“How chronic renters are reshaping the homeware industry” – texto escrito e publicado originalmente em inglês por Katie Bishop na BBC. Link da publicação original.
Ser dono de uma casa é um sonho distante para muitos millennials. Mesmo assim, eles querem espaços para alugar com estilo e personalização. Essa sua ambição, está mudando a indústria de artigos para casa.
Se auto-proclamou mãe ou pai de plantas recentemente? Viu sua rede social cheia de itens de cozinha rosa millennial e prateleiras de livros organizadas por cor? Ou buscou sua marca favorita de roupas e viu que eles iniciaram um departamento de itens para casa cheios de estampas e detalhes em dourado rosé?
Antes, eram nossas roupas a principal maneira de mostrar nosso estilo, agora, nossas casas, estão se tornando conteúdo para compartilhar.
Busque #interiordesign no Instagram e você vai encontrar mais de 90 milhões de fotos perfeitamente curadas de quartos com as cores perfeitas e salas de estar com paredes extremamente brancas. Esferas privadas da nossa vida que antes eram compartilhadas somente com nossos amigos mais próximos e ocasionalmente para alguns convidados, agora são feitos para serem mostrados à todos.
“Todos estão ficando mais preocupados com como suas casas aparentam” diz Alessandra Wood, uma historiadora do design e VP de estilo da Modsy.
“Estamos vendo mobiliários acessíveis se tornarem muitos mais estilosos e na moda. O preço inicial não é mais uma tristeza, está atingindo vários blogueiros e influenciadores, assim como acontece na moda.”
Pessoas jovens estão com cada vez mais soluções temporárias para o desafio de fazer um espaço locado ter um interior personalizado sem infringir as regras dos locadores.
Apesar dos posts do Instagram poderem inspirar novos interesses em decoração, cada vez menos de nós está personalizando casas que podemos chamar de nossas. Os preços elevados das casas e salários sem aumento nos levaram a uma explosão de aluguel na Europa e nos EUA, com somente 37% das pessoas entre 24 e 35 anos sendo donos de uma casa (comparando a 43% em 2005). No Reino Unido, a taxa é ainda menor, somente 34% das pessoas desta faixa etária têm uma propriedade (comparado a 55% em 1996).
É evidente que os millennials e a geração Z estão locando casas como nunca vimos antes, mas, a vontade de tornar essas casas um lar continua a mesma. Enquanto escolher o tom ideal para a sala de estar ou colocar novos carpetes eram fatores primordiais para seus pais, os jovens estão cada vez mais encontrando soluções temporárias para o desafio de fazer um espaço locado ter um interior que desejável sem infringir as regras dos locadores.
Chic removível, aluguel de plantas
“Uma casa é um lar, seja alugada ou não” diz a locatária Chelsey Brown, 27 anos, que mora em Nova Iorque. “Muitas pessoas são resistentes a alterar os espaços por causa das restrições, mas não permito nenhum locador me limitar ao que eu posso ou não fazer. Por exemplo, eu sempre quis ter paineis de moldura nas minhas paderes, então descobri um jeito de instalar frisos temporários. E também, sempre sonhei em ter uma cozinha de mármore branco e consegui o visual que eu queria usando adesivos.”
Para alguns locatários iniciantes, personalizar um lar pode ser feita com adereços estilosos e acessíveis. As vendas de plantas para interior aumentaram quase 50% nos EUA nos últimos três anos e gigantes varejistas como Zara, ASOS e H&M lançaram sua linha de produtos para casa, focando em itens pequenos como vasos, almofadas e velas que são fáceis de incorporar em um espaço já mobiliado.
Brown está trabalhando em produtos removíveis para locatários, como pisos colantes e azulejos removíveis inspirados pela sua própria experiência de reformar propriedades locadas. “A pouco tempo atrás, alugar seria só parte do processo de ter um lar, hoje, está se tornando definitivo para muitas pessoas” ela explica. “Quero mostrar pra as pessoas que elas podem criar o espaço dos seus sonhos em uma casa alugada.”
Algumas empresas oferecem para equipar casas com mobília locada, com tudo, desde sofás a plantas. Isso dá aos locadores oportunidades de possibilitar que as pessoas tenham interiores que estão na moda ao invés de sofás marrons e mobílias que não combinam entre si. Também podem oferecer a oportunidade dos millennials personalizarem seu próprio espaço temporário.
“Empresas de aluguel renasceram como soluções atuais e estilizadas, sendo alternativa à compra de móveis para espaços temporários” explica Wood. “Essas emresas estão focadas nos millennials que tem ansiedade de ter que se comprometer com pertences.”
A empresa californiana Fashion Furniture Rental, é um dos serviços oferecendo mobiliário, eletrônicos e produtos de casa por mensalidades. Apesar da empresa ter tradicionalmente ajudado a produzir projetos de larga escala, desde dormitórios de estudantes à militares, está demonstrando interesse crescente nesses jovens locatários.
“Alugar móveis quando você precisa e devolver para a empresa quando estiver pronto para partir para sua próxima aventura é extremamente atraente.” – Abra Landau
“Estamos vendo uma tendência de pessoas, especialmente millennials e geração Z, procurando por novas experiências ao invés de ficarem fixos em um só lugar” diz Abra Landau, gerente de marketing da Fashion Furniture. “Com esse pensamento, a ideia de locar mobiliário quando você precisa e devolver para a empresa quando estiver pronto para partir para sua próxima aventura é extremamente atraente.”
Enquanto o mercado muda para ter novos clientes focados em estilo e design, empresas que oferem itens para alugar estão mais propensas a adaptar seus modelos e itens de acordo com as necessidades.
“Acredito que em todas as indústrias, serviços personalizados e acessíveis são a nova moda” diz Rhiannon Smith, representante da empresa The Plant Library. “As pessas querem as coisas para se sentir bem, sem ter que pensar muito ou gastar muito para isso. Antecipo dizendo que este é um setor que vai ser bem popular e continuará crescendo.”
Os riscos do investimento
Alugar as peças do interior da sua casa pode parecer um jeito caro de personalizá-la, mas é uma solução que vem crescendo dentre os millennials ligados à estética que não vêem valor em investir em itens permanentes.
“Uma vez que você pagou seu condomínio, aluguel e as taxas, não sobra muito dinheiro para comprar mobília” afirma Medina Grillo, locatária de 31 anos do Reino Unido. “Muitos dos móveis no meu primeiro aluguel eram comprados no eBay, baratos, não combinavam ou presentes de família e amigos. Na época, alugar móveis teria sido ótimo.”
Ela personalizou sua casa com muitas cores e estampas, compartilhando a casa invejável nas redes sociais.
“Por eu morar de aluguel, preciso me lembrar constantemente que não posso me deixar levar pelas minhas ideias de decoração”, ela afirma. “O medo de perder o cheque caução é um dos maiores desafios para os jovens, especialmente quando alugam diretamente com o proprietário. Alguns podem ficar com medo de decorar ou investir dinheiro em uma casa que não é deles, achando que este dinheiro poderia ser melhor investido na compra de um imóvel.”
Grillo já vivenciou o lado ruim de investir tempo e dinheiro em uma propriedade e depois seu locador decidir vender sua casa. “Nós vivemos lá por quase três anos e criamos muitas memórias felizes. Ter que mudar já era triste e achamos o processo de procurar uma nova casa, tendo uma criança, muito estressante. “
Para alguns, o impacto de ser forçado a sair da propriedade que eles reformaram é muito grande. Amina Mucciolo, dona de uma casa com tema de arco-íris que fez sucesso na internet, foi ameaçada de ser expulsa do local, perdendo seu lar e a vida que tinha construído ali.
Na luta de encontrar pertencimento, millennials e a geração Z estão criando lares de formas criativas. Muitos não querem perder o conforto e a beleza, mas a natureza dos ambientes que criam reflete uma efemeridade em suas vidas. Enquanto possuir um imóvel for um sonho distante para a maioria deles, empresas continuarão se adaptando e mudando a indústria de artigos para casa.
“Estamos vivendo um momento em que o mundo exterior assusta cada vez mais” diz Wood. “Nossa casa é nosso santuário, nosso espaço privado nos protege do mundo exterior e pode nos dar segurança psicológica. As pessoas querem investir mais para tornar suas casas bonitas e reflexo delas mesmas. Elas podem usar serviços acessíveis ou arriscar o DIY (Do it yourself – faça você mesmo) usando o Instagram e Pinterest como inspiração. Mas, independente do caminho que decidirem seguir, irá refletir nosso amor por coisas bem feitas.”