Texto publicado originalmente em inglês em Reuters. Escrito por Allison Lampert e Jamie Freed
Com a indústria das companhias aéreas afundando, fretes aéreos estão voando alto como um dos únicos aviões ainda cruzando os céus durante a crise global do coronavírus.
Enquanto os caminhões aéreos faziam fretes por margens pequenas de lucro, as companhias aéreas fazem propagandas para turistas e pessoas em viagem à trabalho. Mas, com esses clientes presos ao chão, elas estão correndo para transformar os aviões de passageiros em transporte de carga temporários.
Metade das cargas normalmente viaja no bagageiro dos aviões de passageiros ao invés de fretados dedicados à isso. Mas o impedimento de dois terços da frota do mundo, causou uma corrida por aviões de carga para transportar suprimentos médicos e outros mercadorias.
Companhias aéreas sobrecarregadas com o custo das aeronaves não utilizadas estão tentando modificar os interiores das cabines para se ajustar à nova realidade. E isso está causando uma demanda não esperada para empresas de manutenção de aviões, que estão sem seu trabalho normal de manutenção dos voos de passageiros.
Lufthansa, Canada’s Avianor, Hong Kong’s HAECO Group e Akka estão entre as companhias aéreas que estão retirando seus acentos ou adicionando redes e equipamentos de depósito nas cabines para transportar cargas ao invés de passageiros.
“Nós temos uma ótima demanda. Temos mais de 40 companhias aéreas fazendo orçamentos” afirma Weinreich, gerente de produto na Lufthansa, que já converteu 18 aviões para várias transportadoras e espera modificar mais 100.
A Austrian Airlines, da Lufthansa, começou a remover a maioria de seus assentos em aviões 777, enquanto a polonesa LOT e a Delta Air Lines também estão estudando a alteração para fretados.
Enquanto a Freight Investor Services (empresa internacional de fretes) disse que os fretes entre China e EUA cresceram em 22% na última semana pela necessidade de EPIs, a demanda por transporte de carga foi inconsistente no passado. E a perspectiva pelas modificações são incertas no meio da pandemia.
“Nós temos visto um aumento dos fretes no último mês… mas nós estamos à beira de uma crise global e o padrão normal de uma recessão deve começar a se instaurar” diz Stuart Hatcher, COO do grupo IBA.
Mindset de transporte de carga
A Avianor, empresa especializada em manutenção e cabines, disse que a demanda da Air Canada ajudou a superar a baixa, enquanto a Airbus criou um esquema de transformar cabines em baías temporárias para pallets.
Mais de 20 transportadoras estão estudando planos para realizar fretes por um tempo usando aviões A330 e A350.
Isso é uma mudança de pensamento para as companhias aéreas, que focam obsessivamente em layouts de cabines para promover suas marcas focadas no consumidor final.
Alguns Boeing 737 operados por especialistas da ASL(holding da avião) permitiram alterações rápidas de 20 minutos, retirando fileiras de assentos por uma porta lateral para permitir que passageiros voem durante o dia e o avião transporte carga à noite.
Jatos mais novos tendem a ser otimizados para serviços de passageiros e precisam de uma semana para prepará-los para carga. A crescente demanda pelas alterações nos aviões levou a uma petição global por legislação das autoridades.
HAECO (empresa de engenharia focada em aviação) afirma que seus produtos permitem tanto transporte de passageiros como de carga, argumentando que poderia ajudar no isolamento. Bjorn Fehrm, analista da Leeham diz que isso pode continuar fazendo sentido mesmo depois da crise.
A Associação Internacional de Transportes Aéreos não vê isso como uma operação normal. Os reguladores afirmam que cabines para passageiros não foram projetadas para cargas e uma permissão especial temporária precisa ser pedida.
A Akka está ajudando a ATR (empresa de transporte regional via aviação) a transformar turboélices em veículos para equipamentos médicos. Também está trabalhando em aviões aprovados pelos reguladores para A330 e Boeing 777.
“Por enquanto, isso vai gerar negócios para empresas de engenharia como a gente. No médio prazo, a demanda vai demorar a se recuperar”, diz Charles Champion, membro do conselho, e ex-engenheiro da Airbus.
A alteração das cabines não vai suprir inteiramente a crise causada pelas demissões em massa e forçou as companhias aéreas a buscarem ajuda. Mas geraram alguma demanda, afirma o gerente de modificações Henning Jochmann, da Lufthansa.
“Isso não vai salvar nossas vidas… mas fazemos o que temos que fazer”.
Reportagem escrita por Allison Lampert em Montreal, Jamie Freed em Sydney e Tim Hepher em Paris. Informações adicionais por Julie Rimbert em Toulouse, Edição de Alexander Smith e Ken Ferris.
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