O ano de 2020 pegou todo investidor de surpresa, mostrando que a renda variável, de fato, varia. Passamos por 6 circuit breakers, onde uma onda de pessimismo e aversão ao risco generalizada fez a bolsa cair 0247%. Nesse período, nenhuma ação com liquidez relevante teve uma performance positiva, empresas identificadas como aquelas que poderiam ter os resultados mais impactados pelas medidas de distanciamento social impostas pelos governos foram as mais afetadas, como as aéreas Gol (GOLL4), Azul (AZUL4) e as agências de turismo, CVC (CVCB3).
Mas apesar da gravidade da situação, sabíamos que os lucros das empresas não iriam cair para sempre, e aos poucos o fluxo de capital seria retornado à bolsa. O que não imaginamos é que nos últimos 2 meses, após os estímulos econômicos dos governos em todo o mundo, a retomada dos investidores estrangeiros na bolsa brasileira e o rally das vacinas, fizeram o apetite ao risco voltar a crescer, fazendo com que a bolsa subisse +87% desde a sua mínima, encerrando o ano com o IBOV próximo dos 120 mil pontos.
Adentrando em 2021
2021 promete ser um ano de recuperação, com forte aquecimento das economias, disseminação das vacinas e as pessoas voltando ao trabalho. Além disso, o Governo promete acertar a questão fiscal, não rompendo o teto de gastos, após um ano de 2020 com gastos extraordinários. Se o governo não romper o teto de gastos, eles deverão permanecer com os juros baixos por anos.
Apesar do Comitê de Política Monetária (Copom) ter que futuramente aumentar a taxa Selic, os juros altos no Brasil já não é mais uma realidade, o rentismo da renda fixa com a taxa básica de juros a 14% acabou. A tendência é que as pessoas migrem seus investimentos para a economia real, seja na bolsa, startups, imóveis, negócios diversos etc.
Pensando nisso, realizamos uma seleção dos melhores setores da bolsa para investir em 2021, considerando as expectativas do mercado e as variantes macroeconômicas. Além disso, as empresas mencionadas apresentam resultados consistente (crescimento de receita, ebitda e lucros) e mesmo assim, negociam a preços abaixo do que realmente valem.
Varejo
Via Varejo (VVAR3), B2W (BTOW3) e Magazine Luiza (MGLU3), não tiveram um 2020 fácil. Em meio a pandemia e a crise econômica, as empresas foram obrigadas a fechar suas lojas por meses. Todavia, as companhias observaram uma nova forma de sobrevida, o e-commerce, permitindo que o consumidor realizasse suas compras de maneira rápida e fácil, recebendo o produto em casa sem a necessidade de se deslocar a uma loja física.
A perspectiva é que o comércio online brasileiro continue evoluindo em ritmo acelerado, onde mais consumidores possam usufruir dos canais online, resultando em melhoria do serviço e tempo de entrega. A consolidação dos meios de pagamento digitais, como o PIX, traz ainda mais força para este movimento, reduzindo os riscos dos varejistas e entregando maior praticidade ao cliente.
Além disso, o setor tende a prosperar com a continuidade na expansão da demanda, tendo como perspectiva de retomada do consumo, proveniente da recuperação dos empregos após a vacinação.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), há uma perspectiva de maior crescimento do varejo em 2021, projetando um avanço de 4,2%, baseados na retomada do crescimento econômico, na normalização dos padrões de consumo e na recomposição dos níveis de emprego e base salarial.
Commodities
Há boas perspectivas na demanda global por commodities (trigo, gado, soja, ouro, petróleo, etc.), tendo em vista que a junção de um crescimento econômico relativamente forte e um dólar mais fraco, resulta no estímulo aos preços mais altos para as commodities. Isso acontece porque, para os países emergentes, ou seja, países que apresentam níveis medianos de desenvolvimento, fica mais barato comprar commodities.
Além disso, com Jerome Powell, presidente do Sistema de Reserva Federal (Fed) e Janet Yellen como secretária do Tesouro dos Estados Unidos, as políticas fiscal e monetária expansionistas devem se manter, a fim de ajudar o país a vencer a crise. O que consequentemente aumenta as expectativas de inflação.
Para tal, os commodities oferecem maior proteção aos investidores contra os possíveis aumentos dos juros pelo Federal Reserve. Isso porque a inflação tem um impacto diferente nas commodities do que nos ativos financeiros. No caso de ações e títulos, a inflação faz com que a moeda se deprecie, corroendo seu valor real ao longo do tempo, já nas commodities, mantêm seu valor e preço.
Ações como Braskem (BRKM5) – petroquímicos, PetroRio (PRIO3) – petróleo, Marfrig (MRFG3) – carnes, Klabin (KLBN11) – papel e celulose, Vale (VALE3) – mineração, CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) – siderurgia e metalurgia, podem ser as grandes beneficiadas por esse movimento.
Incorporadoras
Com os juros de curto e longo prazo em patamares baixos, o custo da dívida das empresas cai e investimentos até então impensáveis passam a ser viáveis. Como reflexo dessa dinâmica, o setor de incorporação teve um terceiro trimestre bastante aquecido em lançamentos e vendas de imóveis. Além disso, há grande expectativa de continuidade do forte ritmo de apresentação de projetos pelas incorporadoras de capital aberto em 2021.
Além disso, a redução nos juros proporciona a realização do sonho da casa própria, com boas condições de pagamento para aqueles que pretendem comprar um imóvel de maneira parcelada. Em termos comparativos, no ano de 2015 a taxa Selic estava em 14,5%, e para comprar um apartamento de R$ 500 mil as parcelas deveriam ser em torno de R$ 6 mil. Esse mesmo imóvel, com juros muito mais baixos, pode ser adquirido com parcelas de R$ 3.500.
Vale ressaltar que o novo programa “Casa Verde e Amarela”, que promete substituir o “Minha casa, Minha Vida”, deve reaquecer o setor imobiliário, segundo os proponentes do projeto, seriam mais 350 mil casas a mais do que o formato anterior. A proposta é que os financiamentos possam atingir pelo menos 1,6 milhão de famílias até 2024.
Com o mercado animado com o superciclo imobiliário, as ações das incorporadoras como Eztec (EZTC3) e Cyrela (CYRE3) e MRV (MRVE3) podem ser as maiores beneficiadas.
Energia
Sabemos que o setor de energia é um dos mais defensivos no mercado de renda variável, devido ao seu longo prazo, através da oferta e demanda de energia com contratos de 20 a 30 anos de duração. Mesmo com os impactos do Covid-19, onde muitas empresas e indústrias pararam ou reduziram as suas atividades, contribuindo para a queda no consumo de energia, segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o consumo de energia no Brasil é crescente desde 2016, com destaque para o ano de 2019 com maior oferta por energias renováveis.
Setor elétrico: Ações defensivas a crises, lucratividade e bons dividendos
Além disso, o setor elétrico é perene, oferecendo serviços essenciais para todos, afinal, ninguém vive sem energia elétrica. Por conta disso, a grande maioria das empresas apresentam geração de caixa recorrente e pagam bons dividendos.
Segundo o BTG Pactual, o setor elétrico deve distribuir bons dividendos em 2021, cerca de 6,89% de dividend yield.
Empresas como Energias do Brasil (ENBR3), AES Tietê (TIET11), Equatorial Energia (EQTL3), TAESA (TAEE11) e Engie Brasil (EGIE3) tem tudo para adentrar 2021 com o pé direito.
Bancos
As maiores instituições do país, os bancos, não escaparam ilesos, queda na taxa de juros, novos entrantes e um ambiente regulatório desfavorável puxaram as ações dos bancos para baixo, com quedas relevantes no decorrer do ano.
Todavia, mesmo com o sobe e desce da cotação dos bancos, os grandes players da bolsa brasileira, bancarizaram mais de 10 milhões de brasileiros este ano, segundo informações do Banco Central (BC). Com isso,
Os novos entrantes se deparam com a reestruturação digital dos grandes bancos, a fim de competir diretamente com as fintechs, para não perder espaço no mercado. Além disso, com a chegada do PIX, há um nivelamento dos serviços oferecidos por pequenas e grandes instituições financeiras, deixando de incentivar a migração de clientes para bancos menores.
Com a pandemia, o custo de crédito subiu muito por conta da previsão de inadimplência, todavia os bancos devem ser beneficiados pela recuperação da atividade econômica e do emprego, o que diminui a inadimplência. Uma revisão das provisões para devedores duvidosos (PDD), poderá levar aos bancos um aumento de rentabilidade e uma possível supervalorização dos seus papéis.
Outros fatores podem beneficiar a receita, como a diminuição dos custos nominais, conforme a aceleração da redução da operação física, com redução de despesas com pessoal impulsionada pelos planos de desligamento voluntário (PDV) de 2020.
Levando em conta as boas projeções para os bancos no próximo ano, a expectativa de distribuição de dividendos também é alta. O próprio Conselho Monetário Nacional (CMN) editou a resolução que flexibiliza parcialmente a restrição de distribuição dos resultados das instituições financeiras em 2020 realizados na forma de dividendos ou de remuneração do capital próprio.
Ao que tudo indica o ano de 2021 promete para as ações de Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3) e Santander (SANB11).
Conclusão
É importante ressaltar que por mais haja alterações diárias no preço dos papéis, isso nem sempre significa uma melhora ou piora na performance da empresa. Para quem já me acompanha sabe que sempre reforço que os preços sempre acompanham os fundamentos no longo prazo.
Além da visão analítica sobre o negócio, é necessário que o investidor saiba se utilizar dos múltiplos e variáveis de análise técnica.
O ponto chave para qualquer investidor de sucesso é saber aproveitar do exagero otimista e pessimista do mercado. Sempre observar a visibilidade de resultado da companhia, mesmo que essa esteja com múltiplos EV/Ebitda e Preço/Lucro menores.
Lembre-se que o maior ativo de um investidor é o seu aprendizado, sempre buscando maneiras de ser melhor a cada dia. Entre em 2021 pare, pense e reflita, seja um investidor mais completo. Desejo a todos um excelente fim de ano e um próspero 2021.