Seis circuit breakers em pouco mais de uma semana — em meio a fortes perdas que apagaram quase três anos de ganhos — não foram suficientes para afastar os investidores de varejo da bolsa brasileira.
O número de investidores pessoa física no Brasil aumentou para cerca de 2,2 milhões em março, segundo dados da B3. O dado aponta para mais de 300 mil CPFs novos na bolsa no mês passado, quando o Ibovespa registrou sua maior queda mensal desde 1998, talvez querendo aproveitar a oportunidade para comprar as ações que estão em baixa.
Os brasileiros têm migrado cada vez mais para produtos de renda variável em busca de retornos mais atrativos, em resposta à queda da Selic de 14,25% para a mínima histórica de 3,75% ao longo dos últimos anos. Nos anos recentes, a entrada de investidores de varejo e de fundos locais mais do que compensou os investidores estrangeiros, que mostraram maior cautela.
O timing da turbulência recente foi “infeliz” para os investidores de varejo, que vinham migrando para a bolsa, disse Will Landers, chefe de ações para a América Latina da BTG Pactual Asset Management. “Eles viram que a bolsa não é poupança — é um investimento de risco.”
O Ibovespa, índice da bolsa brasileira, acumula queda de mais de 42% desde o pico no fim de janeiro, diante do impacto da pandemia de coronavírus, que reduziu as perspectivas para o crescimento econômico global e atrasou a agenda de reformas do governo.
Alguns investidores da bolsa estão com um prejuízo maior do que o índice, dado que este índice apenas reflete uma média ponderada das ações listadas no mercado. É comum ver investidores com perdas de 50, 60% do capital porque investiram em empresas mais vulneráveis. Para recuperar o mesmo patamar de antes da crise, a bolsa vai precisar subir 72%.
Dólar a R$ 5,32 mostra aversão ao risco
Com o atraso da agenda de reformas estruturais, o Brasil deixou de ser atrativo e seguro para o investidor estrangeiro, que rotineiramente vem retirando dinheiro da bolsa brasileira. A Selic em 3,75% deixou de ser atraente para operações de Carry Trade, isto é, pegar dinheiro emprestado a juros mais baixos e emprestá-lo em países com juros mais altos.
Com a saída de investidores estrangeiros, o Real sofre. A moeda brasileira vem sendo a pior do mundo frente ao dólar, acumulando uma perda de 24,79% frente ao dólar. O gráfico abaixo mostra que R$ 1 está valendo US$ 0,1871. Nosso poder de compra em dólar, sem corrigir pela inflação, está no nível mais baixo de todos os tempos.
O investidor estrangeiro tem mostrado cautela e optado pela liquidez, isto é, ter dinheiro em caixa para se preparar quando a turbulência passar. O VIX (Índice de Volatilidade) ainda está muito elevado, o que significa que os mercados ainda refletem muito medo e incerteza. Parece que a ordem do momento é sobreviver.
Quem entrou nesse momento, poderá falar que foi “Made in Vol”, ou, “Forjado na Volatilidade“.
Adaptado de Bloomberg Brasil