Imagine que você está prestes a comprar uma casa. Suas principais decisões serão: qual tipo de imóvel você deseja e quanto você estará disposto a pagar por ele.
Normalmente a primeira etapa consiste em identificar quais são os atributos que você mais valoriza, definindo aqueles que são essenciais e aqueles que são desnecessários. A segunda etapa consiste na decisão de compra, onde você irá verificar os riscos envolvidos.
Apesar de parecerem situações completamente diferentes, o paralelo entre a compra de um imóvel e de uma ação faz bastante sentido. Ambos são processos de tomada de decisão, onde o comprador/investidor devem adquirir o máximo de informações disponíveis.
Ao comprar uma ação, o investidor define que empresa atende ao seu critério de seleção (atributos / preço), pagando um preço justo ou até mesmo abaixo do seu real valor, levando em consideração os riscos envolvidos.
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Por dentro do EBITDA
Um dos indicadores financeiros mais usados para tomada de decisões, é o Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, popularmente conhecido como EBITDA ou Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (LAJIDA) em português.
A principal função do EBITDA é verificar qual foi o lucro de uma empresa antes de serem descontados os gastos com impostos e juros, e também as perdas com depreciação e amortização. Ou seja, serve para diagnosticar se a empresa está sendo produtiva e eficiente, indicando seu potencial para pagar suas despesas e gerar caixa no futuro.
Portanto, é através do EBITDA que podemos medir a saúde financeira de um empreendimento, realizando um raio-X completo do negócio, que mostrará sua capacidade de capital, sua produtividade e eficiência.
É importante ressaltar que o EBITDA não leva em consideração os juros, impostos, depreciação e amortização, na tentativa de retratar fielmente apenas a geração de caixa e sua capacidade de gerar ganhos ao longo do tempo.
No geral ele é utilizado para comparar empresas do mesmo setor, desconsiderando os fatores externos e dando ênfase apenas aos resultados gerados pela atividade econômica. Com isso, o EBITDA pode indicar se a empresa se tornou mais eficiente de um ano para o outro, auxiliando o investidor na decisão de investir.
Por que calcular o lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações?
O lucro após os juros, impostos, depreciações e amortizações chama-se lucro líquido, ele representa o resultado contábil final da empresa, ou seja, o que há no caixa após todas as deduções.
Se formos analisar somente o lucro líquido estaremos propensos a obter uma visão errônea do negócio, tendo em vista que o resultado final pode ser consideravelmente baixo, mas a empresa pode estar gerando um caixa e caminhando para um futuro promissor.
Além disso, o lucro líquido pode ser alavancado por investimentos não relacionados às atividades do negócio, dificultando sua análise.
Como calcular o EBITDA
Primeiro o cálculo do EBITDA exige entender cada um dos elementos que compõem esse indicador, todos eles encontram-se disponíveis nos Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE):
- Lucro operacional líquido: é o valor obtido pela empresa após a dedução das despesas despesas administrativas, comerciais e operacionais. Ele é calculado pela seguinte fórmula, Lucro operacional = Lucro Bruto – Despesas Operacionais + Receitas Operacionais.
- Juros: Cobrados sobre o valor de empréstimos e financiamentos da empresa;
- Receitas financeiras: Receitas das aplicações financeiras em instituições financeiras.
- Impostos: Pagamento de toda carga tributária;
- Depreciação: Perda de valor gradual dos equipamentos ao longo do tempo;
- Amortização: Perda de valor de bens intangíveis que possuem direitos ou existência limitada.
Após entendermos os elementos que compõem o EBITDA, vamos a fórmula do indicador: EBITDA = Resultado Líquido + Juros + Impostos + Depreciação + Amortização.
Vejamos um exemplo na DRE (Demonstrações de Resultado):
Receita Operacional Bruta: R$ 15.000,00
(-) Deduções da Receita Bruta: (R$ 2.000,00)
(=) Receita Operacional Líquida: R$ 13.000,00
(-) Custo dos Produtos Vendidos: (R$ 7.000,00)
(=) Lucro Bruto: R$ 6.000,00
(-) Despesas Operacionais: (R$ 3.500,00)
Despesas com Vendas: (R$ 2.200,00)
Despesas Gerais e Administrativas: (R$ 1.300,00)
(=) Lucro Operacional (Resultado antes de IRPJ e CSLL): R$ 2.500,00.
Com o valor do lucro operacional, fica fácil encontrar o EBITDA:
(=) Lucro Operacional (Resultado antes de IRPJ e CSLL): R$ 2.500,00
(+) Depreciação: R$ 150,00
(+) Amortização: R$ 100,00
(=) EBITDA: R$ 2.750,00
Margem EBITDA
Já com o valor do EBITDA em mãos, podemos calcular sua margem, é através dela que podemos comparar empresas de diferentes tamanhos dentro de um mesmo setor. Com isso, é possível elaborarmos estratégias que superam a concorrência e garantir investir em empresas que possuem liderança de mercado.
Sua fórmula é muito simples:
Margem EBITDA = (EBITDA / Receita líquida) x 100
Utilizando os dados do exemplo acima, a receita líquida é de R$ 13.000,00 e possui um EBITDA de R$ 2.750,00. Assim, calculamos a margem fazendo a divisão do lucro pela receita líquida. Ou seja, a margem EBITDA seria:
R$ 2.750,00 / R$ 13.000,00 = 0,21.
Transformamos 0,21 em porcentagem e temos como resultado uma margem EBITDA de 21%.
O cálculo da margem EBITDA deve ser realizado com periodicidade tendo em vista a criação de um histórico da lucratividade e observação dos momentos de altos e baixos da empresa.
Vantagens do EBITDA
Utilizar o EBITDA como indicador de desempenho financeiro tem suas vantagens para a análise de investimentos. Com seu uso é possível Identificar e acompanhar a evolução da eficiência e produtividade da empresa, juntamente com a sua capacidade de geração de caixa, comparando diversas empresas de diferentes setores.
Desvantagens do EBITDA
Como qualquer indicador, ele tem suas limitações. Como sua principal função é demonstrar o potencial de geração de caixa, muito investidores se confundem com a sua capacidade de desempenho financeira.
Além disso, o fato de excluir do seu cálculo, os juros e a depreciação, acaba por não revelar se a organização está muito endividada, com o pagamento de juros muito altos ou se possui equipamentos obsoletos.
Basta observarmos o exemplo de Embraer (EMBR3):
Em tese, parece um ótimo negócio com a produção de produtos de alta tecnologia, exportado para o mundo inteiro. Porém, conforme podemos observar no gráfico abaixo, os resultados não crescem com o tempo, o Ebitda e o lucro não saíram do lugar, mesmo com as exportações e o dólar subindo forte.
Outros múltiplos baseados no EBITDA
O EBITDA também é utilizado como base de cálculo para outros indicadores que complementam a análise de valor da empresa. Vejamos dois exemplos:
- EV/EBITDA: mostra o valor da empresa (em inglês, Enterprise Value ou EV) e o EBITDA. Através do seu resultado, podemos estimar quanto tempo seria necessário para adquirir todo o negócio ao descontar seu caixa, ou seja, o número de anos necessários para que a geração de caixa pague o investimento. Para este múltiplo quanto menor o resultado, mais barata a empresa estaria negociada no mercado.
- DL/EBITDA: A divisão da Dívida Líquida (DL) e o EBITDA, demostram seu nível de endividamento, ou seja, se empresa tem capacidade de quitar suas dívidas com a geração de caixa. No geral as companhias pagam suas dívidas com seu fluxo de caixa (Ebitda). Apenas empresas quebradas pagam dívidas vendendo seus ativos (Dívida/patrimônio). No caso do DL/EBITDA, quanto menor o volume da dívida, menor é o múltiplo, o que indica aos investidores uma perspectiva financeira positiva.
Conclusão
O Ebitda é um importante indicador para análise de empresa. É através dele que o investidor pode observar o quanto a empresa ganha de dinheiro e se poderá continuar crescendo.
Todavia, é importante ressaltar a combinação de outros indicadores para analisar uma empresa de forma mais ampla e assertiva, não apenas olhando seus números friamente, mas compreendendo sua realidade operacional e financeira.