Você sabia que Jeff Bezos, CEO da Amazon, já pediu desculpas para os seus investidores? O curioso é o motivo das desculpas. Provavelmente você deve estar imaginando que a Amazon teve um péssimo resultado, gerando perdas. Mas foi exatamente o oposto: Bezos pediu desculpas porque a sua empresa teve lucro. Afinal, qual é a lógica disso?
Sou economista, durante todo o curso fui ensinado de que toda empresa deveria ter um lucro líquido acima de zero. A Teoria da Firma, que aprendi em Microeconomia, é fria quanto a isso e empresas ineficientes vão à falência. No entanto, o cenário de hoje é completamente diferente.
O que temos atualmente são algumas empresas sendo incentivadas por investidores a queimar caixa, ou seja, gastar mais do que faturam.
As empresas que não lucram
Empresas com produto pouco inovador não costumam operar no prejuízo, nem poderiam fazer isso por muito tempo. Elas já possuem uma margem de lucro bem definida e também não esperam um crescimento em larga escala.
Um exemplo disso seria uma padaria pequena, um bar, ou um restaurante que não tem intenção de experimentar um crescimento exponencial. Então eles tentam ser apenas eficientes para gerar receita com o intuito de pagar seus funcionários e construir um caixa. Por outro lado, startups querem crescer e oferecer uma solução em um determinado setor, utilizando tecnologia e barateando os custos para o consumidor final.
As startups são empresas diferentes das tradicionais. Elas formam um movimento que começou ainda no Vale do Silício. São empresas inovadoras que possuem potencial para crescer rapidamente e ganhar muitos clientes em larga escala.
Esse tipo de empresa não está muito preocupada em ter lucro rápido. Elas podem até ganhar dinheiro, mas preferem expandir sua base de usuários e investir em tecnologia para o desenvolvimento do seu produto. O objetivo é possibilitar um crescimento agressivo na receita, pensando em médio e longo prazo.
Além disso, algumas startups são financiadas por investidores anjo e fundos de capital de risco, que ficam com uma participação da empresa. A expectativa de quem investe em startups é de que a empresa consiga crescer e ganhar muitos clientes, assim como faturar bilhões.
O investidor está procurando novos Facebook, Google, Uber e Amazon, isto é, empresas que começam pequenas e viram negócios bilionários que possuem profundo impacto na vida de milhões de pessoas. É por isso que eles estão sempre dispostos a arriscar dinheiro nessa busca, embora seja um investimento de altíssimo risco.
Outro fator importante é que as startups só conseguem operar muito tempo no prejuízo porque elas abrem novas rodadas de captação, oferecendo sociedade em troca de capital. O próprio Nubank se utilizou disso para continuar se financiado. Na última rodada, a fintech de cartão de crédito captou mais de US$ 400 milhões.
A falência de startups
O problema é que nem todas as empresas conseguem chegar à maturidade. Por conta disso, muitas startups morrem antes de ver seu produto funcionando como imaginavam anteriormente.
Conforme dito acima, startups são investimentos de alto risco. Nem sempre a empresa consegue alcançar as pessoas que imaginava no início. Muitas vezes o produto não era tão inovador assim.
A falência de empresas que trabalham dessa maneira é bem comum e até esperada por quem investe. No entanto, algumas empresas conseguem se tornar extremamente bem sucedidas, a ponto de gerar uma receita suficiente para ter lucro. A Amazon é um desses exemplos.
O caso da Amazon
Nem toda empresa que dá prejuízo é ruim. É preciso olhar para outros fatores: modelo de negócio, receita, crescimento no número de clientes e desenvolvimento.
Existem empresas que poderiam até ter um bom lucro e gerar caixa com grande velocidade, a Amazon é o exemplo mais simbólico disso. Ela prefere investir em tecnologia e adotar estratégias agressivas de expansão de mercado do que lucrar no curto prazo.
A Uber também é outra empresa que vem tendo prejuízos em seguidos anos. Apesar de ter uma boa receita, ela prefere investir boa parte em Pesquisa e Desenvolvimento, com objetivo de criar os carros autônomos.
Ou seja, muitas vezes a empresa queima caixa por questões de estratégia: investir pesado em tecnologia e expansão para aumentar a participação no mercado até a consolidação.
O estágio de consolidação é quando a empresa fica confortável o suficiente com sua posição no mercado, podendo diminuir o ritmo de crescimento e aproveitar o aumento exponencial do seu lucro.
Não tente fazer isso em casa
Não adianta tentar transformar sua empresa em startup do dia para a noite. Esse tipo de empresa precisa ter um modelo de negócio e produtos diferenciados, isto é, que não podem ser facilmente copiados ou replicados.
Conforme dito acima, muitas empresas estão queimando caixa para financiar o crescimento no mercado e desenvolvimento de tecnologia. A startup, em sua essência, é agressiva e projeta crescimentos exponenciais de base de clientes e receita.
Portanto, não adianta querer ser uma startup se você faz a mesma coisa que todo mundo, ou se o seu modelo de negócio pode ser facilmente replicado.
Essa cultura de expansão é tão levada a sério, que Jeff Bezos teve de se desculpar com seus investidores em uma carta. A empresa deu lucro porque não investiu o suficiente para expandir. A partir desse fato curioso, você vê que empresas que se propõem a cumprir essa estratégia são diferentes.
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