Os méritos do fato de a Economia ir bem ou mal sempre geralmente recaem na responsabilidade do Presidente da República, principal representante do Poder Executivo. Afinal, ele é o que está na parte de cima da hierarquia de poder na política brasileira. No entanto, poucas pessoas imaginam que um dos principais responsáveis pelo direcionamento da Economia é o Ministro da Economia.
A Economia é um dos fatores mais importantes para o país, pois dependendo dos rumos, ela pode mudar as relações sociais e, consequentemente, políticas que já estão estabelecidas. Por isso, a escolha de um Ministro da Economia é uma das mais importantes antes de o Presidente sentar na cadeira.
De fato, a Economia é feita por pessoas consumindo, empreendendo e interagindo. Contudo, nos últimos 2 séculos os governos passaram a ter um protagonismo maior, direcionando a produção e interferindo nas relações comerciais. Com isso, a figura de um Ministro passou a assumir um papel cada vez mais importante.
A Economia não é como imaginam
O preço da carne subiu? A culpa é do Presidente. O preço das passagens teve que ser reajustado? A gasolina está custando mais caro? A responsabilidade disso tudo é atribuída diretamente aos que estão no governo. E isso criou um falso imaginário de que toda a dinâmica econômica pode ser mudada se o ministro apertar um botão.
Na Economia, costumamos falar que há dois lados: o que se vê e o que não se vê. Um ministro pode congelar preço dos produtos, estabelecer preços máximos e mínimos, proibir reajustes e tudo mais. No mercado, o consumidor verá apenas o produto com seu preço estável na prateleira.
Por trás de uma medida tão simplista como essa, há uma série de problemas de produção, desabastecimentos, piora da confiança dos empresários no país, aumento da tensão e muitos outros problemas invisíveis para quem não possui esse entendimento. Esse é o lado que não se vê nas medidas econômicas exageradas.
Portanto, não é só o Ministro da Economia apertar um botão que o preço dos produtos vai cair, ou que a Economia vai começar a crescer e gerar emprego. A Economia é um organismo extremamente complexo e interconectado entre diferentes pessoas e países, sendo o objetivo do Ministro entender como isso funciona e dar um melhor direcionamento.
Qual é o papel do Ministro da Economia?
A questão de direcionamento da Economia é: qual a melhor maneira disso ser feito? Uma Economia não é perfeita e jamais poderia ser, pois ela é uma dinâmica complexa e composta por seres humanos, que estão sempre passíveis a cometerem erros de avaliação e previsão, criando assim instabilidades econômicas.
É por isso que existem recessões e picos acelerados de crescimento. Informações, métodos produtivos e preferências estão sempre mudando. Em alguns momentos, alguns setores crescem mais do que deveriam, em outros, estão com uma capacidade subutilizada. As correções são necessárias para evitar maiores distorções.
Nas economias de livre mercado, a figura do estado e do Ministro da Economia era bem limitada ou quase inexistente, pois a ideia dominante era de que o mercado deveria se autorregular e corrigir as distorções por ele mesmo. Contudo, no século XX, principalmente depois da Primeira Guerra Mundial, as figuras de Estado e Ministro começaram a ganhar mais peso.
Hoje, na Economia moderna, o estado deve, através do ministério, promover políticas econômicas que prezam pela estabilização, crescimento e desenvolvimento da Economia de um país. E o ministro deve estar alinhado com o pensamento do presidente, que por sua vez foi eleito pela população.
A caixa de ferramentas do Ministro da Economia
Um Ministro da Economia geralmente tem graduação de Economia, Engenharia, Administração, Direito ou especialização em alguma dessas áreas, além disso, também são pessoas extremamente notáveis em suas áreas. Por exemplo: Paulo Guedes enriqueceu no mercado financeiro, enquanto Fernando Henrique Cardoso foi um grande acadêmico.
Os ministros não trabalham sozinhos e também não têm máxima autoridade. Eles precisam trabalhar em conjunto também com o Banco Central do Brasil e BNDES, onde seus diretores também são indicados pelo Presidente. Contudo, apesar de estarem no “mesmo barco” podem surgir atritos ou diferenças de pensamento.
Na Economia moderna, venceu o método considerado como “Economia ortodoxa”, que utiliza principalmente análises econométricas e que defende um Estado intervindo na Economia através de políticas de cunho monetário, fazendo o país crescer através da manipulação da taxa de juros e crédito sem comprometer endividamento e gerar inflação.
A outra metodologia, conhecida como “heterodoxa”, defende uma Economia guiada por um Estado que financia obras públicas, assuma a direção da produção e que conviva com um mínimo de inflação. Em todo momento, algum país alterna entre presidentes e ministros que possuem essas duas visões.
As políticas que um ministro têm a sua disposição são:
- Controlar a inflação;
- Administrar a dívida pública;
- Pensar em conjunto com Banco Central políticas sobre juros, dinheiro e crédito;
- Coordenar política de gastos públicos, restringindo ou expandindo os gastos;
- Elaborar políticas de desenvolvimento e crescimento econômico.
Os principais Ministros da Economia no Brasil
Com o passar dos anos, a figura do ministro se fez cada vez mais importante em Brasília. O governo vem cada vez mais aumentando suas formas de controlar a Economia para direcioná-la de acordo com seus interesses. Por isso, a escolha de um nome para o antigo Ministério da Fazenda (hoje Economia) sempre resulta em discussões e questionamentos.
Diante de todos os fatores apresentados aqui até agora, separei uma lista com os 3 nomes, em minha visão pessoal, que foram os mais notáveis até hoje. Embora seja importante ressaltar, que os presidentes do Banco Central também exerceram um grande papel na Economia.
Fernando Henrique Cardoso
Foi colado literalmente em uma “fogueira” quando assumiu o até então Ministério da Fazenda, hoje unificado no Ministério da Economia. O Brasil estava recolhendo os cacos do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, com uma inflação fora de controle e uma população cada vez mais insatisfeita com o Presidente Itamar Franco.
Poucas pessoas sabem, mas a estabilização da inflação brasileira não começou com Fernando Henrique na presidência, e sim com sua entrada como Ministro da Fazenda. FHC contou com uma equipe brilhante de economistas como Pérsio Árida e Gustavo Franco no Banco Central para ajudar a estabilizar a moeda brasileira.
Desta união surgiu o Plano Real, utilizado até hoje. O Real pareou a moeda brasileira no dólar e trouxe grande estabilidade, aumentando o poder de compra da população brasileira de uma maneira sem precedentes. O sucesso foi tão grande que FHC conseguiu se eleger, e logo em seguida reeleger, como Presidente do Brasil.
Henrique Meirelles
Atuou como Presidente do Banco Central no primeiro mandato do Presidente Lula e conseguiu colocar o Brasil em uma excelente rota de crescimento e desenvolvimento. Em sua época, o país viveu uma das eras mais prósperas nos campos sociais e econômicos. O trabalho feito pela equipe de Fernando Henrique Cardoso ajudou a embasar o trabalho de Meirelles.
No entanto, Meirelles ainda foi capaz de fazer um excelente trabalho quando chamado para assumir o Ministério da Fazenda em 2016. Assumiu em um contexto parecido de FHC: situação econômica bastante deteriorada após um impeachment, dívida pública e inflação crescendo e população altamente insatisfeita.
Meirelles conseguiu fazer um bom trabalho e trazer estabilidade econômica para o Brasil. Assumiu o Brasil com inflação anual em 9,32%, juros em 14,25% e entregou o país com uma inflação de 2,86%. Além disso, ajudou a guiar a reforma trabalhista e elaborar um plano de reforma da previdência.
Seu trabalho foi bem aceito pela população. Se candidatou à presidência em 2018, mas não teve o mesmo sucesso de FHC.
Ministros apenas tentam coordenar, mas a Economia é feita de pessoas e empresas
A frase acima reflete exatamente o que os ministros devem ter em mente. A Economia está cheio de lados que podem ser vistos e outros que não são vistos. Existem muitos fatores externos que são difíceis de controlar e que podem gerar um resultado econômico completamente oposto do que era esperado.
Por exemplo, um país importante na Economia pode entrar em crise, guerras podem acontecer e o caso mais recente, a pandemia do Coronavírus. Paulo Guedes, o atual ministro, viu seu trabalho de quase 2 anos ser amplamente afetado pelas mudanças sociais e econômicas que o vírus trouxe.
De uma hora para outra, milhares de negócios fecharam e demitiram trabalhadores. Isso não estava previsto e nem poderia ser. Por mais que um ministro tente controlar todas as variáveis, uma hora a Economia irá na direção oposta ao planejado, pois ela é formada de pessoas, que podem ter padrões de comportamento no curto prazo, mas que no longo prazo são completamente imprevisíveis.