A cotação do dólar sempre foi uma preocupação dos brasileiros, desde os mais simples trabalhadores até grandes capitalistas, detentores de empresas multinacionais que transacionam milhões (até bilhões) todos os anos. Não que a gente, como trabalhadores, vá fazer viagens internacionais anualmente, o ponto não é esse.
A verdade é que o dólar está embutido em praticamente todos os itens que compramos para a nossa casa. Diversos componentes do seu celular vêm de fora do país, muito embora ele seja montado aqui. Grande parte dessas transações são feitas em dólar, ou seja, se o dólar aumenta, praticamente tudo aumenta.
Sendo assim, tendo em vista a importância da moeda americana para o nosso país, no artigo de hoje, iremos falar um pouco sobre a tendência do dólar para este ano de 2022. O comportamento da moeda norte-americana depende de diversos fatores, que serão analisados neste artigo.
Veja também: O que esperar para inflação em 2022?
Aumento da Taxa Selic
A alta recente do dólar tem como um dos fatores a uma das menores taxa SELIC dos últimos tempos. Chegando a 2%, investidores estrangeiros não viam como atrativo o investimento no Brasil, visto que existiam outras oportunidades em países onde os juros estavam mais altos. Isso causou fuga de capital estrangeiro, aumentando a cotação do dólar.
Contudo, para controlar a inflação, o Banco Central vem elevando gradativamente a taxa de juros. Atualmente, a taxa SELIC encontra-se em 9,25% e, na última reunião do COPOM, foi indicado mais aumento para a próxima reunião. Embora o aumento da taxa não tenha pressionado o dólar, para o início de 2022 isso deve se cumprir.
Ciclo das commodities
Um ponto importante que pode ajudar a impulsionar o real é a cotação das commodities. Existe uma forte tendência destas seguirem em alta neste ano de 2022, o que irá favorecer o saldo comercial do país.
Isso se deve ao fato de, com o dólar valorizado, as commodities ficarem mais baratas no exterior, fornecendo um preço competitivo para os compradores. Com a economia mundial tendo projeções de um crescimento maior que o PIB brasileiro em 2022, há boas expectativas para o setor.
Contudo, é necessário observar a movimentação da China em relação a crise imobiliária que envolve a Evergrande e algumas outras grandes construtoras chinesas. A China é a maior parceira comercial do Brasil, principalmente em relação a commodities e uma deterioração do mercado imobiliário chinês pode gerar ruídos consideráveis nas empresas brasileiras.
Risco Brasil
Como 2022 é um ano de eleições presidenciais, existe uma grande probabilidade de piorar o já complicado cenário político e econômico do país. Como foi dito anteriormente, ainda que a taxa básica de juros tenha aumentado no último ano, isso não representou, na prática, a entrada de capital estrangeiro no país.
O motivo é que existe uma percepção de descontrole do cenário econômico brasileiro por parte de investidores estrangeiros. Há necessidade de alguma previsibilidade de forma a diminuir a percepção de alto risco em investir no país.
Sendo assim, com a entrada das eleições, o governo federal deve buscar formas de garantir a reeleição. Esses trâmites vêm desde o ano passado, com a aprovação da PEC dos Precatórios, que foi uma das formas de aprovar o Auxílio Brasil, programa que substitui o Bolsa Família, contudo, com um valor maior, chegando a 400 reais.
Com isso, aumentando o risco do país, existe uma probabilidade considerável disso de guinar um aumento do dólar. O cenário político tem sido um dos principais fatores para o desfavorecimento da relação cambial entre a moeda brasileira e a norte-americana.
Veja também: Risco-Brasil: qual a importância deste indicador?
Federal Reserve em tendência hawkish
Um ponto a ser considerado é a propensão do Federal Reserve, banco central dos EUA, a ter um comportamento mais “hawkish”, ou seja, de elevação das taxas de juros. Isso se deve ao fato da economia norte-americana e global estar tendo uma recuperação mais lenta, isso em meio a um cenário doméstico e internacional desfavoráveis.
Sendo assim, o aumento da taxa de juros norte-americana tende a tornar o dólar mais forte em relação a outras moedas, visto que diminui a liquidez dos mercados globais, aumentando a atratividade em opções mais conservadoras e seguras de investimento, como são os títulos do Tesouro americano.
Podemos acompanhar a cotação do dólar em relação ao real através da plataforma TradingView. Atualmente, a moeda norte-americana está cotada em R$5,67. No ano de 2021, a moeda sofreu alta volatilidade em relação ao real, chegando na máxima de R$5,87 e na mínima de R$4,91.
Pandemia Covid-19
Em 2021, a vacinação avançou por todo o mundo, contudo, ao que tudo indica, a pandemia ainda está longe de seu fim, principalmente depois do surgimento da variante Ômicron, que tem se mostrado muito mais contagiosa, embora seja bem menos letal que as variantes que surgiram anteriormente.
Nesse sentido, esse cenário gera instabilidade em todo o mercado internacional, onde alguns países europeus decretaram lockdown para conter o avanço de uma nova onda da pandemia. O temor por lockdowns generalizados, freando a economia global, são de fato preocupantes e possuem certa probabilidade de acontecer.
Com isso, a interrupção da economia global tende a enfraquecer o real. Contudo, espera-se que a SELIC, que deve atingir 11,25% ao final de 2022, contenham tais avanços, sendo um atrativo para investidores estrangeiros.
Conclusão
Mediante aos pontos expostos nesse artigo, percebe-se que é difícil traçar uma projeção para o dólar em 2022. Contudo, ao que tudo indica é que a moeda seguirá em forte volatilidade neste ano, onde alguns especialistas até apontam que a moeda norte-americana chegue a R$6,00, um aumento de fato expressivo.
Contudo, com uma promessa da taxa SELIC chegar aos dois dígitos até o final do ano, existe uma expectativa que o Brasil, mesmo com todos os riscos associados, principalmente em ano de eleição, se torne irresistível para investidores estrangeiros, principalmente com uma reserva cambial de US$300 bilhões, que passa certa segurança para estes investidores.
Sendo assim, vai ser necessário que alguns fatos se concretizem para que tenhamos maior previsibilidade sobre a cotação do dólar, no entanto, o fato é que, hoje, ao olhar os pontos que mais afetam o valor do dólar, vemos um claro favorecimento ao seu aumento ou, no máximo, estabilidade da moeda norte americana.