Sabemos que com a taxa Selic a 2%, houve uma queda nos rendimentos de renda fixa e a partir de então, os investimentos em renda variável têm se tornado cada vez mais atrativos. No entanto, o “risco Brasil” tem estado muito alto, até mesmo para os seus próprios brasileiros, que cada vez mais, têm decidido por enviar parte da sua alocação para o exterior, deixando parte do seu capital em dólar.
Arrumando as malas
Ter exposição no exterior se tornou fundamental para quem pretende ter uma carteira de investimentos diversificada e estar protegido de crises locais. Essa constatação é evidente quando percebemos que em 2020, o real caiu 22,7% ante o dólar, em termos nominais, um dos piores desempenhos entre as principais moedas.
Toda essa mudança da renda fixa para ativos de risco resultou no crescimento de 90% de pessoas físicas cadastradas na bolsa brasileira em 2020, superando os 3 milhões de investidores. Esse resultado certamente é uma vitória, mas esse número representa menos de 2% da população adulta do país. Em termos comparativos, nos Estados Unidos, 55% dos adultos investem na bolsa de valores.
Mas não iremos ser irracionais, é natural que o número de investidores seja maior por lá. A maior economia do mundo é a americana, onde estão as maiores oportunidades para os investidores no mercado de ações. A pergunta é, você pretende chegar à ponta do Iceberg, em seus 2% ou desbravar os outros 98% restantes.
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Comparando cenários
Fica fácil de visualizarmos essa diferença entre a bolsa brasileira e a americana quando comparamos os cenários. Para você, caro leitor, ter uma ideia, no ano de 2020, entre as empresas com valor de mercado acima de US$ 10 bilhões, a maior alta em nosso país foi WEG (WEG3), com 120%. É um retorno muito bom, mas para os investidores brasileiros que compraram ações da Zoom Video Comm Incnos, o rendimento foi de 539,4% (em reais).
E se eu te disser que esta não foi nem a maior alta da lista. Para os investidores comprados em Tesla (TSLA), a montadora de carros elétricos de Elon Musk, teve um retorno de 987,9% (em reais) em 2020.
E esses não são casos isolados, mesmo após diversas crises, a bolsa de valores americana têm se erguido consecutivamente. Vejamos abaixo o gráfico que mostra a evolução do índice Dow Jones após uma série de crises econômicas:
Nacionalismo exacerbado
Há quem defenda que a bolsa brasileira, após 6 circuit breakers, provenientes da crise do coronavírus, risco fiscal, disputa política e outras tantas mazelas que envolvem o Brasil, obteve uma recuperação expressiva em tempo recorde, alcançando sua máxima histórica no ano de 2020.
Não podemos questionar, é uma verdade, assim como o fato de o Ibovespa terminar o ano de 2020 tendo o pior desempenho em dólar entre os índices acionários de países emergentes comparáveis.
Dólar: Fizemos muita besteira
No início de 2020, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, questionado sobre a alta do dólar naquele momento, afirmou que se fizesse muita besteira, o dólar poderia subir e se fizesse muitas coisas certas, o dólar poderia descer.
Olhando o gráfico abaixo da cotação do dólar em um período de um ano, você já deve ter imaginado o que aconteceu.
Fonte: TradingView – Cotação do dólar
A preocupação com a situação fiscal no país, gera muita dúvida para grande parte dos investidores, principalmente dos estrangeiros, que por medo, preferem retirar o capital do Brasil.
Para piorar ainda mais a situação, houve a pandemia do coronavírus, que colocou a dívida do Governo em uma situação ainda pior do que era antes. Em 2019, a dívida pública estava em R$ 4,248 trilhões, ao final de 2020 foi para R$ 5,009 trilhões, um crescimento de R$ 761 bilhões, correspondente a 17,9% de alta.
Além disso, considerando a projeção de queda para este ano (4,5%), o PIB brasileiro não cresceu mais que 2,2% de 2011 a 2020. No mesmo período, o PIB global cresceu 30,5%, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
O resultado do desempenho desse indicador pode ser resumido em uma única palavra: risco. É com esses olhos que investidores do mundo todo tem observado o Brasil. Por fim, para terminar a contextualização da instabilidade nacional, o Congresso ainda não conseguiu passar as reformas tributária e administrativa, tão necessárias para diminuição desse risco.
Dólar, aliado ou inimigo?
Para os mais céticos, este artigo tem o objetivo de abrir os olhos em relação ao risco Brasil, analisando minimamente, a maioria dos bens que consumimos hoje em dia, como gasolina, equipamentos eletrônicos, softwares de tecnologia, entre outros, são precificados em dólar. Você considera que deixar todo o seu patrimônio em reais é saudável?
Em um ano marcado por turbulências nos mercados financeiros globais, o dólar e o ouro foram os melhores investimentos de 2020, com avanço de 28,9% para a moeda norte-americana.
Até aqui tudo bem, já entendemos que alocar parte dos recursos para investir no exterior é boa opção. Mas, no atual momento, o valor do dólar encontra-se em valores que podem ser considerados muito altos. Seria mesmo mais vantajoso aplicar o dinheiro no exterior ou comprar ações brasileiras que têm exposição ao dólar? Não estaremos comprando muito caro?
O que fazer?
Os meus fiéis leitores, sabem que sempre dou preferência para alocações estratégicas, com construção para o longo prazo, afinal o investimento mais vantajoso é aquele que você conhece os aspectos estruturais e táticos. Para que isso aconteça, leva tempo.
No longo prazo, o preço relativo entre as moedas é resultado das diferenças entre crescimento e inflação, além do saldo das trocas de mercadorias, serviços e juros entre os países. Ou seja, conforme o tempo passa, se o dólar comprado se desvaloriza, o real ganha valor e fica mais forte e vice-versa, havendo um efeito neutralizador.
Logo, não adianta esperar o melhor momento para entrar, pois nessas circunstâncias, ele não existe. O planejamento para enviar remessas ao exterior pode ser realizado de tempos em tempos, atenuando o efeito do preço de compra.
Caso seus objetivos sejam de curto prazo, a lógica anterior deverá ser reformulada, uma vez que o preço de compra do dólar terá impacto direto no resultado de suas operações. Nessa situação a análise técnica será a sua maior aliada em busca de rentabilidade.
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Entretanto, é preciso frisar que embora haja modelos racionais de precificação da moeda, todos eles exigem uma certa habilidade do operador, pois são baseados em modelos matemáticos complexos. E além disso, fenômenos da natureza ou geopolíticos não incorporados nos modelos de preços, podem provocar mudanças bruscas na moeda em movimentos de curto prazo.
Para aqueles que não pretendem investir no exterior, mesmo após a leitura deste artigo, há a possibilidade de investir em ações brasileiras que possuem confiabilidade e também uma maior exposição ao comércio exterior. Os setores de mineração, celulose/papel e commodities no geral, são os mais indicados, pois no geral, possuem maiores vantagens competitivas frente às suas rivais e também possuem grande parte da receita oriunda do mercado externo.
Conclusão
Aqui a diversificação é o nome do jogo, ou seja, a busca de ativos diferentes daqueles disponíveis em nosso país, em busca de uma maior solidez do portfólio.
É importante ressaltar que seja em real, dólar ou qualquer outra moeda que você irá realizar os seus investimentos, há uma lógica universal afirmando que o maior retorno estará sempre acompanhado do maior risco. Por essa razão é de extrema importância que você faça isso com muito planejamento e estudo, sabendo entender suas limitações e tolerâncias.
Fazendo isso, pode ter certeza que o preço que se paga para “entrar”, não será relevante em meio aos resultados obtidos do seu estudo e acompanhamento do mercado.