Não é pegadinha ou coisa do tipo. No futuro, você verá sua conta com muitos dígitos. O problema é que você não vai conseguir comprar lá muita coisa com isso, porque no mesmo tempo em que você está “rico”, o preço das coisas que você compra também ficará “de luxo”.
O poder de compra do Real continua despencando, ainda mais frente ao dólar. Os brasileiros estão ficando mais pobres conforme o tempo vai passando. Ao menos é assim desde 2011, quando nossas commodities desvalorizaram e a nossa economia tomou um caminho mais difícil.
Mas há quem diga que não existe alta inflação no Brasil, porque o IPCA (índice de inflação) está sob controle. Tudo bem que existem vários índices de inflação para diferentes setores no país, mas ainda assim, eles não são capazes de mensurar na totalidade o quanto nosso dinheiro está ficando desvalorizado.
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A inflação invisível
O Brasil sofre de uma “inflação invisível”, aquela que está negligenciada nos índices, mas que traz péssimas consequências econômicas, especialmente para a parte da população que não é rica, isto é, a classe média e os pobres, que se distanciam ainda mais dos mais ricos. A classe média, aliás, é um termômetro para a situação social de qualquer país.
Entre 1994 e 2011, a classe média brasileira, acostumada a sofrer, viu seu poder de compra aumentar de maneira sem precedentes. Comprar imóvel e carro ficou mais fácil, viagens internacionais, boas escolas, comemorações, tudo isso estava mais barato de se custear. Geralmente, isso acontece quando um país vai bem e valoriza sua moeda.
Hoje, vemos um crescimento na geração “canguru”. Filhos ficando mais tempo na casa dos pais e a classe média perdendo espaço. Um dos causadores desses sintomas é o Real, que perdeu mais de 83,25% de seu poder de compra. O rendimento dos filhos não está sendo suficiente para bancar os custos, o que abre também debate para a desigualdade entre gerações da mesma família.
Desta forma, os R$ 100 enchem menos o tanque de gasolina e o carrinho de mercado. Aluguéis, imóveis, custo de vida e preço dos ativos financeiros foram na contramão e também subiram bastante.
Os imóveis tiveram uma rentabilidade média de 1781%. Quem investiu R$ 100 mil cerca de 20 anos atrás está com um patrimônio de R$ 1.781.000. O ouro, prata e ações também tiveram uma valorização consistente no período.
Classe média em apuros
Nos últimos 10 anos, não só a bolsa subiu, mas o preço de quase tudo também: terreno, ouro, prata, bitcoin, dólar, preço do carro, eletrodomésticos e eletrônicos. A única coisa que caiu foi o poder de compra da classe média. E esse movimento não aconteceu só no Brasil, ele já vem de muito tempo nos Estados Unidos também.
Os governos estão usando os bancos centrais para imprimirem dinheiro como nunca antes na história, mas esse dinheiro não vai para a “economia real”. A Teoria Moderna Monetária ganhou um grande espaço depois da crise de 2008, e ela defende que não há problema em emissão de dinheiro, porque um país que emite dívida na própria moeda jamais poderá quebrar.
Enquanto isso, vemos Japão, União Europeia e Estados Unidos tornando suas dívidas praticamente “impagáveis”, enquanto o preço dos ativos fora dos “radares” dos índices de inflação está subindo.
Por isso, o IPCA (Índice referência para Inflação) e outros índices, deverão ficar “sob controle”, embora não reflita a realidade da inflação. Porque ele é apenas uma medida da variação do preço de uma pequena cesta de bens de consumo de uma família, ele não engloba outras nuances da economia.
Com o dinheiro novo “em circulação”, os bancos centrais compram títulos do Tesouro Direto e outros ativos, forçando a queda na taxa de juros. Para os poupadores, não há mais onde colocar dinheiro com juros baixíssimos ou taxa de juros negativas. Então eles assumem maiores riscos e vão para o mercado de ações.
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De forma mais didática: as pessoas da classe média que não se adaptarem e defenderem seu patrimônio vão ver seu poder aquisitivo despencar. Picanha com Heineken vai virar Bola da Pá com Antártica, viagem para Disney vai virar viagem para o Beto Carrero. O PS5 vai ter que esperar… e por aí vai.
Essa defesa pode ser feita com diversos investimentos em ativos reais: ações, imóveis, ouro, prata, bitcoin e qualquer outro ativo que o governo não possa imprimir deliberadamente. Chegou a hora de sair da zona de conforto e aprender a cuidar do seu dinheiro e diversificar investimentos.
A não se que estas pessoas se embriaguem no crédito e gastem mais do que podem. E aí quando o crédito seca, o que sobra é tristeza.