Já parou para pensar que as suas decisões financeiras podem não ser tão racionais quanto você pensa?
O assunto de hoje não será sobre nenhum tipo de investimento, o que pretendo realizar aqui é uma viagem aos mais profundos pensamentos da mente humana. Através da psicologia financeira, iremos buscar repostas para como nos relacionamos à forma como lidamos com os nossos investimentos.
Mas afinal, poderiam os fatores psicológicos ser capazes de fazer julgamentos e tomar a melhor decisão sobre investimentos?
Para Benjamin Graham, precursor da estratégia buy and hold, o maior inimigo do investidor é ele mesmo.
Isso significa que nossas emoções podem influenciar nossas escolhas, e que esses nem sempre irão propiciar os melhores resultados.
Para que isso não ocorra é essencial que o investidor possa controlar suas emoções, conhecer os vieses comportamentais, a fim de que as decisões de investimentos sejam pautadas em argumentos lógicos.
Vieses comportamentais
Sabemos que os vieses comportamentais dos investidores, demonstram como o comportamento pode afetar nas decisões sobre investimentos, simplificando a percepção e a avaliação das informações.
Trata-se de uma defesa natural do nosso cérebro em relação ao bombardeamento de informações que ocorrem no nosso dia a dia. Elas garantem que possamos ter rapidez de resposta, no entanto, podem nos induzir a erros de percepção, avaliação e julgamento que escapam da racionalidade.
De forma geral, esses erros sistemáticos podem levar a desvios de lógica e decisões irracionais. Onde na hora de investir seu dinheiro, os investidores são guiados por crenças e julgamentos pessoais.
Os principais vieses na psicologia financeira
Vejamos os principais vieses, destacados nos estudos de psicologia financeira, que impulsionam os pensamentos inconscientes, nos quais o investidor encontra-se normalmente vulnerável.
Ancoragem
Aqui a primeira impressão é a que fica. Ou seja, o viés da ancoragem está ligado intrinsecamente a de natureza associativa, fazendo com que uma informação inicial tenha maior peso na tomada de decisão.
Por exemplo, digamos que você viu o preço de uma ação a R$ 40,00, enquanto uma outra custa R$ 20,00. Pelo viés de ancoragem, a tendência é achar que a de R$ 20,00 é mais vantajosa, apenas porque uma que custa o dobro foi apresentada antes.
Aversão à perda
Richard Taller, economista e ganhador de um prêmio Nobel, demonstrou em seus estudos que os seres humanos são totalmente avessos a perdas. Isso quer dizer que a dor de perder R$100 é muito maior do que a felicidade por encontrar o mesmo valor.
No mercado financeiro, a ideia prevalece. Se ganhar dinheiro nos traz alegria, a dor e o desespero causados por ver seu patrimônio ruir pela metade são substancialmente maiores.
Por conta disso, observamos muitos investidores vendendo suas ações em março de 2020. Ativos que muitas das vezes possuíam bons fundamentos e que futuramente foram lucrativos e promissores, mas que foram deixados de lado, por receio de perder o que já foi ganho.
Falácia do jogador
A Falácia do Jogador traz ao investidor falha de compreensão no cálculo da probabilidade de um acontecimento. Ou seja, em um jogo de “cara ou coroa”, onde “cara” tenha aparecido muitas vezes seguidas, leva a acreditar que a probabilidade de sair “coroa” na próxima jogada seja maior. Quando, na verdade, cada jogada tem 50% de chances para cada.
Ao idealizarmos para o mercado financeiro, o investidor pode ter a falsa sensação de que imaginar que, após valorizações seguidas de um mesmo papel, ele irá cair em breve, sem que haja nenhum dado ou realidade concreta, apenas crenças.
Confirmação
Esse viés tende a buscarmos informações que ilustram apenas as nossas próprias convicções. Ou seja, o investidor pode defender fielmente a empresa, mesmo que seja comprovado escândalos envolvendo fraudes contábeis na companhia. Neste caso, o investidor acredita que sua crença possui mais valor maior do que as opiniões negativas veiculadas.
O investidor que já tenha desenvolvido uma relação de confiança e satisfação com uma empresa tende a atribuir uma importância maior às opiniões favoráveis sobre ela. Consequentemente, fica mais propenso a investir em seus papéis, mesmo que se depare com análises negativas.
Autoconfiança excessiva
O viés da autoconfiança excessiva leva o investidor a acreditar que ele está sempre certo, construir e identificar padrões onde não há nada. Para este tipo de viés, eventuais erros de escolha são consequência de fatores externos.
Impaciência
O ser humano é um ser impaciente por natureza, talvez seja as consequências do mundo moderno, onde o tempo literalmente voa. No entanto, quando o assunto é investimentos, esperamos que os resultados apareçam de forma milagrosa e nos frustramos quando eles não chegam na velocidade desejada.
A falta de realizações no curto prazo faz com que muitos desistam antes de os resultados aparecerem. Isso acontece porque o sacrifício é imediato, enquanto o benefício é difuso e está muito no futuro.
Evitando os vieses
Acabar de vez com os vieses cognitivos não é uma tarefa fácil, pois tudo ocorre no seu subconsciente. O comportamento muitas vezes não é racional, onde as decisões são frutos da emoção, do desespero e da incerteza, o que torna o investimento imprevisível.
Através da psicologia financeira é preciso reconhecer esses vieses e compreender que o mercado está sujeito a erros sistemáticos e as decisões de investimentos devem ser baseadas na análise de rentabilidade, custos e riscos envolvidos. Evitando tomar decisões em momentos de alta carga emocional ou até mesmo cansado, ou com fome.
Bolsa é todo dia
Os investidores, tomados pela impulsividade, enxergando a bolsa em março, vendo os preços desabando, concluíram que o mundo iria acabar. Spoiler, não acabou. O que todo investidor deveria entender é que é impossível querer aproveitar somente os bons momentos de mercado sem, eventualmente, estar exposto à volatilidade de curto prazo.
Saiba também que não existe oportunidade única e imperdível. O mercado está aberto todo dia, com oportunidades aparecendo a todo momento.
Aprenda psicologia financeira
Se não levarmos em conta as decisões emocionais e automáticas das finanças comportamentais, os modelos econômicos serão falhos para explicar o funcionamento dos mercados.
Talvez seja contra intuitivo, mas o ato de ganhar dinheiro no mercado é perigoso. De certa forma, ele contribui com a formação dos vieses, tornando o investidor mais corajoso, disposto a dobrar as apostas pensando em maiores ganhos. Decisões enviesadas ou tomadas de maneira automática podem comprometer os resultados dos investimentos.
Lembre-se que a pressa é inimiga do investidor em Bolsa. Se há uma desvalorização muito grande em certo ativo, mas os seus fundamentos não mudaram, por qual razão iríamos nos desfazer dele?! Então tenha calma, os benefícios da Bolsa são de longo prazo.
Nosso cérebro pode ser um grande aliado ou inimigo, tudo depende da forma que usamos. Quando o assunto é sobre investimentos, postergar a decisão de se educar e de se tornar um investidor melhor vai apenas deixá-lo cada vez mais distante da sua liberdade financeira.
Entender um pouco de Finanças Comportamentais poderá te ajudar a se tornar um investidor mais racional e a tomar as melhores decisões.