O consumo de energia do Bitcoin altera seus fundamentos?

Uma das principais dúvidas do momento, é quanto a sustentabilidade da rede Bitcoin, afinal, estamos em um momento, onde a agenda ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), tem sido bastante debatida pelo mercado.

Todavia, nenhum ativista e ambientalista teve até o momento a perspectiva do impacto da mineração do Bitcoin, pelo contrário, essa “conscientização” sobre a questão da poluição veio de ninguém mais, ninguém menos, que Elon Musk, CEO da Tesla, que até então era apaixonado pela criptomoeda e encheu seus cofres corporativos com US $1,5 bilhão da mesma.

Graças principalmente a Elon Musk, essa discussão ganhou forças nos últimos dias. O chefão da Tesla surpreendeu o mundo ao anunciar a  suspensão de pagamentos via Bitcoin para sua companhia, alegando problemas relacionados ao uso energético para manutenção da rede. 

A partir disso, houve uma grande depreciação da criptomoeda, que em seu pior momento, chegou a ser negociada por US $30.066, queda que foi impulsionada também pela proibição do governo chinês no uso de  Bitcoin para empresas e bancos do país.

Mas afinal de contas, a utilização de energia para mineração de Bitcoin, é realmente um problema para o meio ambiente?

Como funciona a mineração do Bitcoin

Antes de mais nada, devemos entender que o objetivo e o processo de funcionamento da mineração.

A mineração tem por objetivo, oferecer segurança, validação e emissão de novas moedas digitais. Tal processo exige um raciocínio lógico de computadores, que necessitam resolver “quebra cabeças” e, à medida que eles são solucionados, o minerador recebe suas recompensas. 

Esse poder de processamento, que também pode ser conhecido como taxa de hashes, vem crescendo ao longo dos anos,  dado que os cálculos necessários para a manutenção da rede, constantemente se tornam mais complexos, tomando mais tempo e energia dos computadores. 

Desse modo, podemos dizer que o resultado da mineração de Bitcoins é duplo. Visto que, após a resolução dos problemas matemáticos complexos há a produção de novos Bitcoins, não muito diferente de quando uma operação de mineração consegue extrair ouro do solo.

Além disso, a partir da resolução desses problemas, os mineradores tornam a rede de pagamentos de Bitcoins confiável e segura, uma vez que foram verificadas todas as informações de transações.

Uma vez entendido seu funcionamento, voltemos ao ponto central desse artigo, que diz respeito a quantidade de energia consumida neste processo.

O sistema bancário gasta ainda mais energia

O ponto central da nossa discussão diz respeito ao consumo de energia relacionado ao Bitcoin. Nas últimas semanas observamos grandes ataques a esse fato, no entanto, um recente relatório divulgado pela empresa Galaxy Digital, estimou que o consumo anual de eletricidade do Bitcoin é de 113,89 TWh (terawatts-hora), incluindo a energia demandada por mineradores.

O estudo concluiu que esse valor é pelo menos 2x menor do que o demandado para manutenção do sistema bancário atual, que consome cerca de 263,72 TWh ano de energia. Além disso, a própria mineração de ouro possui um gasto maior do que a mineração do Bitcoin, consumindo cerca de  240,61 TWh ao ano de energia.

Desse modo, a conclusão é de que o sistema financeiro tradicional consome muito mais do que a rede Bitcoin

Onde mora o problema: A matriz energética

Ao contrário das críticas ao fator energético do Bitcoin após o anúncio de Elon Musk, a criptomoeda não é menos sustentável por conta do uso de energia de sua rede, a real problemática que podemos observar neste cenário está na  utilização de energia renovável para manutenção da rede.

Desse modo, o grande desafio em relação a essa questão, vem diretamente da China, que atualmente é responsável por mais de 65% da cripto-mineração no mundo, onde o carvão representa cerca de 60% da matriz energética.

O Bitcoin e a energia renovável

Medir precisamente o quão sujo é o Bitcoin tornou-se uma indústria doméstica  O último cálculo do índice de consumo de eletricidade Bitcoin da Universidade de Cambridge sugere que a mineração de Bitcoin consome 133,68 terawatts-hora por ano de eletricidade, uma estimativa que tem aumentado consistentemente nos últimos cinco anos.

No entanto, há espaço para divergências sobre essas estatísticas e todos os estudos sérios sobre o assunto aceitam elementos de incerteza. Para Michel Rauchs, afiliado de pesquisa que trabalha no índice de Cambridge, “há muitos tons de cinza” relacionados a essa discussão. 

Rauchs destaca que uma fatia da mineração na China vêm de energia hidrelétrica limpa, incluindo máquinas transportadas de norte a sul do país em caminhões todos os anos na estação de chuva. 

Segundo o pesquisador, cerca de 75% das atividades que envolvem a mineração de criptomoedas usam algum tipo de energia renovável, conforme demonstrado nos estudos de Cambridge, entretanto, as energias renováveis ​​ainda correspondem por menos de 40% da energia total usada.

Uma versão mais ecológica do Bitcoin é, em teoria, possível. O código do Bitcoin poderia mudar para um mecanismo de consenso com menos consumo de energia, por meio do qual uma nova seção do livro razão do blockchain subjacente à criptomoeda seguiria regras diferentes. No entanto, todos os mineradores precisam mudar para que o novo caminho funcione. 

O que acontece com os fundamentos?

Os fundamentos do BTC não mudaram. No curto prazo, pode-se esperar volatilidade, ou seja, nada de novo, como sempre ocorreu desde a criação da criptomoeda. No longo prazo, apesar dos novos desafios, o sentimento altista deve se manter. 

Não é de hoje que se sabe do consumo de energia utilizada na mineração do Bitcoin, no entanto, como a importância da estrutura do Bitcoin para a rede financeira mundial, o assunto vem ganhando cada vez mais importância.

É aquele velho ditado: “prego que se destaca leva martelada”, Elon Musk, apenas levantou uma discussão que todo o mercado já sabia e que inclusive comentamos semanas atrás, antes de toda essa tensão midiática sobre a criptomoeda. 

Veja também: A mineração de Bitcoin pode ser sustentável?

Um dos argumentos mais explorados sobre essa temática nos últimos dias diz respeito ao fato de que o Bitcoin usa mais eletricidade anualmente do que toda a Argentina. 

No entanto, a emissão do Bitcoin não deve ser olhada em termos absolutos, ou seja, realizar a comparação entre a  Argentina, a Holanda e demais países, mas sim em termos relativos, por dólar transacionado. Ao fazermos isso, perceberemos que o Bitcoin emite menos de 1/3 de carbono do que o mercado financeiro tradicional.

Para você poder entender da melhor forma essa questão, hoje a Argentina conta com 44 milhões de habitantes.

Em uma pesquisa realizada em janeiro deste ano pela Crypto.com, empresa de pesquisa e análise de dados de criptomoedas, através de dados coletados a partir de múltiplas exchanges, fundos e plataformas que lidam com criptoativos no mundo, foram contabilizados cerca de 106 milhões de usuários de criptomoedas em todo o mundo.  

Parece-me óbvio que, com uma quantia maior de pessoas, mais energia será gasta, correto!?

Os dados são referentes ao mês de janeiro de 2021 e representam um recorde de adoção das moedas digitais. O estudo também aponta que só no último mês houve um aumento de 15,7% nesse número em comparação a dezembro de 2020. Esses 

Não faz sentido pensar no consumo energético, sem considerar que as moedas digitais trouxeram um paradigma totalmente novo à economia mundial e mesmo eventos relacionados às recentes polêmicas envolvendo a moeda, não mudam os fundamentos da mesma. 

Conclusão

De modo geral, é claro que a opinião de Elon Musk tem grande relevância para o mercado de criptoativos, no entanto, após tudo o que discutimos aqui, percebemos que tais alterações acontecem diretamente no preço das moedas digitais, não em seus fundamentos. 

O discurso sobre gasto energético, apesar de ter grande importância, não se sustenta como motivo para a extinção da criptomoeda. Pelo contrário, o fato de o Bitcoin consumir uma quantidade de energia relevante, só tem a incentivar os projetos de energia renovável, por meio da melhoria da economia e da distribuição.

Se fossemos tomar o mesmo princípio e preocupação, segundo o índice de consumo de eletricidade de Cambridge, todos os americanos, antes de irem dormir, deveriam tirar todos os seus aparelhos eletrônicos da tomada, tendo em vista que, a quantidade de eletricidade consumida todos os anos por dispositivos domésticos sempre ligados, mas inativos, somente nos EUA poderia alimentar a mineração de Bitcoin por quase dois anos. 

Conforme observado ao longo do texto, o principal suposto problema relacionado a rede Bitcoin, é a matriz utilizada, no entanto, à medida que toda sociedade percebe os benefícios na utilização da criptomoeda, projetos de incentivo ao uso de energia renovável podem ser colocados em prática. 

Em suma, o custo energético transacional não é de fato uma preocupação para o projeto, que vem revolucionando o modo como pensamos o mercado financeiro e que continuará se reinventando à medida que novos incentivos são colocados em prática. 

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