Os mercados, por natureza, são voláteis. Os preços das ações, moedas, ouro e todos os ativos financeiros estão sempre variando, e precisam de volatilidade. As informações e condições estão mudando todos os dias, por isso, investidores seguem nesse processo de “descoberta de preços”.
Antes que se diga o oposto, a volatilidade é essencial para corrigir excessos, sejam eles positivos ou negativos. Com isso, os ativos seguem sendo negociados e o preço flutuando dentro de uma média, exceto quando há algum fato relevante e eventos Cisne Negro que mudam completamente o cenário.
O que é um Cisne Negro?
Eventos tipo Cisne Negro, por definição, são eventos impossíveis de prever que trazem grandes impactos na sociedade e na economia. Recentemente, já tivemos vários eventos que podem ser classificados desta forma: Joesley Day, 11 de setembro, Brumadinho e o mais recente deles, o Coronavírus.
Como são eventos que estavam fora do radar, os mercados reagem violentamente a eles. Às vezes, há uma certa dose de exagero na reação. Em alguns momentos, a queda da bolsa de valores é tão acentuada, que é necessário ativar um mecanismo conhecido como circuit breaker.
Algumas vezes, eventos do tipo Cisne Negro mudam o paradigma econômico: de crescimento para recessão. Nessas horas, empresas ficam mais frágeis e apresentam piora nos fundamentos, investidores ficam menos gananciosos e os mercados sofrem.
O que é circuit breaker?
Segundo o Manual de Procedimentos Operacionais da B3 (Bolsa de valores do Brasil), o circuit breaker é um “procedimento operacional que interrompe a negociação de ativos, das opções referenciadas em ações, sobre Ibovespa, sobre IBrX-50 e cotas de fundo de índice (ETF), renda fixa privada em momentos atípicos de mercado em que há excessiva volatilidade”.
No Brasil, se o Ibovespa, índice da bolsa brasileira, tiver uma queda de 10% no dia, o primeiro circuit breaker será acionado, suspendendo negociações por 30 minutos. O intuito é acalmar os investidores e fazê-los raciocinar melhor com a pausa dos negócios, pelo menos em teoria.
Caso o primeiro circuit-breaker não funcione, o segundo é acionado quando a oscilação diária fica 15% negativa. Quando isso acontece, os negócios são suspensos por 1 hora, como foi o caso do dia 12/03 com o Ibovespa. Ainda assim, se o Ibovespa chegar a 20% de oscilação negativa no dia, os negócios são por prazo determinado pela B3.
Circuit breaker é oportunidade para comprar tudo?
Circuit-breakers costumam ocorrer em eventos excepcionais, do tipo Cisne Negro, como foi com Joesley Day, 11 de setembro em 2001 e como está sendo agora com o Coronavírus e a Guerra no preço de petróleo. Nenhum desses eventos está precificado ou sendo esperado, logo, acabam assustando os investidores, que vendem ativos de risco em busca de liquidez.
Em momentos de Cisne Negro, todo mundo fica míope em relação ao futuro. O mercado perde referência nos preços. Nesse momento, o medo fica grande, pois todo mundo está correndo para ter liquidez e proteção, vendendo ativos de risco em massa. Quem esteve de fora da renda variável, pode aproveitar o momento sem ser muito ganancioso.
É muito difícil acertar qual será o “piso” dos preços e comprar os ativos pelo menor preço possível. Quem quer comprar, precisa ter isso em mente antes de assumir esse risco. O mercado pode recuar 5, 10 ou 15% depois da sua compra, dependendo muito do cenário econômico no pós-acontecimento.
Por isso, a importância de ter caixa para fazer preço médio sem ter ganância. Afinal, caso o evento extremo mude os paradigmas da economia mundial, os mercados cairão por bastante tempo e ficarão por sede de liquidez (dinheiro em caixa), o que diminui a demanda por ativos de risco (ações, criptomoedas, fundos de investimentos e ETFs). Portanto, só invista dinheiro em que você pensa para o longo prazo.
Estou no prejuízo. É hora do pânico?
O primeiro mandamento é não quebrar. Sobreviva para ver o dia de amanhã. Obviamente, se você estiver muito alavancado (operando com dinheiro emprestado do banco ou da corretora) e com uma exposição descalibrada em relação ao seu perfil de risco, estará em apuros e terá chances reduzidas de sobreviver. Infelizmente, o mercado gosta de punir os gananciosos.
Se você entrou na bolsa recentemente e está com grande prejuízo, avalie sua situação. Você tem renda? Se sim, possui caixa? Está pensando no longo prazo? Precisa de dinheiro agora? Se respondeu sim para todas as perguntas, exceto para a última, então você ainda está no jogo, mas no momento, foque em sobreviver e, se estiver confortável, faça algumas compras.
A sobrevivência é não perder tudo, ir à falência ou ir embora do mercado. O importante é se manter no jogo em momentos como esse. Entende-se por perder tudo: ter que vender no prejuízo para pagar contas, ou ter sua conta liquidada na corretora porque estava alavancado demais.
Se não estiver alavancado, não venda seus ativos se estiver com prejuízo muito grande, a menos que esteja precisando do dinheiro para pagar as contas. O mercado volta, uma hora ou outra, é preciso ter paciência para encarar também os períodos difíceis, não apenas quando se ganha.