Bernie Madoff: o maior piramideiro da história

As pirâmides financeiras, também conhecidas como esquema ponzi, operam no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Muitas pessoas acabam caindo no discurso de golpistas, que muitas vezes prometem retornos garantidos, com baixo risco e sempre com maior rentabilidade do que os investimentos tradicionais (ações, poupança, tesouro direto).

Essas rentabilidades enormes podem variar entre 1% a 100% mensais do dinheiro que a vítima investiu. As pirâmides são muito bem arquitetadas no sentido de tornar seu marketing muito atrativo para conseguir cada vez mais clientes com o passar do tempo, e assim, sustentar o esquema de pirâmide.

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Há quem pense que apenas leigos no mundo das finanças caem nesse tipo de golpe e acabam negligenciando a informação a respeito de se entender como esse tipo de golpista acaba agindo, tornando-os vulneráveis a golpes que possam não aparentar que realmente o são.

Isso acaba acontecendo por conta da vulnerabilidade das pessoas que caem no golpe. As pirâmides usam a propaganda apelativa e o aval de alguém influente no mercado e na sociedade, que acaba divulgando e colaborando com esse tipo de crime, seja de forma intencional ou não.

Mas o que dizer quando um esquema como esse acaba tendo como vítimas algumas instituições do mercado financeiro muito renomadas, que investem milhões e até bilhões em algo que anos mais tarde se descobre como uma fraude?

Foi o que aconteceu no caso de Bernie Madoff, responsável até hoje pela maior fraude do mundo das finanças que se tem conhecimento na história, e que acabou roubando bilhões de instituições financeiras e bancos, além de grandes investidores detentores de fortunas.

O caso de Bernie Madoff ficou muito conhecido por ser considerado o maior trapaceiro da história e acabou explodindo durante dezembro de 2008, no qual o mundo sentia os resultados da intensa crise que aconteceu durante aquele ano.

Momentos de crise acabam deixando pessoas mais vulneráveis a esquemas de pirâmide, porém a forma como foi o esquema de Madoff acabou transformando o modo com que se enxergava esse tipo de problema, afinal, quem imaginou que bancos e até mesmo o governo de Abu Dhabi, em todo seu lastro financeiro e de poder, pudessem cair numa fraude como essa?

Quem é Bernie Madoff?

Bernie Madoff ou Bernard Lawrence Madoff nasceu em Nova Iorque em 1938 e foi presidente de uma sociedade de investimento, fundada em 1960, ao qual tinha o seu nome. Ao longo de sua vida, acabou ficando marcado pelas acusações de fraude que chegaram na casa dos bilhões de dólares, e que veio à tona apenas em 2008.

Madoff veio de uma família judaica e acabou se casando com Ruth Madoff. Acabou participando por um bom tempo na National Association of Securities Dealers (NASD), que era uma organização da indústria de ativos financeiros dos EUA. A empresa pertencente a Madoff acabou sendo uma das que mais impulsionaram o índice NASDAQ, onde ele mesmo foi coordenador-chefe do mercado.

A Bernard Madoff Investment Securities LLC era uma das áreas presentes na empresa de Madoff, no qual incluía a maior parte dos funcionários. Nela ocorriam as funcionalidades de corretor de bolsa e também de formação do mercado de ações nos EUA. 

A outra parte da empresa de Madoff era de Investment Advisory, onde ele fazia investimentos para o Grupo Santander, e foi nessa área que acabou acontecendo a maior parte da fraude realizada.

Dados falaciosos a respeito de investimentos de Madoff acabaram sendo descobertos desde 1962. Ele havia investido o dinheiro de seus clientes em ações de alto nível de risco, e acabou manipulando os números para resultados maiores do que os que conseguiu, aumentando sua reputação positiva no meio do mercado financeiro, no qual começou a alavancar seu nome.

Durante tempos, ajudou diversos grandes investidores a conseguir formas de obter controle sobre moedas estrangeiras e também a conseguirem escapar de pagamentos de imposto de renda. Foi só a partir da quebra da bolsa em 1987, que Madoff acabou entrando de vez no esquema que traria um prejuízo gigantesco a diversas vítimas.

Como aconteceu a fraude?

A partir do ano de 1987, diversos investidores retiraram seus investimentos dos fundos, por conta da quebra da bolsa neste ano que se passou. Foi então que Madoff acabou entrando de vez no mundo das fraudes de carteiras, sejam elas de ações ou de opções, e dizia ter uma rentabilidade que na verdade nunca conseguiu.

Ela tapava o buraco que ficou com a retirada de dinheiro de diversos investidores através da obtenção de novos clientes, porém não investia em nada do que prometia, e foi assim, que diversas instituições financeiras acabaram confiando em Madoff para deixar em suas mãos bilhões de dólares para este gerenciasse fortunas, prometendo grande rentabilidade.

Entre as vítimas, estavam por exemplo o governo de Abu Dhabi, Bancos da Suíça  e o próprio grupo Santander. Os roubos de Madoff, que acabaram sendo confessados anos depois pelo próprio, não tinham limites de valor, mas mostraram um perfil de ganância e desejo de poder, ao qual Madoff estava disposto a fazer tudo para alcançá-lo.

Assim, foram quase duas décadas mentindo sua rentabilidade a seus clientes, ao passo que ficaria na teoria com uma pequena parte dos lucros, como funcionava com qualquer gestor de investimentos.

Entretanto, os negócios de Madoff acabaram se sustentando por muitos anos sem ser descobertos, diferentemente de esquemas de pirâmide comuns, que acabam não durando tanto tempo assim. 

O fato é que Madoff acabou arquitetando muito bem o seu esquema, construiu uma fama de grande investidor, ao passo que grandes bancos e instituições financiavam tudo isso. Ele conseguia capital de grandes bancos do mundo todo e também de grandes investidores, que por sua vez, alimentavam esses fundos que perpetuaram por muito tempo, sem nem sequer conseguir de fato a rentabilidade que era conhecida.

As comissões baixas que Madoff exigia, ao passo que sua rentabilidade era uma das melhores do mercado, fazia com que as instituições comercializassem seus investimentos a seus clientes, e foi assim que os estes colocavam grandes fortunas em suas mãos, sem necessariamente questionar tão a fundo a veracidade de seus incríveis lucros.

Entre os bancos que faziam esse tipo de comércio estavam por exemplo o Bank Médici, Santander, HSBC, UBP, Royal of Scotland, Fortis, Natixis, entre outros. Destes, o que mais tinha capital “investido em Madoff” era o Santander, com 2,87 bilhões de dólares.

Jamais se pensava, que com a fama que Madoff construiu e com mais de 63 bilhões de dólares de capital gerenciado, o até então maior gestor do mundo seria na verdade uma fraude sem precedentes na história.

Fairfield Greenwich Advisors, Tremont Group Holdings, Ascot Partners e Access International Advisor eram os principais fundos que Madoff geria através das instituições que colocavam dinheiro neles. Só aqui, temos uma soma de mais de 14 bilhões de dólares em fundos de investimento, dos quais cerca de metade era do Fairfield Greenwich Advisors.

Madoff atraía investidores na base da persuasão de marketing com a ideia de exclusividade e escassez, ao qual se passava a ideia de ser um homem inacessível, mas que logo depois acaba dando a ideia de que surgiam “vaga” para adquirir seus serviços, e era assim que rapidamente diversos investidores eram instigados a aceitar a oferta.

O mais interessante disso, é que um dos pontos que sustentava também a credibilidade de Madoff é que a sociedade que ele tinha através de serviços de agenciamento era verídica, e assim, acaba sustentando sua fraude no gerenciamento de títulos. 

Algumas previsões de Madoff no mercado de ações ocorriam realmente como ele falava, e até hoje muitas especialistas afirmam que na verdade ele tinha algumas informações privilegiadas de grandes “players”, ao qual podiam oscilar o mercado de forma relevante, fazendo com que Bernie “acertasse” diversos investimentos e crescesse seu nome no mercado financeiro.

Crise de 2008: Quando a “casa caiu” para Madoff

O esquema de pirâmide de Madoff se sustentou por muito tempo e parecia resistir a diversas crises, já que mesmo em meio ao caos da bolsa em 2008, os resultados de Madoff pareciam ainda serem os melhores do mercado financeiro. Era como um homem imbatível.

Mas mesmo com as rentabilidades incríveis em meio a crise, o pânico instaurado no mercado financeiro na crise de 2008 fez com que diversos investidores gigantes tirassem dinheiro dos fundos. Foi quando Madoff teve que devolver muito mais dinheiro do que realmente tinha em conta.

E quando os investidores reiteraram uma retirada que somava cerca de US$7 bilhões, Madoff acabou sem uma saída, já que tinha na verdade apenas US$1 bilhão disponível. Mas ele ainda não se deu por vencido, e ao final tentou sua “última tacada”.

Seu esquema todo foi baseado em pagar quem tirava dinheiro dos fundos com o dinheiro vindos de novos investidores, e era assim que Madoff tentou sustentar seu plano ao final, quando seus planos estavam indo por água abaixo.

Se reuniu com diversos investidores, banqueiros e afins, tal qual nunca havia feito antes, para tentar conseguir atrair capital suficiente para pagar os que estavam retirando dinheiro dos fundos.

Apesar de sua perspicácia, poder de manipulação e resultados que demonstrava, Madoff não conseguiu o suficiente, tendo em vista o medo que o mercado estava passando com a crise e acabou por fim em 2008 confessando todos os seus crimes à justiça.

O fim de Madoff: Mistérios e consequências

Como réu confesso, Madoff acabou não precisando dar tantas explicações assim aos investidores, no qual agora eram suas vítimas, e nem a justiça. Muitos buracos ficaram nessa história e até hoje não se sabe exatamente qual foi o tamanho da fraude financeira ao qual este foi responsável, nem mesmo todas as outras pessoas que estiveram envolvidas.

Embora as fraudes de Madoff tenham uma estimativa em torno de até US$63 bilhões de dólares, alguns analistas do caso apontam que as quantias foram ainda maiores e envolveram bancos, instituições de caridade, investidores pequenos e grandes e muitos outros.

O ressarcimento das vítimas acaba sendo um problema até hoje, já que há uma divergência muito grande entre os tipos de investidores que consultavam Madoff, desde pessoas físicas a jurídicas, e até organizações que não tinham fins lucrativos.

Embora Madoff diz ter agido sozinho, cogita-se que muitas pessoas participavam de seu esquema que até hoje são procuradas e investigadas, mas mesmo anos após o fim deste caso, muitas respostas acabam sendo ocultas no caso.

No final, a pena de Madoff em 2009 acabou sendo de 150 anos de prisão e um total de 117 milhões de indenização, o que muitos consideram um valor abaixo do que realmente deveria ser, frente a grande fortuna ao qual estava envolvida na fraude.

Uma curiosidade, é que na prisão, por volta de 2017, há relatos de que Madoff chegou a comprar todos os pacotes de Swiss Miss, que é uma bebida instantânea de chocolate, e fazia um esquema que acontecia de forma direta com as autoridades de dentro da prisão, que por sua vez, acabava formando um comércio de venda do produto a um preço mais alto para os presos.

Conclusão

Os desdobramentos do caso Madoff repercutem até os dias de hoje. Um caso totalmente atípico de pirâmide financeira, foi acompanhado de diversos outros crimes, como lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e dentre outros.

Madoff acabou roubando recursos até mesmo de famílias, que até hoje algumas perderam tudo que haviam conseguido em suas vidas. Madoff virou filme, livro e até hoje aparece nos noticiários em algumas atualizações do seu caso e também por conta da debilidade de sua saúde.

No começo de 2020, Madoff afirmou que estaria morrendo e assim justificaria seus motivos para que fosse liberado da prisão, com 81 anos de idade. Ele teria insuficiência renal, e assim, segundo informações, teria cerca de 18 meses de vida, apenas.

Além disso, há alguns dias atrás a partir da data em que esse texto é escrito, foi anunciado a criação de um fundo para que as vítimas de Bernard Madoff, pudessem ser ressarcidas em aproximadamente 488 milhões de dólares em reembolsos adicionais, como constam informações do Departamento de Justiça americano no dia 10/12/2020.

Os esquemas de pirâmide milionários e bilionários, liderados pelo maior deles, que é o caso Madoff, acabaram deixando muitas instituições e investidores cautelosos a partir de então, ao qual se vê a todo momento a necessidade de saber com que tipo de gestor se está lidando.

Apesar disso, esse caso também traz uma certa lição ao mercado financeiro estar sempre vigilante em relação a grandes reputações, mesmo que estas pareçam não ter nenhuma irregularidade. Casos como esses, acabam endurecendo as leis a respeito de fraudes, ao passo que criam mecanismos no mercado para que coisas assim possam não se repetir.

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