Bear Market: a época das vacas magras

Todo mercado, seja de criptomoedas, commodities ou ações, se movimenta em ciclos de alta e de baixa. Em certos momentos, os preços estão em alta, disparando a cada dia. Em outros, quem apostava na alta acaba se machucando com as novas quedas de preço. Essa dinâmica é conhecida como Bull vs Bear.

O bear market pode chegar a qualquer hora, seja por eventos do tipo Cisne Negro (aleatórios e impactantes) ou por diversos fatores estruturais da economia e do mercado que modificam a percepção e expectativa futura dos participantes do mercado. A questão é que quando o urso sai para passear, as ruas de Wall Street e da Faria Lima ficam mais vazias.

O garçom do Ráscal, acostumado a receber boas gorjetas, fica mais ranzinza. Os restaurantes perdem aquele público vibrante e cheio de esperanças de bull market. Nessas horas, empresas viram um “salve-se quem puder”, principalmente se está envolvida com o mercado que está no ciclo de Bear.

Época das vacas magras, o bear market

Se achamos que somos gênios em épocas de bull market, a virada de tendência serve para provar exatamente o contrário, principalmente a custo de muito dinheiro daqueles que dobraram a aposta e ficaram muito gananciosos.

O bear market vem para corrigir as distorções causadas na economia e nos fundamentos dos ativos durante o período de euforia. O preço dos ativos fica muito descolado em relação ao seu valor intrínseco, gerando oportunidades para quem quer começar vender.

Normalmente, os bear markets chegam ao mercado financeiro quando a economia internacional está encolhendo. Empresas perdem margem, lucratividade e apresentam piora nos fundamentos. Como resultado, as principais bolsas de valores do mundo começam a apresentar desvalorização.

Quando o mercado está em baixa, algumas pessoas começam a perder dinheiro e com isso, começam a procurar outros ativos. Há uma queda de demanda no curto prazo, o que ajuda a piorar a correção.

Quando a maré está baixa, é possível ver quem está em situação difícil. Quem não acredita na alta do mercado ganha muito dinheiro ao apostar contra, ganhando tudo aquilo que perdeu no bear market. Aqueles que estavam gananciosos, quebram.

Em um bear market, notícias negativas causam grandes impactos no preço, enquanto nem a notícia mais positiva é capaz de trazer algum alento. Em estágios mais agudos, há desânimo e descrença, o que resulta em capitulação, que é quando até o mais otimista está começando a desacreditar.

“Vol é vida”?

Esse é um questionamento feito de tempos em tempos por quem trabalha no mercado financeiro, perguntando se a volatilidade (apelidada carinhosamente de “Vol”) é prejudicial ou benéfica para o mercado. Então, respondendo objetivamente à pergunta: “Vol é vida, desde que seja para cima”.

Não há nada como uma dose de aleatoriedade no preço de um ativo para dar mais ânimo ao dia. Todos ficam mais empolgados e gananciosos, principalmente quanto essa “vol” é para cima. Ela traz vida para as ruas da Faria Lima, para as mesas dos restaurantes e cafés. 

O problema é quando a “vol” é para baixo. Quando isso acontece por prolongados períodos de tempo, a coisa fica feia. Antes de ser mal interpretado, respondo: sim, é possível ganhar dinheiro mesmo quando o mercado está em baixa, principalmente através de vendas a descoberto (short). 

A questão é que a vida fica difícil quando o mercado vira para Bear, especialmente para quem trabalha com fundos e prospecção de clientes. Quando a bolsa ou qualquer outro ativo está em baixa, os clientes perdem interesse e migram para ativos que estão em “alta”.

Por isso, quase sempre é bom que a “vol” seja para cima para que tenha vida: mais interesse, que gera mais demanda, que gera mais negociações. 

Por que um cruzamento de médias móveis pode trazer tanto sofrimento?

Médias móveis são indicadores de análise técnica utilizados para detectar a tendência de um ativo em um determinado período: se é de alta ou de baixa. Os períodos de médias móveis mais utilizados (sabe-se lá o motivo) são de 200 e 50 dias.

bear market
Cruzamento de Médias Móveis em 50 e 200 períodos. Fonte: TradingView

O analista costuma utilizar esses dois períodos em conjunto. O objetivo é analisar o cruzamento de médias móveis. A hipótese é o mercado esfriou e mudou para bear quando a média móvel de 200 períodos cruza para cima da média móvel de 50.

Isso quer dizer que o mercado perdeu demanda compradora no curto prazo. Com isso, a tendência é que venham as correções que darão início ao bull market. Nesse caso, o cruzamento de médias móveis funciona como o solstício que anuncia a chegada do inverno para os mercados.

Quando o bear market chega, acontece uma limpeza saudável e natural, necessária para aumentar o grau de eficiência e saúde do mercado. Especuladores ineficientes sofrem e saem do mercado, só restando os otimistas e aqueles que estão aproveitando o pessimismo para comprar mais.

Só está protegido quem soube vender na hora certa e rebalancear a carteira para diminuir a exposição. Um bear market é ruim para aquele que achava que era gênio quando o mercado estava em alta.

Quando o inverno chega ao fim? Como agir no Bear Market?

Mercados de baixa passam por períodos de consolidação após chegarem no auge da perda. Um dos sinais mais claros de que o período difícil está chegando ao fim é quando até o mais otimista está desanimado e o interesse pelo ativo é quase nenhum, o que impacta em grandes volumes de negociação.

Mas é preciso tomar cuidado. Não é para investir em todo ativo que desvalorizou 90% e virou desinteressante. Há casos diferentes e muitas variáveis para analisar: fundamentos, ecossistema e contexto. Alguns ativos (Criptomoeda Nano) que fazem -90% desde a máxima histórica talvez nunca mais voltem para o mesmo patamar.

Caso nenhum desses fatores esteja positivo, talvez seja a hora de deixá-lo virar pó e procurar por outra oportunidade. No Bear Market vencem aqueles que são mais pacientes e que souberam rebalancear a carteira com uma melhor alocação de risco. Os melhores alocadores podem aproveitar a liquidação para fazer um melhor preço médio.

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