Frequentemente vejo algumas pessoas associarem volatilidade a alguma característica ruim. Por exemplo: “o ativo X é muito volátil, logo, ele é muito arriscado”. Porém, essa frase não está correta, pois, arriscado seria se a volatilidade não existisse. A especulação e a volatilidade são dois elementos essenciais para o bom funcionamento dos mercados.
Além disso, a volatilidade jamais deve ser suprimida ou impedida de acontecer, porque as condições e informações estão mudando a cada segundo. Com isso, os participantes do mercado precisam descobrir o preço dos ativos novamente. Conter a volatilidade e a especulação pode levar a um erro generalizado com consequências gravíssimas.
Volatilidade e especulação
A volatilidade acontece quando há grandes mudanças nos preços dos ativos. Nessas situações, a volatilidade dispara e abre espaço para os especuladores apostarem suas fichas na direção correta do preço. No final, ganha aquele que conseguir as melhores previsões.
Mas por que isso acontece? A resposta é bem simples: condições e expectativas estão mudando a todo momento, impactando no preço dos ativos. Dadas as novas condições, as pessoas que participam do mercado precisam encontrar qual é o preço compatível com o novo cenário.
Com isso, os especuladores assumem um papel fundamental para a economia. Eles dão liquidez aos mercados e ajudam na descoberta de preços, alocando recursos e balizando o mercado para um novo equilíbrio. Portanto, a volatilidade é essencial para o funcionamento do mercado e da economia.
Perturbações em sistemas econômicos e mercados são saudáveis, pois evitam um colapso ainda maior. Um exemplo disso pode ser visto nos comércios: os pequenos comerciantes são frágeis, se errarem demais podem quebrar, mas seus erros são observados por outros comerciantes, que aprendem com os pequenos erros e se tornam menos frágeis.
O que mata, fortalece
Desta forma, o erro de um pequeno comerciante não traz profundos impactos sobre a economia, pelo contrário: fortalece aqueles que estão ao seu redor. Um conjunto de pequenos comerciantes quebrando, falindo e aprendendo tornam esse mercado menos sujeito a grandes colapsos.
Por acaso você já viu algum colapso no mercado de restaurantes? No mercado de artesãos? Ou no mercado de postos de gasolina? Ele não acontece, pois um conjunto de empresários frágeis que erram todo o tempo fornece informações para quem está no mercado. Os remanescentes se tornam mais fortes, fortalecendo o sistema como um todo.
Se fosse para confiar em alguém, jamais confiaria em uma pessoa que nunca cometeu um erro. Confiaria em quem cometeu pequenos erros e ainda se mantém vivo no jogo.
O que a queda da União Soviética pode nos ensinar?
Você sabia que a Suíça não tem um governo central? O país é formado basicamente de pequenos bairros e municípios em uma espécie de rixa eterna entre si. De certa forma, poderíamos dizer que a volatilidade entre os municípios da Suíça é bem alta, ainda assim, nada a impede de ser um dos países mais prósperos do mundo.
A volatilidade torna difícil que um grande ditador assuma o poder e prejudique todo o país. Diferente do que aconteceu com a antiga União Soviética, que reuniu diferentes nações e culturas sob um único regime. Após décadas tentando conter a “volatilidade” das regiões, a grande nação entrou em colapso do dia para a noite.
Outro fato interessante é a questão da interferência norte-americana no Oriente Médio sob o objetivo de “estabilizar a região”. Desde que essas políticas de “estabilização” passaram a acontecer lá nos anos 70, o Oriente Médio borbulhou como nunca: guerras civis, golpes de estado e ditadores assumindo o poder.
Tudo isso nos ensina uma valiosa lição: quanto mais tentativas de acabar com a volatilidade, maiores serão os danos. Os sistemas ficam interdependentes e tendem a colapsar de uma hora para outra. Por isso, sociedades mais complexas estão mais frágeis do que pequenos países e comunidades.
Como colapsos acontecem?
Nassim Taleb, um dos maiores escritores de economia da atualidade, defende a hipótese de que os mercados e as economias estão ficando mais frágeis com o passar do tempo. Hoje, a falência de um pequeno especulador pode fortificar o sistema como um todo, pois os mais inteligentes aprenderão o que não fazer.
O problema é quando os especuladores encarnam na figura de Bancos Centrais e formuladores de políticas econômicas tentando conter a volatilidade. Ao contrário dos pequenos empreendedores e especuladores, estes participantes costumam errar pouco, mas quando erram, entram em colapso, pois acabam afetando os demais participantes do mercado.
O exemplo mais notório disso pode ser observado nos ciclos econômicos. Os governos atrasam recessões e correções para evitar a volatilidade: desemprego, queda no consumo, baixa dos papéis no mercado de ações e perda de popularidade do governo. No curto prazo sempre tende a funcionar, o problema é o que está acontecendo por trás.
Enquanto o governo atrasa essas correções, os participantes do mercado são enganados e vão acumulando erros coletivos de alocação de recursos na economia. Quando o governo perde fôlego nessa sustentação, todos os erros vêm a tona e os mercados desmoronam, como aconteceu na crise de 29 e na crise de 2008, que varreram a economia mundial.
Se protegendo de erros sistêmicos
Se Warren Buffett acha que a regra mais importante do mercado é não perder dinheiro, Nassim Taleb faz uma pequena adaptação: não quebre. Você pode ter pequenas perdas, desde que não vá à falência.
Em momentos de colapso dos mercados é importante ter caixa e estar exposto em ativos que se beneficiem dessa volatilidade: opções de venda e ouro. A estratégia de Barbell é eficiente para essas situações.
A alocação da estratégia de Barbell permite que sua carteira se beneficie de eventos inesperados e ainda que você aproveite momentos de baixa para comprar ativos de seu interesse. Alocar 90% em ativos de baixo risco e outros 10% em ativos de altíssimo risco pode ser um caminho para se proteger e até mesmo se beneficiar destes “erros sistêmicos”.
Não entrar em pânico e estar com caixa para se beneficiar destas correções é essencial. Warren Buffett, por exemplo, está com mais de US$ 120 bilhões em caixa, certamente esperando por novas oportunidades. Enquanto isso, os frágeis especuladores estão vendendo suas ações em baixa.