Jornais, especialistas e até leigos, tentam todos os dias explicar as razões de o preço de uma ação ter oscilado em um determinado período. Na verdade, as ações de uma empresa na bolsa de valores são um eterno sobe e desce. Mas quais são os motivos desses movimentos no preço das ações? Um dia eles vão parar de acontecer?
Bom, a bolsa de valores reúne compradores e vendedores de ações, moeda, commodities, títulos e muitos outros ativos. Essa interação cria o que chamamos de oferta e demanda, que consiste em, basicamente, pessoas querendo comprar ou vender ações em um mercado (bolsa de valores).
Essas negociações vão sempre resultar na variação dos preços. Compradores estão sempre tentando pagar o menor preço, vendedores estão sempre procurando vender pelo maior preço. Por esse motivo, a variação dos preços nunca chegará ao fim.
O que causa variação no preço das ações?
As ações de uma empresa ficam mais caras quando mais pessoas estão propensas a comprar do que vender. Uma ação cai de preço quando mais investidores estão dispostos a se livrar delas pelo preço que aparecer na frente. Essa é a oferta e demanda definindo o preço de uma ação.
O conjunto de ações de empresas brasileiras consiste em um índice, o Ibovespa. Através desse índice é possível saber se o mercado de ações no Brasil está, em média, se valorizando ou desvalorizando.
Mas o que leva investidores a comprar ou vender ações? Investidores compram e vendem ações de uma empresa pelos mais variados motivos e indicadores: cenário econômico, político e social do país e mundo, contexto do setor de atuação da empresa, números da empresa, potencial de crescimento e rumores/expectativa do mercado. Abaixo, vou explicar como funciona cada um deles.
Cenário econômico país/mundo
É muito improvável que as ações de uma empresa estejam em valorização com a economia indo mal. Se a economia de um país estiver encolhendo e sem perspectivas de melhora, as empresas estarão diminuindo sua expectativa de receita, vendendo menos e demitindo funcionários. Isso impacta diretamente no resultado financeiro e balanço das empresas.
As ações de empresas brasileiras estavam em baixa entre os anos de 2016 e 2017. Nossa economia estava estagnada e sem muitas perspectivas de melhoras. As ações podem voltar a subir quando a economia passa a apresentar sinais de melhora ou, ao menos, melhores perspectivas.
Política
Os empresários não gostam de mais incerteza, por isso que a política também exerce um papel importante sobre a movimentação dos preços das ações. Essa influência é ainda maior quando falamos do Brasil. Dependendo da visão do governo, empresas na bolsa podem ser prejudicadas ou favorecidas. Casos de corrupção, golpes de estado ou instabilidade também afetam as empresas na bolsa.
Em maio de 2017, Joesley Batista, influente empresário brasileiro, vazou áudios comprometedores sobre o, até então, presidente Michel Temer. Naquele dia, a bolsa brasileira despencou mais de 12%.
Mais recentemente, a Guerra Comercial entre China e Estados Unidos está provocando diversas oscilações na bolsa. Já vivemos em um mundo de absoluta incerteza, investidores não gostam de mais incerteza ainda.
Números da empresa
Margem sobre vendas, receita líquida, grau de endividamento, crescimento de patrimônio e fluxo de caixa. Esses são só um dos poucos indicadores contábeis que nos dão informações sobre a saúde financeira da empresa hoje e sua perspectiva futura.
As empresas divulgam seus balanços periodicamente (trimestral, semestral ou anual). Se os investidores são surpreendidos (de forma positiva ou negativa), os preços das ações dessa empresa tendem a oscilar.
Uma empresa pode surpreender e apresentar números piores do que os investidores estavam esperando. Nesse caso, as ações dessa empresa cairiam logo após a divulgação do balanço. Ou seja, houve uma expectativa positiva em um primeiro momento. Contudo, os números do Balanço Financeiro decepcionaram os investidores, que resolveram vender parte de suas ações.
Expectativas e rumores de mercado
Em 2007 já estava circulando um rumo sobre a descoberta do pré-sal na costa brasileira. A Petrobrás anuncia a descoberta em novembro do mesmo ano. Após a divulgação da notícia, as ações da petroleira dispararam mais de 17% em apenas 1 dia, o que é um movimento bem raro na bolsa de valores.
A bolsa também pode subir por conta de expectativas. O Ibovespa (índice de ações brasileiras) e diversas ações de empresas brasileiras (principalmente estatais) dispararam entre o dezembro de 2018 e março de 2019.
Os investidores estavam esperando reformas no sistema previdenciário, liberalização da economia, privatização de empresas estatais e a retomada da economia. Ou seja, os investidores se antecipam aos eventos e refletem as expectativas no preço. É por essa razão que os preços caem logo depois do acontecimento do esperado evento, o que é conhecido como “Compre no boato e venda no fato”.
Manipulação
Empresas e agentes do mercado podem formar um conluio para manipular o preço das ações de uma empresa. O caso mais famoso do Brasil foi o caso da “Bolha do Alicate”. As ações da Mundial S.A, fabricante de alicates e produtos de cozinha, chegaram a valorizar mais de 1600% em 2011. Em menos de 1 ano, as ações da empresa já estavam em seu menor valor da história.
Isso foi possível porque o presidente da empresa manipulou os números da empresa. A empresa tinha uma dívida de aproximadamente R$ 400 milhões. Contudo, os balanços forjados mostravam R$ 279 milhões em créditos a serem recebidos.
Os balanços financeiros da Mundial mostravam-na recebendo cerca de R$30 milhões de Hércules, relativos ao pagamento dos juros dessa dívida, enquanto que de acordo com a polícia, apenas 1 milhão de reais havia sido pago.
Muita gente ganhou e perdeu dinheiro nesse movimento. Quem entrou por último provavelmente amargou grandes perdas. Lembro que um professor da minha escola ganhou um bom dinheiro na Bolha do Alicate e nunca mais voltou para dar aula.
Setor e potencial de crescimento da empresa
Os investidores também consideram o setor de atuação e potencial de crescimento de uma empresa. As maquininhas de cartão, por exemplo, apresentaram um crescimento exponencial nos últimos 10 anos. A Cielo, empresa que dominava o setor, perdeu sua margem de lucro e viu suas ações despencarem. Contudo, a alta concorrência do setor reduz qualquer margem de lucro por parte das empresas participantes.
Nem todas as variações são explicáveis
As ações variam de preço porque são negociadas diariamente na bolsa de valores. Suponha que a ação da Petrobrás caiu 1% ao dia, diversos especialistas vão tentar justificar essa queda de preço. Contudo, nem sempre isso pode ser explicado, porque pode ter sido simplesmente um movimento aleatório de curto prazo.
Se a variação média da Petrobrás é de 2% ao dia, não há sentido em tentar explicar a razão de uma queda de preço. Essa variação já é prevista e está dentro da média. Muitos “analistas” tendem procurar motivos para justificar uma queda normal de preços, quando na realidade, esse movimento é simplesmente aleatório.
Por que os investidores ficam comprando e vendendo ações?
A resposta é simples: lucro. A bolsa de valores está cheia de especuladores que procuram oportunidade na oscilação no preço das ações. A lógica deles é vender a ação a um preço maior do que o da compra. Os especuladores embolsam a diferença e em seguida procuram novas oportunidades.
Contudo, nem todos os investidores são assim, alguns deles não ligam para a oscilação de curto prazo. Esses são os Value Investors, ou investidores de valor, que se importam com os fundamentos da empresa a longo prazo. Eles compram ações de empresas sólidas que pagam bons dividendos.
Conclusão
O preço das ações na bolsa de valores pode variar por diversos fatores. Analisar cada um desses fatores pode levar tempo, requer qualificação, estudo e experiência de mercado. É por esse motivo que surgiram as casas de análise como Suno Research e Nord Research, que cobram mensalidade para vender análises de empresas. Essas empresas reúnem profissionais especializados para analisar ações de cada empresa listada na bolsa de valores.
Espero que esse texto tenta te ajudado a entender, de forma bem introdutória, o motivo das oscilações de preços de empresas na bolsa de valores.
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