No último mês, o preço do petróleo desabou diante de um choque entre a Arábia Saudita e a Rússia. Ambos países discordaram sobre a política de preço do petróleo. Os árabes queriam cortar a produção para que o preço acompanhasse a menor demanda por conta do COVID-19.
Os Russos queriam aumentar a produção para enfrentar as consequências do vírus. No dia 9 de março, o acordo fracassou. Sem consenso, russos e árabes começaram a produzir petróleo em maior capacidade, iniciando uma guerra no preço do petróleo.
Como consequência, o preço do petróleo teve uma queda que o deixou nos níveis de 2001. Sobrou inclusive para o mercado de ações, que interpretou o fracasso do acordo como uma péssima notícia.
O preço do barril do petróleo era de US$ 63 no começo do ano de 2020. Hoje (15/04), o mesmo barril está cotado a US$ 19, o que representa uma queda de quase 70% em pouco mais de 4 meses.
No Brasil, desde o começo de 2020, a gasolina caiu 48% na distribuidora, que cobra R$ 0,99 centavos por litro. Em 2005, a mesma quantidade era vendida por R$ 1,92. A queda também reflete nas ações da Petrobrás, principal empresa de combustíveis e petróleo no Brasil. As ações da empresa caíram mais de 43% desde o começo de 2020.
Aeroportos, rodoviárias, transporte público, veículos e indústrias, todos os maiores consumidores de petróleo praticamente pararam suas operações. O trânsito de veículos caiu quase pela metade nas grandes capitais. Com tamanha redução na demanda de petróleo, praticamente não há pressão para que o preço volte a subir para o curto prazo.
Redução do preço de combustível não deve chegar nas bombas
Desde 2016 o preço da gasolina no Brasil sempre segue a referência do preço do Petróleo, que é cotado também em dólares americanos. Embora a gasolina esteja relativamente barata, dificilmente a redução total chegará nas bombas dos postos, que é onde o consumidor final compra.
No Brasil, a gasolina tem uma grande cadeia de custos e de impostos. Para chegar até o posto, é preciso comprar na distribuidora, que revenderá com lucro e depois repassará para os postos, que também colocarão sua margem de lucro contando com impostos, que chega a ter um peso de 45% no preço do combustível para o consumidor final.
Logo, dificilmente a redução do preço da gasolina na distribuidora é integralmente refletida no preço final. Ainda assim, já é possível ver queda de 8% no preço dos combustíveis nos postos, diante de uma demanda 60% menor de clientes. As medidas de restrição de locomoção e afastamento social atingiram fortemente os postos.
Para evitar acumulação de estoques, a Petrobrás também anunciou uma redução na produção de gasolina, o que deve reduzir a velocidade da queda. Outro problema é a queda de arrecadação dos governos do Estado e da União.
Para compensar a queda, governos estaduais devem aumentar a tributação sobre combustíveis, o que torna ainda mais difícil uma maior redução no preço da gasolina.
Recessão já é certeza
Além de trazer problemas para sistemas de saúde e para famílias, o Coronavírus colocará a economia global na mais forte recessão desde a grande crise de 1929, resultando em desemprego, diminuição da renda do trabalhador e forte queda na atividade econômica.
Portanto, é difícil imaginar que a demanda por combustíveis cresça nos próximos meses, já que grande parte da demanda vem de aeroportos e rodoviárias para viagens. Além disso, o volume de carros circulando, de veículos sendo adquiridos também deverá cair.
O Petróleo é fortemente afetado pela dinâmica da economia. Quando a atividade econômica está fraca, o preço do petróleo tende a diminuir. Por outro lado, quando a economia é mais pujante, o preço do commodity tende a subir diante da maior demanda por fontes energéticas.
Além disso, o Coronavírus deverá trazer mudanças nas relações de trabalho e comportamento social, estabelecendo novos hábitos e acelerando a digitalização dos negócios. Dificilmente o mundo voltará a ser o mesmo depois da epidemia.