A bolsa de valores sempre teve um histórico de grandes variações de preço nas ações, uma vez que funcionam com relação direta com oferta e demanda dos ativos. O que acontece em alguns momentos é que a diferença de compradores e vendedores fica tão alta, que acontecem variações no preço que ficam fora do expectativas dos investidores.
Essas variações atípicas são comuns em ações específicas em certo período, porém quando estas acontecem no Ibovespa, ou seja, no índice que agrupa o maior volume das ações brasileiras, significa queda em massa da maioria das ações, o que demonstra que algum acontecimento importante está ocorrendo.
De tempos em tempos, mesmo que algumas vezes demore anos pra acontecer, sempre há algum acontecimento marcante que afeta fortemente a bolsa, muitos investidores perdem fortunas de uma hora pra outra, embora a recuperação após isso geralmente vai acontecendo de forma gradativa.
Um desses acontecimentos marcantes dentro do Brasil foi dia que ficou marcado como Joeslay Day. Esse dia foi de terror para muitas pessoas, que perderam fortunas em meio a queda da bolsa brasileira em mais de 10%.
O que foi o Joesley Day?
Foi um dia marcante nos noticiários brasileiros, ao qual colocou em cheque a situação política da época. Ocorreu um vazamento de áudio, que havia sido gravado por Joesley Batista, dono da JBS, em que Michel Temer teria feito parte de um esquema de corrupção com a compra de silêncio de Eduardo Cunha, ex-deputado que também havia sido preso acusado de corrupção.
O áudio, por sua vez, fazia parte de uma delação premiada em que Joesley estava inserido, para tentar amenizar sua pena de acusação de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro e teria sido gravado em março daquele mesmo ano.
A notícia foi comunicada à imprensa no dia 17 de maio de 2017 e a bolsa sentiu toda essa turbulência no dia seguinte (18), que é justamente dia que ficou conhecido como Joeslay Day pelos que costumam lidar com o mercado financeiro. O áudio teria sido gravado por Batista em março daquele mesmo ano.
O processo teve participação da Procuradoria Geral da República, a conhecida PGR. Ficou muita conhecida uma frase marcante dita por Temer no áudio que se espalhou por aí: “Tem que manter isso, viu?”, disse o ex-presidente Temer logo após ouvir todas as informações a respeito de mesadas que Eduardo Cunha estaria recebendo dentro da prisão para manter silêncio.
Por qual motivo a bolsa caiu tanto?
Esse áudio colocava em dúvida não só a continuidade do posto de presidente do Brasil de Michel Temer, mas também influencia na instabilidade política do país, que na época passa por um contexto de tentativas de uma agenda de reformas importantes, como a reforma da previdência.
O que se temia na época, era justamente a possível prisão do presidente ou quem sabe uma renúncia que poderia acontecer por si só ou por processo de impeachment. A questão central aqui é num contexto de reformas que o Brasil passava, justamente na reforma da previdência, que era algo tão importante no país, o acontecimento trazia diversas incertezas políticas e econômicas para o futuro.
Leia também:
- Os maiores cisnes negros do mercado financeiro
- Por que o preço das ações sempre varia?
- Por que o dólar está subindo tanto em 2020?
De quanto foi a queda?
Sendo assim, devido a essas incertezas e pânico generalizado, muitos investidores correram na venda de seus ativos, o que fez com que a bolsa despencasse no Joesley Day. Embora o Ibovespa fechou o dia em queda de 8,8%, o pânico foi logo instaurado já na primeira hora de funcionamento da bolsa, no qual havia caído mais de 11%.
Além disso esse 8,8% de queda no fechamento, acumulou uma baixa naquela semana de 9,7% da semana e no mês de 5,8%. Vejamos isso graficamente:
Ibovespa no Joesley Day
Como pode se ver claramente, no centro do gráfico vemos o Ibovespa despencando a partir do dia 18 e teve acentuada queda até o dia 23, onde voltou a ter alguma sucessão de alta.
Nesse momento foi determinado o circuit breaker, que é uma alternativa utilizada pela bolsa brasileira (B3), para que amenizar as perdas de grandes fortunas de investidores, com quedas tão acentuadas de preço. No circuit breaker, é determinada a paralisação total das operações da bolsa, ninguém consegue comprar ou vender nenhum ativo até que se determine a volta.
Até 9h da manhã naquele dia, todas as operações foram bloqueadas para proteger os acionistas de mais perdas. Esse acontecimento não ocorria desde 2008, em que a crise econômica mundial afetou fortemente o mercado financeiro, com altas quedas semelhantes em um único dia.
Porém, o que muitos investidores disseram é que a diferença para 2008 é que o contexto da época era de crise financeira mundial, enquanto que em 2017 a agenda de reformas trazia um cenário mais favorável a um crescimento, depois das incertezas políticas também causadas após o impeachment de Dilma Rousseff. Sendo assim, o mercado voltava a se mostrar otimista, pegando todos de surpresa com tal notícia.
Após o circuit breaker do dia 18 logo pela manhã, as operações acabaram voltando só a tarde, e mesmo assim, algumas operações como a do dólar foram bastante dificultosas. Ao passo que a bolsa caiu, a o dólar disparou, e as negociações do mesmo ficaram travadas e sem muitas opções de compra, exceto por preços mais elevados.
A cotação do dólar no fechamento da bolsa foi de alta de 8% em um único dia, chegando a R$ 3,38, como segue o gráfico:
Dólar no Joesley Day
Como podemos ver, o cenário do dólar que era de queda até então, teve seu maior pico no dia 18 de maio, saltando de R$ 3,14 para R$ 3,38 e depois, com uma sequência de altas também nos outros dias subsequentes.
Nesse dia os resultados brasileiros no final do dia não acompanharam em nada o mercado mundial. A bolsa americana, por exemplo, via alta em seus principais índices. O S&P 500 subia 0,37%, Dow Jones 0,27% e a Nasdaq 0,73%.
Na Europa, os índices também caíam, porém longe de ser em mesma proporção que o índice brasileiro. Na França o índice PCAC fechava em queda de 0,53%, na Alemanha a DAX caiu 0,33% e na Inglaterra o FTSE havia caído 0,89%. Na Ásia, a pior foi do índice NIKKEI do Japão, que caia 1,32%.
Os 8,8% de queda do Ibovespa não representa necessariamente os prejuízos que diversos investidores tiveram naquele dia. Já que o índice acaba se aproximando da média do volume de ações.
Algumas ações despencaram mais de 20%. Obviamente que aliado a qualquer queda da bolsa e por mais difícil que foi o cenário, algumas raras ações tiveram alguma exceção de lucro expressivo nesse dia. Vejamos então as maiores baixas e altas no Joesley Day.
As maiores baixas do dia 18/05/2017:
Empresa | Papel | queda |
Eletrobrás | ELET3 | 21,0% |
CEMIG | CMIG4 | 20,4% |
Banco do Brasil | BBAS3 | 19,9% |
Metalúrgica Gerdau | GOAU4 | 17,1% |
Eletrobrás | ELET6 | 17,0% |
As maiores altas do dia 18/05/2017:
Empresa | Papel | alta |
Fibria | FIBR3 | 11,5% |
Suzano | SUZB5 | 9,9% |
Embraer SA | EMBR3 | 2,7% |
Klabin | KLBN11 | 1,6% |
Vale | VALE5 | 0,4% |
Como pudemos ver, ações como a Fibria e Suzano nesse dia foram raras de encontrar. O maior número de ações foram de baixa e de quedas atípicas para o conjunto e contexto inserido, no qual alguns investidores perderam até muito mais do que outros.
O que ocorreu nesse caso das ações de alta, foi justamente ações que estão mais relacionadas com a dotação do dólar, sendo assim, estas acabaram se beneficiando com a alta considerável do dólar nesse dia.
E o Joesley?
Ironicamente, enquanto o mercado via as ações derreteram e dólar disparando, Joesley Batista saiu ganhando muito com isso tudo.
A própria PGR informou que alguns dias antes da delação que mudaria os rumos da política do país e queda acentuada da bolsa, Joesley havia realizado diversas operações que renderam a ele e seu irmão aproximadamente R$ 238 milhões, no qual R$ 100 milhões seriam com operações em dólar e R$ 138 milhões em operações com ações da JBS.
Obviamente que os irmãos Batista se deram bem apenas de momento, já que isso se caracterizou numa nova investigação tempos depois de crime de insider trading, que se dá por meio do lucro obtido através da obtenção de informações privilegiadas, com o qual teria sido arquitetado de forma antecipada, segundo indícios.
O insider trading é caracterizado pela legislação como um crime financeiro e está previsto sob pena de multa e até prisão. Não só nisso tudo, Joesley e seu irmão são até hoje investigados por outras denúncias ligadas à corrupção com políticos e participação em propinas.
Conclusão
O Joesley Day foi um momento de extrema relevância no cenário político e econômico do Brasil, mas ao mesmo tempo, deixou um aprendizado a muitos investidores, principalmente aos novos, que não estavam acostumados com cenários tão turbulentos.
O fato trouxe pensamentos novos aos acionistas, onde boa parte deles deve com certeza reviu a forma com a qual investia e como saber lidar com momentos como esse, preparando-se para possíveis ocorrências futuras.
Essa consciência é importante, pois não foi um fato isolado. Diversos outros momentos momentos da história brasileira, vimos ocorrências desse tipo, obviamente com intervalo de anos, mas mesmo assim, levando em conta esses fatos, é previsível dizer que não seria a última vez que a bolsa de valores viveria momentos como esses, trazendo perdas para quem está portando os ativos e também oportunidades para compra.