem em ações, ou vão para mercados que oferecem rendimentos melhores, mas sempre assumindo um risco a mais.
Qual é o objetivo de uma taxa de juros negativa?
Em nosso post sobre ferramentas dos Bancos Centrais, explicamos mais detalhadamente cada política que eles podem executar. Basicamente, um Banco Central tem o objetivo de ser o “guardião” da moeda de um país e também o dever de estabilizar a economia em caso de choques externos.
Para exercer essas duas funções, um Banco Central pode aplicar várias políticas, sendo a principal delas na taxa de juros. Idealmente, juros mais baixos facilitam o acesso a crédito tanto para investidores quanto para consumidores, criando uma demanda na economia e fazendo com que ela tenha crescimento de renda e emprego.
Um cenário de juros negativos cria a chamada “liquidez”, onde o dinheiro flui na economia com mais facilidade. Com isso, a economia passa a ter crescimento. No entanto, existem variáveis que os Bancos Centrais precisam estar atentos: se essa política seguir por muito tempo, a inflação será um problema. Em países subdesenvolvidos, o câmbio irá desvalorizar.
Caso os dois problemas comecem a se tornar persistentes e crescentes, os Bancos Centrais vão elevar a taxa de juros, contendo a inflação e a queda da taxa de câmbio. No entanto, ele estará retirando a “liquidez” da economia e a atividade irá diminuir.
Ou seja, juros, câmbio e inflação são trade-offs que os Bancos Centrais precisam lidar constantemente. De certa maneira, isto é conhecido como o “Trilema de Mundell-Fleming”. Onde é impossível que um Banco Central mantenha um gerenciamento de taxa de câmbio, autonomia nas suas políticas e mobilidade de capitais.
Informações da Bloomberg